Alessandro Zanardi não tem medo de velocidade. Com uma carreira no automobilismo, o italiano fez quatro temporadas na Fórmula 1 (entre 1991 e 1994) e um bicampeonato (em 1997 e 1998) na CART Championship — a principal categoria americana de monopostos. Foi em 2001 que tudo mudou. Corria no circuito de Lausitz, na Alemanha, quando um acidente lhe roubou as duas pernas.

Esta quinta-feira, exatamente 15 anos anos após o fatídico dia, Zanardi reencontrou-se com a glória da vitória pela velocidade. Conquistou a medalha de prata no ciclismo de estrada classe H5 (para atletas com dificuldade no uso das pernas para impulsionar a bicicleta ou triciclo) nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. “15 anos atrás eu renasci. Medalha de prata no meu aniversário, nada mal”, disse Zanardi, citado pela ESPN. Esta foi a segunda medalha do italiano na competição. Na quarta-feira, ganhou a medalha de ouro no contrarrelógio categoria H5.

A vitória de Zanardi no dia do aniversário do seu acidente também foi lembrada pelo primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. Durante um evento na cidade de Modena, disse que o ex-piloto está a “iluminar” o Rio de Janeiro.

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“Nestas horas, uma pessoa da vossa região está a iluminar o Rio de Janeiro: Alex Zanardi. A ele e a outros [atletas], como Beatrice ‘Bebe’ Vio [esgrimista], eu gostaria que chegasse o nosso abraço”, disse.

Zanardi começou carreira em categorias de base no automobilismo europeu. Após uma boa temporada na Fórmula 3000, em 1991, foi convidado para correr, ainda naquele ano, as três últimas corridas da Fórmula 1, pela equipa Jordan. A partir daí, teve passagens pela Minardi e Lotus, obtendo como melhor resultado um sexto lugar no Grande Prémio do Brasil, em 1993.

Em 1995, foi aos Estados Unidos, onde conquistou as primeiras vitórias na CART Championship. O bicampeonato veio pela equipa Ganassi, em 1997 e 1998. Os bons resultados no automobilismo americano renderam-lhe um convite para regressar à Fórmula 1, em 1999, pela equipa Williams, mas o baixo rendimento do carro não lhe permitiu pontuar em toda a temporada.

Em 2001, voltou à CART Championship com a expectativa de repetir o sucesso da sua primeira passagem pela categoria. Na corrida de Lausitz, estava a disputar a vitória, a 13 voltas do fim da prova, quando teve de fazer um pit stop. Na saída, perdeu o controlo do carro e foi atingido por Alex Tagliani, que vinha em alta velocidade.

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O acidente, que custou-lhe as duas pernas, não representou o fim da sua carreira no automobilismo. Um ano depois, voltou a Lausitz para completar as 13 voltas que faltavam para completar a corrida. Em seguida, participou de provas do Campeonato Europeu de Turismo e no WTCC, o campeonato mundial da categoria, num carro adaptado, com um desenho proposto pelo próprio piloto.

O italiano estreou-se no desporto paralímpico em 2007, quando terminou no quarto lugar a competição de bicicletas de mão na Maratona de Nova Iorque. Três anos depois, venceu a corrida e conseguiu uma série de bons resultados, com os quais obteve a classificação para os Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012. Na capital inglesa, conseguiu as suas primeiras conquistas olímpicas, com as medalhas de ouro no contrarrelógio e prova de estrada, ambos na categoria H4 (para atletas que tiveram a perda da função das pernas, mas têm controlo do tronco e dos braços), e a medalha de prata na prova por equipas.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, relembrou o seu renascimento como atleta paralímpico. “Antes do acidente, perguntava-me o que faria se algo assim acontecesse. A resposta que me dava era que ia matar-me. Mas, quando aconteceu comigo, isso não me veio à cabeça. Estava muito feliz de estar vivo. Sabia que o pior já tinha passado. Fui reanimado sete vezes, fiquei sem sangue. De acordo com a ciência, eu não tinha nenhuma chance de sobreviver, mas aqui estou”, disse numa conferência de imprensa, este domingo.