Entre o Chiado e a Gulbenkian, entre Amadeu e Almada, milhares de pessoas viram este domingo, em Lisboa, duas exposições de pintura de autores emblemáticos, ainda que tivessem de esperar às vezes mais de duas horas.
Em dia de entradas gratuitas (primeiro domingo de cada mês nos museus nacionais e na tarde de domingo no museu Gulbenkian) eram centenas as pessoas que hoje esperaram até duas horas para ver a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso no Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado.
“Estávamos à espera de um dia assim hoje. Porque é o domingo gratuito de cada mês e já estávamos a prever e já nos organizamos para receber toda esta gente”, disse à Lusa a diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (Museu do Chiado), Aida Rechena, entre filas de gente para as sete salas que comportam as 81 obras de Almada.
O facto de ser gratuito levou muita gente ao Chiado, mas de acordo com a diretora “tem sido assim este sucesso todos os dias, replicando o sucesso que a exposição teve no Museu Nacional Soares dos Reis” (Porto).
E por isso, avisou a responsável, as atividades paralelas, como as visitas guiadas pelas curadoras (Raquel Henriques da Silva e Marta Soares) ou as visitas pelos colaboradores de serviço educativo estão cheias.
Também à Lusa uma das curadoras da exposição, Marta Soares, fez questão de frisar que as visitas guiadas estão esgotadas até ao final da exposição, pelo que as pessoas não devem continuar a ligar. “Recebemos 300 chamadas por dia”, disse.
Marta Soares explicou que as conferências (a próxima é sobre a relação entre Souza-Cardoso e o artista francês Robert Delaunay) e as visitas não estão esgotadas, o que está “completamente esgotado” são as visitas guiadas.
Não admira, nas palavras de Aida Rechena: “desde o dia 12 (de janeiro) já ultrapassamos as 15 mil visitas. Durante a semana não temos filas na rua, mas temos dentro do Museu”. Ainda assim, não será possível estender a exposição (termina a 26), por “questões várias, incluindo as condições do empréstimo das obras”.
Hoje, único dia gratuito, muita gente acabou por ir ao Chiado e desistir ao ver o tamanho da fila, optando por “ir ver as lojas”. Outros ainda, em tarde dedicada à cultura, optaram por rumar à Gulbenkian, onde abriu na sexta-feira uma exposição de José de Almada Negreiros, como Amadeo um artista do início do século passado.
Não saberiam, mas haveriam de ser avisados à chegada, que para verem a exposição teriam de contar entre 60 a 90 minutos de espera, em longas filas. Tem a vantagem de estar patente até 05 de junho.
Na Gulbenkian também muitos desistiram, como no Chiado, preferindo voltar noutro dia. Não foi o caso de António Maques, uma hora de espera para ver pela segunda vez uma exposição de Amadeo de Sousa-Cardoso. “Gosto e tenho tempo para a ver, viria de qualquer maneira mas aproveitei ser gratuito”, disse à Lusa.
Nem de Gonçalo Canavarro, “quase duas horas” de espera e que, esse sim, aproveitou por ser gratuito. E no final valeu a pena? Canavarro respondeu com outra arte: “tudo vale a pena se a alma não é pequena” (Fernando Pessoa).
E era por ela, pela arte, que Rechena era hoje uma diretora satisfeita, porque afinal um domingo não é só para futebol e centros comerciais.