No final de janeiro, a blogger e it girl Camille Charrièrre marcou presença nos desfiles de alta-costura de Paris com um blusão dos portugueses Marques’Almeida que faria pensar que saiu de casa embrulhada no edredon. A própria brincou com o assunto numa fotografia publicada no seu Instagram em que finge estar a entrar para dentro da máquina de lavar roupa vestida com o mesmo casaco e com a legenda “laundry day”. Tirando o assunto a limpo, trata-se de uma das tendências de moda mais improváveis deste inverno: os blusões de penas voltaram, e voltaram maiores do que nunca.

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Como escrevia a Vogue norte-americana há sensivelmente um ano, perante os desfiles subitamente acolchoados das coleções de outono/inverno de 2016/17, “o puffer voltou às passerelles em todos os tamanhos, formas e cores, e é inesperadamente cool“. No final, a revista perguntava: “Será que este vai ser ‘o’ casaco do próximo inverno?”

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Meses volvidos, a resposta é sim. À boleia de criadores como Marques’Almeida, Stella McCartney e Demna Gvasalia tanto na Vetements como, sobretudo, na Balenciaga, o puffer tornou-se o casaco predominante entre os principais influenciadores de moda — basta olhar para as fotografias de street style tiradas em Paris e Nova Iorque neste início de ano.

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Nas lojas a tendência também já aquece os cabides, ou nem chega a tanto. Segundo um relatório avançado pela cadeia Lyst e citado pelo site de moda Who What Wear, logo em outubro as pesquisas por casacos deste género aumentaram 280 por cento, sendo os exemplares oversizeos chamados puffers 2.0 — a venderem-se mais depressa. O caso mais inesperado é o do blusão “XXXXL” desenhado por Raf Simons: no valor de dois mil euros, esgotou em duas semanas. “Por cada casaco disponível na Lyst, 1.020 pessoas tentaram comprá-lo”, explicou a empresa.

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À prova de frio como poucos casacos, a grande questão do puffer está em como usá-lo sem parecer uma boia de salvamento ou o boneco da Michelin. Mas até isso a Lyst comentou. Segundo a diretora editorial da companhia, Katherine Ormerod, “esta estação a melhor prática é exagerar ou ficar em casa [go big or go home]”. Por outras palavras, “a chave para usar um casaco insuflado 2.0 é criar uma silhueta arrojada, seja ela lampshade [em forma de lâmpada, com muito volume em cima e pouco ou nenhum em baixo] ou com o casaco descaído nos braços, de forma a mostrar os ombros” — exatamente como propôs a Balenciaga no seu desfile de outono/inverno.

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Se tudo isto faz pensar que o velhinho Kispo andou a tomar esteroides, vale a pena fazer alguma arqueologia para recuperar as origens deste tipo de blusões. Segundo a revista Another escreve numa das suas rubricas mais interessantes, “A Brief History” (uma história breve), o puffer foi inventado em 1936 por um homem chamado Eddie Bauer que quis responder a uma necessidade pessoal, depois de quase morrer por hipotermia numa expedição de pesca em pleno inverno. Para se proteger do frio, Bauer –que é também o nome de uma marca norte-americana quase centenária — lembrou-se de pegar em tecido acolchoado e enchê-lo de penas, conhecidas pelas suas propriedades impermeabilizantes, e patenteou a sua invenção em 1940.

Usada também para fazer sacos-cama por se ter revelado um sucesso na missão a que se propunha — manter uma pessoa quente e seca dando-lhe ao mesmo tempo liberdade de movimentos — a técnica foi apropriada pela moda e nos anos 70 o blusão de penas ganhou “estatuto de culto”, como lembra a Another. Em Portugal, a tendência chegou pela mão da marca Kispo, que haveria de ser tornar sinónimo de blusões (como a Kleenex se tornou sinónimo de lenços ou a Chiclet de pastilhas), de tal forma foi o seu sucesso, e mais tarde através da Duffy, cujo símbolo de um pato a voar encheu muitos peitos insuflados nos anos 80 e 90.

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