E se um estudo avaliar os serviços de Saúde do ponto de vista de quem os utiliza? É isso que faz a Health Consumer Powerhouse (HCP), uma empresa sueca de análise de mercado, que avalia o desempenho dos sistemas de saúde em 35 países europeus através da perspetiva do consumidor e dos dados fornecidas pelas Direções-gerais de Saúde dos diferentes países.
No último relatório, publicado esta segunda-feira, a avaliação dos utentes portugueses coloca Portugal em 14.º lugar, com 763 pontos em mil possíveis. A escalada de seis lugares é destacada no estudo e coloca o Sistema Nacional de Saúde (SNS) à frente dos serviços do Reino Unido e de Espanha, pela primeira vez desde 2005, quando a HCP começou a realizar este estudo. Isto apesar de os períodos de espera (por consultas ou tratamentos), o acesso a especialistas (em especial de medicina dentária) e o número de intervenções autorizadas, como cesarianas, merecerem nota negativa por parte de quem avalia.
O desempenho de Portugal neste ranking tem-se revelado um pouco instável – passou do 25.º lugar, em 2012, para o 16.º no ano seguinte, subindo para o 13.º em 2014 e caindo para o 20.º lugar, em 2015 – o país aparece agora seis lugares acima da sua classificação que, segundo o estudo, “se ficou a dever a um descontentamento da população com os períodos de espera”.
A acessibilidade continua a gerar, sem surpresas, as maiores queixas. O acesso direto a um especialista é mais demorado em Portugal porque é necessário, primeiro, ser visto por um médico de família. O longo tempo de espera nas urgências e a dificuldade em marcar uma consulta oncológica em menos de 21 dias também prejudicou a boa classificação de Portugal.
Os portugueses também não são os melhores na “diversidade e abrangência dos serviços prestados”, uma pasta onde constam as avaliações dos utentes à equidade no acesso aos melhores cuidados, ao acesso gratuito à medicina dentária (apenas na Letónia a situação é pior), à percentagem de diálise realizadas fora dos centros hospitalares, e ao número de cesarianas autorizadas. Os utentes portugueses deram nota negativa a todos estes indicadores.
O que está a correr bem
Mas então porque é que Portugal subiu tantos degraus? Porque, apesar de alguma insatisfação, são mais os indicadores “no verde”, ou seja que denotam uma melhoria em relação ao ano passado. É o caso da área dos direitos dos doentes, dos resultados dos tratamentos e da prevenção.
Portugal aparece a verde em vários indicadores, como a queda na mortalidade por enfarte, o rácio de cirurgias às cataratas na população idosa (logo a seguir à França) e a boa taxa de vacinação. Os portugueses revelam-se mais satisfeitos este ano com o nível de acesso aos seus dados médicos, com os mecanismos de escolha dos médicos, com o leque de profissionais disponíveis para procurar uma segunda opinião e com o acesso a linhas de informação 24 horas.
Na edição de 2016, a Holanda voltou a ser o país que reuniu mais pontos nos 48 indicadores avaliados, conseguindo uma classificação de 927 em 1000. Do outro lado do espectro está a Roménia, que se ficou pelos 497 pontos. Portugal está, porém, à frente do vencedor (em 10º lugar) no fator a que o HCP chama “Bang for the buck”, ou seja, uma análise do custo-eficiência dos cuidados de saúde, que analisou a relação entre os gastos em saúde e a qualidade de tratamentos que conseguimos obter com esse montante.
A organização conclui que os sistemas de saúde europeus estão a melhorar apesar de muitos terem passado por um “banho de aço”, que os imobilizou durante os piores anos de contenção orçamental. O estudo destaca, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil, que já foi um dos maiores problemas dos países estudados. Há uma década apenas nove países estavam “no verde”, agora são 24 – o que quer dizer que na grande maioria dos países estudados morrem apenas quatro crianças por cada 100 mil nascimentos.
Catarina Sena, da Direção-Geral da Saúde, disse ao jornal Público que Portugal ficou à frente de Inglaterra e de Espanha “porque está melhor classificado no que respeita à acessibilidade, sendo, entre outros aspetos, valorizada a possibilidade de marcação de uma consulta nos cuidados de saúde primários no próprio dia”.