A Turkish Airlines vai cortar a oferta, em resposta à queda de procura sofrida este ano, após os atos terroristas que abalaram o país este ano, mas sobretudo por causa do efeito do golpe de Estado falhado do dia 15 de julho.

A transportadora turca anunciou uma redução de cerca de 100 frequências, sobretudo para o mercado europeu, mas também para os Estados Unidos, a partir do final de outubro, o que coincide com o Inverno IATA, época do ano em que o tráfego é menor.

Ainda que parte do ajustamento seja sazonal, O presidente da empresa, Ilker Avci, assume que o ano de 2016 será um dos piores para a companhia que está habituada a crescer dois dígitos por ano e é uma das mais lucrativas a nível mundial.

A Turkish teve de ajustar a capacidade e a estrutura de custos — em Portugal o número de ligações semanal será reduzido de 14 para 10 em Lisboa e de sete para cinco no Porto — mas tem um plano de recuperação em marcha e quer voltar a crescer acima das concorrentes já no próximo ano, adiantou o gestor.

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O discurso político do presidente da Turkish Airlines

“Todas as organizações terroristas atacaram a Turquia este ano”, afirmou Ilker Avci num encontro realizado esta quinta-feira em Istambul com jornalistas europeus. “Espero que agora não sejamos atacados por aliens“.

O presidente da Turkish Airlines citou o Estado Islâmico, o PKK (partido que luta pela independência dos curdos), mas o principal alvo do seu discurso foi o movimento FETO. A sigla é usada pelo regime turco para descrever como terrorista o movimento associado ao Iman Fetullah Gullen, que é acusado de estar por trás da tentativa falhada de golpe de Estado. A tese foi defendida pelo presidente da Turkish Airlines de forma “apaixonada” numa intervenção inicial numa conferência de imprensa com jornalistas do sul da Europa.

O presidente da empresa, onde o Estado turco é o maior acionista com 49% do capital (o resto estão disperso em bolsa), fez um discurso político de cerca de uma hora em turco que teve como finalidade sensibilizar os jornalistas estrangeiros, “pessoas influentes” nos seus países, para a necessidade de explicar aos parceiros e amigos ocidentais da Turquia o que se passou no país no dia 15 de julho, uma realidade “difícil de perceber para pessoas com formação ocidental”, disse.

O presidente da companhia defendeu a tese oficial do governo turco contra o movimento criado pelo líder religioso que vive nos Estados Unidos, no estado da Pensilvânia, ” num palácio maior que o do presidente turco”. Acusou a organização de Fetullah Gullen de ter alimentado uma “estrutura sombra” em várias áreas do Estado e da economia turca cujo principal objetivo é capturar o poder, “destruindo o governo legítimo e eleito democraticamente. E foi isso que levou as pessoas a irem para a rua e lutarem pela democracia”, disse.

Começaram por ser um movimento religioso, de filantropos, e com grande presença na educação, “mas querem ter poder económico, através do controlo de várias empresas, para assumir o poder político e tomar conta do país”, afirmou o gestor que assumiu estar, antes de mais a falar como turco.

Devia estar a mostrar o que estamos a fazer como companhia aérea, focar-me no que podemos fazer para melhorar a nossa oferta, mas sou turco e vivo na Turquia. Tenho o dever de fazer tudo o que posso para contar os factos e toda a verdade. “

Ilker Avci acusou o movimento de Gullen de influenciar a opinião pública nos Estados Unidos e no Ocidente e deixou um aviso aos parceiros, lembrando os recursos humanos e financeiros que este movimento terá em vários países. “Não consigo imaginar o que podem fazer com a dimensão que atingiram”, acusando ainda a organização de promover uma “campanha negra” contra o governo turco a nível internacional, com especial eco na opinião pública ocidental.

“Estou a avisar-vos como amigo para estarem preparados. A luta ainda não terminou. Talvez seja difícil de acreditarem no que eu digo, mas vão ver o que vai acontecer noutros países e vão por as peças no puzzle. ”

Ilker Avic criticou ainda alguns países europeus pela reação à resposta turca ao golpe de Estado e acusou a Europa de ter mudado de opinião sobre a adesão da Turquia à União Europeias, sem esquecer a referencia aos mais de três milhões de refugiados que o país acolhe na sequência do conflito sírio. Reforçando o lado europeu da Turquia, sugeriu que a entrada do país podia compensar o Brexit.

O discurso do presidente da Turkish Airlines, talvez a mais conhecida empresa turca e um caso de sucesso na aviação internacional, tem como pano de fundo uma crise profunda no setor do turismo da Turquia, que terá perdido mais de 30% dos turistas estrangeiros este ano. A queda começou logo no início do ano, com os primeiros atentados em Istambul, mas agravou-se de forma acentuada após o atentado contra o governo de Erdogan.

A queda é visível na ausência inédita de filas para visitar os monumentos mais emblemáticos da cidade como a Mesquita Azul ou a Hagia Sophia. Houve muitos cancelamentos depois do atentado e da resposta forte do regime no poder, que terá já afastado mais de 40 mil funcionários do Estado por alegadas ligações à organização de Gullen. Os turistas tiveram receio que se repetisse um quadro comparável do do Egito após a Primavera Árabe, admite um operador turístico que descreve 2016 como o pior ano para o setor da última década.

E vão voltar? O presidente da Turkish Airlines esta convicto que sim. ” O país está a voltar à normalidade muito depressa”, ainda que alguns políticos na Europa “talvez não percebam a democracia turca”.

Em resposta às perguntas dos jornalistas, diz que a companhia mantém a estratégia de longo prazo de expansão e acredita num regresso em 2017. “Acreditamos que os turistas alemães vão voltar” e o mercado russo também vai reanimar, depois de normalizadas as relações com o regime de Vladimir Putín, abaladas pelo ataque turco a um avião russo, no contexto do conflito da Síria. Rússia e Alemanha foram os países de origem onde se registaram as maiores quedas de procura.

Ilker Ayci admite repor alguma da capacidade que agora está está ser reduzida e acena com novos destinos de longo curso como Havana e Caracas e Seychelles e Hanói em duas regiões — América Latina e Extremo Oriente – são prioridades para a companhia.

O gestor lembrou ainda que estão em curso grandes investimentos no reforço de capacidade do aeroporto Ataturk que já é o terceiro maior da Europa.

A jornalista viajou a convite da Turkish Airlines