A equipa de arqueologia responsável pelos trabalhos de diagnóstico na zona onde se supõe estarem vestígios da cidade romana de Balsa, na Luz de Tavira, no distrito de Faro, considera possível salvaguardar o património e fazer exploração agrícola.
Na Quinta da Torre D’Aires, onde se localizam os vestígios classificados da estação arqueológica romana da Luz – Balsa, no concelho de Tavira, técnicos estão a trabalhar no terreno para perceber se há vestígios que impeçam a empresa privada proprietária de montar estufas para fazer produção de frutos vermelhos.
A Lusexport viu a instalação das estufas ser embargada em 2015 pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve e foi instada por um parecer da Direção Regional de Cultura a realizar trabalhos arqueológicos para perceber até que ponto os vestígios podiam ser impeditivos dessa atividade agrícola, que durante cerca de um século se realizou no local sem qualquer preocupação com o património arqueológico.
Tiago Fraga, diretor da Archaeofactory, empresa contratada pela Lusexport para os trabalhos de arqueologia, explicou à agência Lusa que, até ao momento, foi sondado o terreno para detetar vestígios e os resultados preliminares revelaram a existência de uma área onde há estruturas enterradas.
“Os resultados iniciais e preliminares do trabalho indicam que existem indícios de estruturas coesas significativas em parte da Tore D’Aires e existem outras estruturas indeterminadas, de alto interesse científico, que temos de efetuar sondagens de diagnóstico para determinar e caracterizar”, afirmou o técnico, frisando que podem corresponder a estruturas da época romana, mas podem também ser “anteriores ou posteriores”.
Tiago Fraga disse que, “na zona ao pé da quinta, presume-se que haja estruturas ou urbanas ou industriais”, enquanto na zona mais longe da quinta e perto da ria Formosa pode haver “estruturas portuárias ou que tenham a ver com o transporte de água”, mas isso “só se confirmará, ou não”, na segunda fase dos trabalhos, prevista para o início do próximo ano.
O técnico disse, ainda, que há uma zona onde “já está autorizada a instalação das estufas” e que a profundidade a que são instalados os pés das estufas “não causa qualquer impacto negativo no património”, faltando determinar se noutra, onde estão detetadas estruturas a profundidades entre os 55 centímetros e 1,2 metros, “é possível ou não colocar as patas das estufas, que só vão até 45 centímetros”.
Tiago Dores, coordenador do projeto, realçou à Lusa que a empresa quer avançar com a exploração agrícola e “tem vindo a cumprir todos os requisitos legais”, demonstrando “preocupações quer a nível ambiental quer a nível de conservação do património”.
“Tudo está a ser feito de forma a que se possa manter a atividade agrícola com o mínimo de impactos e com a maior valorização e salvaguarda do património existente”, afirmou Tiago Dores.
O técnico assegurou, ainda, que os trabalhos estão a ser realizados pela Archaeofactory com a colaboração de, “provavelmente, a melhor equipa nacional para fazer este projeto”, ao contar com “o professor doutor João Bernardes, da Universidade do Algarve, responsável pela parte de investigação de arqueologia romana, e o professor doutor Vasco Mantas, da Universidade de Coimbra, um dos principais investigadores nacionais da arqueologia romana e um dos especialistas na náutica romana”.