O departamento de estudos económicos e financeiros do BPI considera que as perspetivas económicas a médio e longo prazo para Moçambique são positivas, apesar do momento complicado que o país atravessa devido à crise da dívida.

“Apesar das perspectivas de curto prazo revelarem sinais de abrandamento, o médio e longo prazo mantém-se favorável”, disse a analista que no BPI acompanha a economia moçambicana.

Em entrevista à Lusa, Vânia Duarte explicou que o país “enfrenta uma situação complicada atualmente, que resulta fundamentalmente da quebra do ciclo virtuoso de confiança que alimentava a relação entre o país e as instituições internacionais e os países doadores”.

Em abril, o Governo de Moçambique admitiu a existência de cerca de 1,6 mil milhões de dólares em dívidas escondidas dos parceiros internacionais e mantidas à margem das contas públicas, o que motivou a suspensão dos apoios financeiros internacionais e a desconfiança dos doadores.

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Esta quebra de confiança torna-se mais problemática devido à importância destes fluxos para o fornecimento de divisas internacionais, uma vez que “a sua interrupção ou a sua quebra têm como consequências a indisponibilidade de divisas para fazer face aos pagamentos internacionais, com reflexo na redução de importações, menor disponibilidade de bens no mercado interno e o seu respectivo encarecimento, para além dos impactos ao longo de toda a cadeia produtiva”.

Antecipando um “baixo crescimento” económico para este e para o próximo ano, a equipa de estudos do BPI, liderada pela economista-chefe, Paula Carvalho, sublinha que “o desempenho dos mercados internacionais das matérias-primas também poderá ditar a evolução da actividade, nomeadamente do investimento direto estrangeiro no país”.

Para além disso, são também fatores importantes “a tensão político-militar no país e que dificulta a circulação normal de bens e serviços, e a recuperação das produções agrícolas afetadas este ano pelas condições climatéricas adversas”.

Apesar das dificuldades, o departamento de estudos económico-financeiros mantém um olhar positivo sobre o país: “Apesar das perspectivas de curto prazo revelarem sinais de abrandamento, o médio/longo prazo mantém-se favorável, tendo em conta as expectativas relativas ao desenvolvimento dos projectos de gás natural na bacia do Rovuma e o potencial que isso trará ao país, em complemento com o potencial agrícola e a riqueza existente ao nível de outros recursos naturais, incluindo o carvão”, diz Vânia Duarte.