O nadador paralímpico brasileiro Clodoaldo Silva acendeu na quarta-feira a pira paralímpica, no final de uma cerimónia cheia de samba e empenhada em desconstruir preconceitos e exaltar a superação, que abriu os Jogos Paralímpicos Rio 2016.
Com o Brasil em convulsão política, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comité Organizador dos Jogos Paralímpicos, foi o protagonista “acidental” do único momento que não estava programado, quando uma vaia monumental o obrigou a interromper durante alguns minutos o discurso, na altura em que agradecia os apoios dos governos central e federal aos Jogos.
O espetáculo dividido em 10 capítulos, ao qual assistiu o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, pretendeu ser um convite a que cada um saiba acolher os seus erros e virtudes, altos e baixos, certezas e incertezas.
Através de um vídeo protagonizado por Philip Craven, presidente do Comité Paralímpico Internacional (IPC), que “acelerou” até ao Brasil, todos foram convidados a mudarem a sua visão e a olhar o mundo como se estivessem numa cadeira de rodas.
O filme começou em Stoke Mandeville, onde em 1946 nasceu o movimento paralímpico, e terminou com a entrada discreta de Sir Philip Craven no estádio do Maracanã, abafada pela entrada triunfal de Aaron Wheelz, um atleta norte-americano de desporto radical, que desceu em cadeira de rodas e a alta velocidade uma mega rampa.
Naturalmente, o Brasil, o primeiro país da América Sul a acolher Jogos Olímpicos e Paralímpicos, quis, e conseguiu, mostrar muito da sua cultura, começando com uma roda de samba, ao som do pandeiro de Pedrinho, de apenas sete anos, que terminou com uma “invasão” de um bailado com cadeiras de rodas e bicicletas.
This is the moment we've been waiting for! Clodoaldo Silva lights the #ParalympicFlame at the #Rio2016 #Paralympics https://t.co/jkKGcsnoRU
— Paralympic Games (@Paralympics) September 8, 2016
A “fotografia” do Brasil alegre e multicultural continuou, e depois da projeção de um mergulho de Daniel Dias, um nadador paralímpico brasileiro, o Maracanã transformou-se numa praia cheia de diversidade, com surfistas, banhistas, vendedores de biquínis e deficientes, entre outros figuras habituais nas areias cariocas.
O espaço de mar e areia improvisado em todo o espaço habitualmente ocupado pelo relvado, acabou por se transformar numa praia inclusiva, na qual todos juntos gozaram um simulado pôr-do-sol da ‘Cidade Maravilhosa’, ao som da “eternizada” frase da música “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil: “O Rio de Janeiro continua lindo”.
Num momento mais formal, entrou em cena a bandeira do Brasil, país que na quarta-feira “parou” para um feriado que comemorou 194 anos de independência em relação a Portugal.
Num dos momentos sempre mais esperados e coloridos das cerimónias de abertura começaram a entrar em cena os cerca de 4.350 atletas, de 164 países, entre os quais 37 portugueses, num desfile aberto por uma inédita delegação de atletas refugiados.
https://twitter.com/Rio2016/status/773690814765694977
José Macedo, o atleta de boccia que conquistou duas medalhas nos Jogos Londres2012, foi o porta-estandarte da delegação portuguesa, a mais aplaudida pelos cerca de 78.000 que lotaram o Maracanã, naturalmente atrás dos anfitriões, que fecharam o desfile ao som “O Homem falou”, garantindo que “a festa vai apenas começar” e pedindo: “deixa a tristeza para lá”.
Cada uma das delegações colocou no centro do imenso palco uma peça de puzzle com o seu nome de um lado e fotografias de atletas do outro, que no final formou um coração humano, que começou a bater a um som ritmado, prontamente acompanhado pelas palmas do público e por um show de luzes.
As 23 modalidades que integram o programa dos Jogos Paralímpicos foram sendo apresentadas, de uma forma original e acompanhadas por várias ‘perfomances’ musicais para depois os três Ágitos – o equivalente paralímpico aos anéis olímpicos -, se formarem no centro da festa.
https://twitter.com/rio2016_es/status/773677441390870529
O nadador brasileiro Phelipe Rodrigues, a árbitra de boccia Raquel Daffre de Arrouxellas e o treinador Amaury Veríssimo representaram todos os participantes nos Jogos, que terminam a 18 de setembro, nos habituais juramentos que se seguem ao hastear da bandeira paralímpica.
A tocha paralímpica mostrou-se através de um vídeo, passando depois, já dentro do estádio pelas mãos de três grandes figuras paralímpicas brasileiras, antes de chegar às mãos de Clodoaldo Silva.
Com o Maracanã “envolvido” num espetáculo de luz, o nadador paralímpico brasileiro mais medalhado de sempre acendeu a chama, com Seu Jorge a cantar ao vivo uma música original de Roberto Carlos.
O tema “É preciso saber viver” fechou o espetáculo, que durou pouco mais de três horas e no final foi “abençoado” com chuva.