«Uma das minhas primeiras memórias é estar sentado aos ombros do meu avô, a acenar com uma bandeira enquanto os nossos astronautas regressavam ao Havai. Foi anos antes de irmos à Lua, décadas antes de pousarmos um Rover em Marte, e uma geração antes de aparecerem fotografias tiradas da nossa Estação Espacial Internacional nas nossas redes sociais».
Estas são as palavras que o presidente norte-americano, Barack Obama, pronunciou no passado mês de outubro numa crónica na CNN e que nos serve aqui de ponto de partida para a apresentação da nova série que o National Geographic Channel nos traz em novembro.
Narrativa ficcional de ação dramática, assente nos mais fantásticos efeitos visuais, a série «Marte» integra elementos documentais reais em seis episódios que contextualizam o sonho do Homem e a atualidade da ciência para nos contar uma história coesa e arrepiante sobre a incessante tentativa de colonizar Marte.
https://www.youtube.com/watch?v=qqB5iYkSGpk
O planeta mais pop do sistema solar
Tal como o presidente Obama, os espetadores irão ficar contagiados por esta odisseia que não deixa ninguém indiferente, sendo antes motivo de curiosidade, entusiasmo, apreensão e reflexão. Pois o que está em causa não é só a vida extraterrestre mas também a própria perpetuação da vida humana em Marte, algo que faz parte do imaginário coletivo do século XX.
A jornada para enviar humanos ao planeta vermelho tem vindo a ocupar as maiores mentes da ciência e infiltrou-se na cultura pop através de grandes êxitos de bilheteira, como The Martian, de Andy Weir, ou Marte Ataca!, de Tim Burton.
Mas chegou também à música, como o inesquecível e melancólico tema Life on Mars?, ao cabo da longa Space Oddity de um tal Major Tom cantado por David Bowie. Mas o evento mediático mais marcante do século passado, twilight zone à parte, terá sido a emissão radiofónica protagonizada por Orson Welles, em 1938, quando difundiu uma adaptação de «A Guerra dos Mundos», de H.G. Wells, levando os ouvintes a acreditarem na narração em direto de uma invasão marciana hostil da Terra.
No livro, como na emissão de Orson Welles, os seres extraterrestres eram provenientes do planeta Marte, que concentrava todas as probabilidades de possibilidade de vida fora da Terra, frequentemente materializada na existência dos homenzinhos verdes. Então, como agora.
Uma aliança entre a ficção e a realidade
Criada por Ron Howard e Brian Grazer, a nova série do National Geographic Channel mostra os obstáculos e sucessos reais da ciência moderna na conquista espacial, ao mesmo tempo que faz uma ante-visão dos primeiros passos da humanidade em Marte.
Esta mistura de ficção com realidade resulta numa aposta de sucesso de audiências, diz Ron Howard, produtor executivo. O ponto de partida desta narrativa é o ano 2033, data prevista para a primeira viagem tripulada a Marte.
À medida que elementos ficcionais dramáticos e efeitos visuais de calibre cinematográfico dão vida ao mundo no futuro, o estado da arte da ciência atual, documentada e assente em factos reais, dá ao espetador um manancial de informação que permite ter um ponto de vista bem fundamentado sobre as possibilidades de sucesso de alcançar o planeta vermelho.
Entrevistas com cientistas, líderes de empresas inovadoras e especialistas nas várias áreas que lideram a pesquisa e o desenvolvimento da tecnologia espacial trazem depoimentos credíveis relacionados com esta missão de 2033.
Os produtores executivos Ron Howard e Brian Grazer escolheram o cineasta mexicano Everardo Gout (Days of Grace) para realizar as partes dramáticas da série, gravadas no início deste ano em Budapeste e Marrocos.
O National Geographic Channel e os galardoados Brian Grazer, Ron Howard e Michael Rosenberg, da Imagine Entertainment, e os também premiados Justin Wilkes e Dave O’Connor, da RadicalMedia, juntaram forças para levar os espetadores do mundo inteiro numa viagem pelo espaço nunca antes vista no formato documental.
Com o avançar do tempo e do progresso científico, muito daquilo que era considerado devaneio há cinquenta anos foi-se tornando, em parte, realidade. Aquela que é a maior saga das viagens espaciais da humanidade está a atravessar uma batalha épica que já conseguiu levar os rovers Spirit e Opportunity em segurança até Marte.
Quando aterraram em Marte em 2004, esperava-se que permanecessem operacionais durante cerca de 90 dias. Alimentados pela luz solar, estes robots iriam certamente «morrer» congelados se conseguissem durar tempo suficiente para verem o primeiro inverno marciano, isto se não desligassem mais cedo devido à poeira que poderia cobrir os seus painéis solares, vedando-lhes o acesso à preciosa fonte de energia. No entanto, Spirit aguentou seis anos e Opportunity continua ativa, quase 13 anos depois.
Os registos que estes dois engenhos fizeram chegar à Terra abriram a fronteira espacial e deram início a uma nova era na exploração de Marte, testemunhando que, após muitos falhanços embaraçosos nos anos 1990, a missão da NASA ainda está longe de ter chegado ao fim. Pois esse fim é colocar o homem em Marte.
Mais do que uma série, uma odisseia
Por isso mesmo, não há por que não estar otimista ao olhar para o futuro. Quem deu o mote para esta reflexão foi novamente Barack Obama, no seu recente artigo de opinião: «Só no último ano, a NASA descobriu água corrente em Marte e provas da existência de gelo numa das luas de Júpiter, e ainda mapeámos Plutão». Mas esta aventura não pode ser levada a cabo apenas pela agência espacial norte-americana e conta com consórcios públicos de várias países e também com a participação de empresas privadas.
Porque não basta ir a Marte para ter sucesso, é precisar voltar, e em segurança. «Estou entusiasmado por anunciar que estamos a trabalhar com os nossos parceiros privados para construir novos habitats que possam manter e transportar os nossos astronautas em missões de longa duração no espaço profundo», esclareceu o presidente americano.
Recuperemos também a frase bandeira do canal National Geographic: «Quando os primeiros humanos aterrarem em Marte, o momento será mais significativo, em termos de tecnologia, filosofia, história e exploração, do que qualquer outro no passado, porque deixaremos de ser o “único” planeta habitável». Este é o mote para nos instalarmos diante do ecrã de televisão e assistirmos a esta nova expedição a Marte.
Com estreia simultânea em 171 países e 45 línguas diferentes, o National Geographic Channel traz-nos uma história de odisseia a Marte que se desenrola simultaneamente no futuro e no presente, na ficção e na realidade, na angústia e no prazer, prometendo, como é já habitual com as grandes produções do canal, fazer de uma série um verdadeiro acontecimento multidimensional.
Assim, a National Geographic irá expandir os conteúdos através de várias plataformas, com Before Mars, que já foi lançado online e é uma prequela da série Marte, disponível online, que conta a história de uma das personagens da equipa que vai a Marte.
Existe uma experiência de realidade virtual disponível no site mars.nationalgeographic.pt. Fora do ambiente virtual, em Nova Iorque, está patente a instalação Mars Experience, sendo que o planeta vermelho é o tema de capa da edição de novembro da revista National Geographic Magazine. Foram também lançados dois livros – «Mars: Our Future on the Red Planet» [Marte, o nosso futuro no planeta Vermelho] e a versão infanto-juvenil, «Marte: O Planeta Vermelho» – ambos à venda desde outubro.
Da série propriamente dita, ficam desde já desvendados os títulos dos três primeiros episódios que irão ser transmitidos ainda durante este mês – Marte, novo mundo; Marte, no solo; e Marte, queda de pressão – todos no mesmo horário: às 22h30 de domingo.
Mas será que, depois de assistirmos a Marte, poderemos olhar para os nossos filhos e dizer-lhes, como Barack Obama, que queremos ter os filhos deles às nossas cavalitas quando olharmos para o céu à espera do «regresso dos nossos exploradores intrépidos», mesmo sabendo que «foram para o espaço não apenas para visitar, mas para ficar». Estaremos nós preparados para um futuro próximo tão desconcertante?