Lisboa volta a estar no coração de uma história de espiões. Durante a Segunda Guerra Mundial os aliados contavam com um catalão que trabalhava como agente duplo, distorcendo e manipulando informações para os alemães. Esse trabalho começou-o na capital portuguesa. As coisas estavam bem encaminhadas para enganar os germânicos sobre o local do desembarque do Dia D, mas haveria um contratempo…

A história foi divulgada esta quarta-feira pelo Arquivo Nacional do Reino Unido, que disponibilizou 137 documentos confidenciais dos serviços secretos. Já em Inglaterra, o tal catalão que passava informações erradas ao inimigo, conhecido no MI5 por “Garbo”, teve de inventar um plano para contornar as preocupações e intransigências da sua mulher, Araceli, que teve problemas em adaptar-se à vida caseira nos subúrbios de Londres. E tudo porque a espanhola tinha saudades de casa e ameaçou desvendar tudo, tudo, se não pudesse visitar a sua mãe em Espanha.

A espanhola chegou a dizer a Tomas Harris, o elemento do MI5 que supervisionava o seu marido, que não queria viver mais com Pujol, conta o The Telegraph. “Mesmo que me matem, eu vou à embaixada espanhola”, disse então, em junho de 1943, segundo os documentos que agora viram a luz do dia. Ir a Espanha era impossível, por isso Harris sugeriu que se dissesse a Araceli que o seu marido tinha sido despedido.

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Pujol decidiu ir mais longe. Com o consentimento do MI5, Araceli recebeu a notícia de que Pujol havia sido detido, depois de uma discussão violenta que armou graças ao tratamento dado à sua mulher. No dia seguinte, a senhora Pujol foi levada até a um centro de interrogatório do MI5, em Londres, onde se encontrou com o seu marido, que estava descuidado, com barba por fazer e com a vestimenta do centro.

A reunião culminou com uma promessa de Araceli: se o marido fosse libertado, ajudá-lo-ia mais do que nunca. Mais: ela confessou que nunca teve em mente ir, de facto, à embaixada de Espanha; queria apenas ir a casa.

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O casal, que vivia em Londres desde 1942, altura em que Pujol foi recrutado pelos britânicos (disfarce: tradutor da BBC), voltou a estar em sintonia. Segundo os documentos hoje revelados, aqui citados pelo ABC, o catalão “tinha um estilo simples e animado”. Foi “engenhosa”, escreveu Harris, a forma como o espanhol montou aquela trama para enganar a sua mulher, impedindo assim que vacilasse um plano vital para o desfecho da Segunda Guerra Mundial.

Harris tentou depois infiltrar Pujol nos serviços secretos russos, mas o feitiço virou-se contra o feiticeiro. “Garbo” simulou a sua morte em Angola e começou tudo de novo na Venezuela, onde morreria em 1988. Araceli morreria em Madrid, em 1990.

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