“Isto de ser inovador e empreendedor não é só uma questão de ter recursos, capital, incubadoras ou laboratórios. Não é apenas uma questão de ser competente na área tecnológica. É acima de tudo uma questão de atitude e de paixão.” As palavras são de Carlos Brito, pró reitor da Universidade do Porto (UP) para a Inovação e Empreendedorismo, que abriu a segunda edição da Gala da Inovação da UP, na quarta-feira, no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto.

O Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), principal plataforma de transferência de conhecimento entre a universidade e o mercado, acolhe, atualmente, 194 empresas e projetos empresariais, tem associadas 51 empresas graduadas, isto é, “empresas que apresentam conteúdos de inovação, prestam serviço de valor acrescentado, tem potencial de internacionalização e envolvem recursos humanos altamente especializados”, explicou o reitor Feyo de Azevedo. A UP possui 183 patentes nacionais e internacionais ativas das quais 20 se encontram licenciadas.

E os números não enganam. O trabalho do UPTEC tem um impacto estimado de mais de 80 milhões de euros no PIB, gera receitas fiscais superiores a 16 milhões de euros e volumes de exportação na ordem dos 22 milhões de euros. E emprega 2.200 pessoas, na sua maioria altamente qualificadas nos seus quatro pólos: Tecnológico, Biotecnologia, Mar e Indústrias criativas.

Ser herói num videojogo

Avatares digitais 3D? Sim, é possível. Há uma equipa de investigadores na UP que está a desenvolver uma tecnologia pioneira no mundo a partir de uma fotografia tirada com o telemóvel. A ideia é que possa aparecer num jogo de vídeo ou ser o protagonista de um filme sem sair do lugar em que está.

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A aplicação que está a ser desenvolvida pela startup Didimo, em parceria com a Gema Digital, empresa que desenvolve aplicações e jogos interativos, salas imersivas, hologramas, realidade virtual para eventos e museus, venceu a primeira edição do iUP25k, o Concurso de Ideias de Negócio da UP.

Cada pessoa pode ter a sua identidade virtual. “É dar a possibilidade a qualquer pessoa de criar o seu avatar 3D, o seu didimo, e poder ser o herói num videojogo. Tu não és mais a personagem que vem por default no jogo que compras. Tu podes jogar contigo próprio, podes fazer a tua equipa e ver os teus próprios amigos dentro do jogo”, explica Verónica Orvalho, professora na FCUP, e uma das responsáveis do projeto.

A aplicação está a ser preparada para o entretenimento mas pode ser aplicada noutras áreas como a realidade virtual, a medicina, o desporto ou o retalho. Na área médica, por exemplo, pode ajudar crianças com autismo, pessoas com limitações na audição ou fala ou até facilitar a aprendizagem.

“Não seria genial ter uma aplicação para quando o professor está a dar a aula ter ali um avatar 3D que está a fazer linguagem gestual e está automaticamente a reproduzir o que ele está a falar para uma pessoa que não consegue ouvir? Ou para alguém que não consegue falar, conseguir em tempo real escrever o que quer dizer e a personagem virtual traduzir?”, questiona a investigadora. Estas são algumas das aplicações “infinitas” que a tecnologia desenvolvida pela Didimo possibilita.

A startup reuniu já investimento de business angels e da aceleradora TechStars e a previsão é de que seja lançada ainda no final deste ano. Neste momento, a Didimo está já a fechar parcerias com empresas internacionais (Estados Unidos, Reino Unido) para que sejam canais de distribuição da tecnologia e, tal como a Gema, possam utilizar a tecnologia dentro das suas aplicações, por exemplo para criar concertos dentro da área da realidade virtual.

O “território de puro escangalho”

“É consensual a importância da criatividade, não apenas como faculdade intelectual e artística mas também enquanto como fator diferenciador no sector empresarial. O talento criativo geras boas ideias e as boas ideias transformam-se em bens ou serviços que dependendo do seu caráter inovador revelam competitividade nos mercados”, afirmou o reitor da UP.

Mas a universidade não se deve ficar apenas pelo relacionamento com o tecido económico. “Nós acreditamos que a criação de valor e a inovação não se resume à componente económica. Também tem uma componente social e até uma componente cultural”, alerta Carlos Brito.

Para assinalar a necessidade de se considerar a componente cultural, o escritor Valter Hugo Mãe foi um dos oradores da noite e assumiu a estranheza de estar junto de “pessoas de cabeça muito arrumada, muito estruturada”, quando vem de um “território de puro escangalho”, como é a literatura. “Compreendi que comecei a escrever por um certo ímpeto de empreendedorismo. Nunca tinha pensado nas coisas assim”, brincou.

Qual é a chave do sucesso? “O recurso mais importante é ter uma boa equipa de pessoas. O segundo recurso é uma boa rede de contactos e o terceiro é o capital, é smart money“, acredita Carlos Brito. Além dos recursos, “é preciso ter competências e técnicas de gestão”, acrescenta. Mas os recursos e as competências não chegam se não houver o ímpeto inicial: “a atitude e a paixão”, considera o pró reitor.

À semelhança da edição anterior, o evento teve também uma vertente solidária. O valor das entradas reverte para o Fundo de Ação Social da Universidade do Porto, destinado a apoiar os estudantes economicamente carenciados. No ano passado, a iniciativa reuniu um total de 5 mil euros. Apesar de ir só na segunda edição, a universidade quer continuar a reunir empresários, académicos, investigadores e investidores. É já uma”tradição”, diz o reitor da UP.

Editado por Ana Pimentel