Há uns anos quem usasse chapéus, boinas francesas ou bonés em Lisboa — e em geral em Portugal — corria o risco que se lhe dirigissem em inglês ou francês, tal era a falta de hábito de as mulheres portuguesas usaram acessórios para cobrir a cabeça. Nos últimos anos isso mudou. São cada vez mas as cabeças que gostam de se cobrir com um cinematográfico chapéu de abas longas ou uma fedora mais urbana. Este inverno traz de volta à ribalta as clássicas boinas francesas, os chapéus masculinos, os bonés de motorista e os gorros coloridos. O essencial é escolher os que melhor se ajustam ao seu estilo, formato do rosto e corte de cabelo.

Portugal tem uma tradição de boa chapelaria e ainda se encontram velhas lojas carregadas de patine do tempo, como a Azevedo Rua ou a D’Aquino, ambas na Baixa lisboeta, onde se podem comprar chapéus clássicos que vão durar a vida inteira, boinas masculinas de xadrez que dão um toque de singularidade e carisma a qualquer outfit. E, tendo em conta que o look andrógino à anos 80 está em plena ascensão na galáxia da moda, vale bem a pena visitar um destes espaços e investir num acessório intemporal.

A actriz Jean Seberg no charme mbatível de uma fedora em Breathless

A actriz Jean Seberg no charme imbatível de uma fedora em “O Acossado”, de Godard, em 1960.

Como peça de roupa transversal a muitos tempos e lugares, os chapéus servem para definir um estilo, afirmar uma mundividência, evocar referências culturais, heranças afetivas e memórias. Confira entre os diferentes looks aquele que melhor afirma a sua personalidade. Se aquele chapéu de que tanto gosta não é o que mais favorece o seu rosto procure alternativas aproximadas ou formas diferentes de o usar. Por exemplo: se não gosta das abas largas, pode virar uma parte lateral para cima e prendê-la com um alfinete bonito. Um boné pode não lhe ficar bem com a pala virada para a frente mas ficar espetacular com a pala virada para trás. Um boina francesa usada caindo para o lado, como é habitual, pode não a favorecer, e no entanto ficar-lhe a matar se usada na parte de trás da cabeça com os cabelos soltos ou puxada para a frente cobrindo todo o escalpe. Todos os objetos são versáteis se nós também formos.

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Confira as propostas que lhe deixamos para fazer dos chapéus os maiores aliados do seu inverno.

Chapéus cinematográficos

O estilo das mulheres francesas, imortalizado no cinema da Nouvelle Vague com ícones como Caterine Deneuve, Jane Birkin, Jeane Moreau, Anna Karina e Jean Seberg pode ser recriado com as célebres boinas francesas. Qualquer outfit conjugado aqui com uma vai dar-lhe um ar de parisiense audaz ou de intelectual politicamente engajada.

A atriz francesa Brigitte Bardot em 1967. Foto: Stroud/Express/Getty Images

Se o seu gosto vai mais para o Cinema Noir, filmes de gangsters, mafiosos e mulheres fatais, aproveite este ano para comprar um vagabond (chapéus de abas médias e quadrados em cima), ótimos para o dia e para a noite e ideais para usar com roupas de inspiração masculina, calças de pinças e blazers. Outra hipótese são as chupallas que, com as suas abas largas a caírem sobre o rosto, produzem sombras misteriosas e tanto servem para um passeio na cidade como para uma ocasião mais formal. Lembre-se que estas heroínas eram sempre mulheres independentes, corajosas e sensuais. Junte a estes chapéus um par de luvas negras, de pele e, mesmo que esteja de calças de ganga ninguém vai duvidar do seu poder.

A atriz sueca Greta Garbo no filme “Grande Hotel”, em 1932. Foto: IMDB

Se o seu imaginário vai para as estepes russas, para heroínas trágicas como Anna Karenina ou Lara Antipova (Dr. Jivago), para o cinema de Eisenstein ou de Tarkovsky, nada melhor do que aproveitar que o pelo está na moda para comprar uma ushanka, ou chapéu russo. Pode parecer-lhe uma peça demasiado extravagante mas se o experimentar verá que combina perfeitamente com o estilo boho tão em voga, com as roupas de bordados folk, e até com um básico ténis/jeans.

Geraldine Chaplin em Doutor Jivago

Geraldine Chaplin em “Doutor Jivago”, o filme que mais celebrizou a ushanka.

Chapéus desportivos versão romântica

De bonés a gorros de lã, usar um chapéu desportivo não é sinónimo de ser um viciado em fitness, uma runner ou uma estrela de cinema a querer anonimato. Este inverno os criadores de moda como Alexander Wang, Isabel Marant ou Gucci juntaram aos gorros de lã e aos bonés um véu de tule a cobrir os olhos e fundiram o desportivo com o romantismo. Um desafio para as mais corajosas. De qualquer forma, os gorros de lã regressaram em força este inverno sobretudo no formato XXL que se enquadra com mais facilidade em vários tipos de rosto. Os gorros mais pequenos não se usam totalmente enterrados na cabeça mas com o topo solto como os dos duendes. Já os bonés não têm que fazer par com ténis. Pelo contrário, experimente juntá-los a um visual mais acentuadamente feminino como uma saia justa, uma minissaia ou um vestido preto.

A “it girl” Olivia Palermo mostra com o básico gorro de lá pode compor um chique irrepreensível. Foto: Nicholas Hunt/Getty Images For Moncler Grenoble

Chapéus masculinos

O visual de inspiração masculina saltou diretamente dos anos 80 para a segunda década do século XXI e com ele os chapéus de homem. Para já temos dois tipos que já chegaram ao mainstream: as boinas de “vendedor de jornais” e as boinas “de motorista” de lã ou pele e em tons escuros. Em princípio qualquer rosto anguloso fica bem com uma destas boinas, tal como os cabelos, curtos ou compridos, presos num rabo de cavalo na nuca, estilo jóquei. A sugestão mais ousada é a que vem da Emporio Armani e são os famosos chapéus de coco celebrizados por Charlie Chaplin e pelo pintor surrealista René Magritte.

Os bonés de vendedor de jornais foram a proposta de John Galliano para este outono/inverno e já estão a fazer furor em muitas cabeças. Foto: Francois Durand/Getty Images