“Esta ponte foi essencialmente um trabalho de engenheiros. Salazar não foi muito interveniente na construção da ponte”, assegurou o arquiteto e autor do recente livro “A Ponte Inevitável”, Luís F. Rodrigues.

A desempenhar o cargo de chefe de Governo, entre 1932 e 1968, António de Oliveira Salazar chegou a opor-se à construção de uma ponte sobre o Tejo, devido ao elevado custo — “cerca de dois milhões de contos” (dez milhões de euros) -, mas acabou por ceder, uma vez que o investimento era “essencialmente financiado pela banca estrangeira”.

“Na realidade, Salazar queria construir a ponte, mas não queria contradizer a sua ortodoxia financeira de grande contenção de custos”, disse à agência Lusa Luís F. Rodrigues, explicando que o ditador “deixou fluir o projeto, mas não quis ser ele a decidir que esta ponte seria construída”.

De acordo com o arquiteto, os grandes impulsionadores da obra foram, à época, a nível político, o ministro das Obras Públicas, engenheiro Arantes e Oliveira e, a nível técnico, o engenheiro Canto Moniz, que acompanhou o trabalho do Gabinete da Ponte Sobre o Tejo.

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“Temos a ideia de que a Ponte 25 de Abril foi uma obra em que o Estado Novo estava permanentemente a ditar ordens, a impor soluções, mas na realidade isso não aconteceu”, reforçou Luís F. Rodrigues, sublinhando que foi uma obra essencialmente técnica, a cargo de engenheiros, operários, pintores e eletricistas.

Para o historiador António Costa Pinto, a ponte sobre o Tejo representa “a modernização de Portugal nos finais dos anos 50, início dos anos 60” do século passado.

“Até aos anos 50 e, sobretudo, porque o Estado Novo foi um regime político que prezava muito o equilíbrio orçamental, a possibilidade de uma obra deste género foi sempre dificultada”, reconheceu o historiador, pelo que a construção da ponte sobre o Tejo se tornou “um projeto extremamente tardio”.

Dedicada a Deus e a… Salazar

Apesar da ausência de intervenção política na realização da obra, o dia da inauguração da ponte, a 06 de agosto de 1966, foi marcado pela presença da “trilogia do regime de Salazar – Deus, Pátria, Autoridade”, afirmou o historiador, contando que, na cerimónia, o cardeal patriarca dedicou a Deus a inauguração da obra, assim como, por graça de Deus, a dedicou a Salazar.

Desde o início da construção, a 5 de novembro de 1962, que a ponte se designava como Ponte Sobre o Tejo, no entanto, na altura da inauguração, “abre-se uma placa como Ponte Salazar”, adotando oficialmente o nome do ditador, recordou António Costa Pinto.

Apesar desse momento histórico na inauguração da infraestrutura, “a designação de Ponte Sobre o Tejo era utilizada pela grande maioria dos portugueses e não Ponte Salazar, até ao 25 de Abril” de 1974.

Depois da Revolução dos Cravos, que pôs fim ao regime do Estado Novo, vários populares propuseram “imediatamente” a retirada do nome do ditador Salazar, substituindo-o por Ponte 25 de Abril.

“A seguir ao 25 de Abril, dada a dinâmica da transição para a democracia, a maior parte dos nomes associados à ditadura na toponímia foram eliminados e, evidentemente, a Ponte Sobre o Tejo era a marca de Salazar”, frisou.

Na obra “A Ponte Inevitável”, Luís F. Rodrigues explica que Salazar não pretendia que a ponte tivesse o seu nome, mas, “por iniciativa do ministro das Obras Públicas, engenheiro Arantes e Oliveira, corroborado pelo Presidente da República, Américo Thomaz, Salazar foi um pouco pressionado, por estranho que pareça, para aceitar a denominação de Ponte Salazar”.

A ponte cumpre a 6 de agosto meio século de existência a unir as cidades de Almada e Lisboa.