O blogue anarquista Indymedia reinvindicou a autoria dos atos de vandalismo ocorridos no restaurante de José Avillez na noite de sexta-feira para sábado. “O vermelho que escorre no vidro é o sangue que Avillez avilta com a sua colaboração culinária. A cola que veda a fechadura é a fome provocada que Avillez quer gourmet. As ementas recheadas de realidade são a face visível de que ‘o destino das nações depende da forma como elas se alimentam”, pode ler-se na publicação.

De acordo com Face Oculta, o autor da publicação, o blogue tentou contactar o chef pedindo-lhe que não participasse num evento gastronómico em Israel (Round Tables Tour), que foi palco de vários protestos de organizações de direitos humanos.

O jornal Expresso avança que este blogue já estava na mira das autoridades portuguesas há vários anos e que o ataque em causa é do tipo antissemitista (preconceito contra judeus). O texto em causa foi publicado dia 18 de novembro, sexta-feira, no Porto, e intitula os atos de vandalismo de “ação direta”.

“Infelizmente, a ação indireta alimentada por cartas educadas a apelar para que Avillez não participasse – cartas divulgadas na imprensa dos monopólios ou em redes restritas – foi apenas uma entrada que o Chef rejeitou. E que não nos encheu os olhos, deixando um travo amargo nos nossos estômagos de poetas, que apenas um copo de ação direta – essa forma máxima de poesia – mitigará”.

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Apesar de não ter formalizado queixa, o incidente motivado politicamente, vai ser investigado pela PSP. Até ao momento não foi feita qualquer detenção. Ao que foi possível apurar junto de fonte policial apesar de não haver queixa, está-se perante um crime semi-público, dado o contexto do incidente que se relaciona, ao que tudo indica, com um ato de protesto, que resultou em danos. Por isso mesmo, e caso o Ministério Público venha a entender, a investigação poderá passar, inclusive, para a alçada da Polícia Judiciária.

Por agora, os outros espaços que pertencem ao grupo José Avillez – seis restaurantes em Lisboa -, estarão sob a atenção das forças de segurança.

Antes da partida do chef português para Israel, para participar no evento gastronómico, várias associações ligadas ao movimento BDS divulgaram um abaixo assinado com um apelo para que o chef José Avilez não participasse no evento de culinária, em Telavive. A organização SOS Racismo foi uma das signatárias do protesto internacional que juntou mais de 140 organizações de direitos humanos.

Apesar de se demarcar do ato criminoso, um dos rostos da SOS Racismo, José Falcão, não hesita em apoiar os ativistas, face ao que acontece diariamente em Israel. “Todos os dias os direitos humanos são vilipendiados nesse país e agora por uma montra pintada há tanta discussão”, lamentou o líder da organização. Para José Falcão a participação de José Avillez no Round Tables foi “escandalosa” e que a poderia ter evitado, numa tomada de posição contra o regime israelita que ” tem desrespeitado todas as recomendações da ONU”. Sobre o facto de o chef não ter apresentado queixa, atirou: ” Deve estar com problemas de consciência”.

José Falcão é militante do Bloco de Esquerda, mas o partido demarcou-se de comentários sobre o caso. Também o PCP, partido vincadamente pró-Palestina, optou por não comentar o incidente quando questionado pelo Observador.