Um touro, um mocho e uma raposa olham-nos de frente em calças, saias, capas e vestidos. Podiam ter saído de uma fábula de La Fontaine mas vieram de uma música que os Gipsy Kings imortalizaram. No regresso a Nova Iorque, Katty Xiomara resolveu pegar nos versos de “La Luna y El Toro”, sobretudo os que falam de um touro apaixonado pela lua e que gosta de vê-la pentear-se no reflexo do rio, para construir uma coleção cheia de contrastes, animais, texturas e volumes. Na tourada que consegue ser garantir uma presença na New York Fashion Week (mesmo que no calendário paralelo), a designer do Porto não se esqueceu da capa nem do bolero. Pôs-lhes foi alcatifa ou neoprene em cima.

“Muitas vezes utilizávamos esta frase do touro apaixonado pela lua para descrever uma coisa impossível”, diz a criadora sentada nos bastidores dos Pier 59 Studios, a sala onde o seu desfile teve lugar esta segunda-feira pelas 14h30 (hora local), com o apoio do Portugal Fashion, que assim regressa à Big Apple. “É uma música da minha infância e da minha juventude e intuitivamente pensei que dava um bom conceito para uma coleção. Tínhamos a floresta, a relação entre o touro e a lua, o dia e a noite. E até um pequeno toque gipsy e espanhol, com a figura do toureiro.

Os animais da floresta em colarinhos de camisas e calções com folhos. (Foto: Ugo Camera)

Esta é a sua versão da história, transformada numa coleção de outono/inverno onde animais noturnos como o mocho e a raposa são aplicados em padrões ou nos colarinhos das camisas, a lua dá o mote para a utilização de tons prata em vestidos e saias plissadas, e o tal toque espanhol é sugerido com folhos e vestidos transparentes às bolinhas, com o toureiro a ser evocado através de calças justas de cintura muito subida (por vezes transformadas em jardineiras), boleros com um touro recortado nas costas e duas capas compridas usadas apenas sobre um ombro.

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“A capa é uma peça especial feita de propósito para o desfile”, diz a criadora, que deu por si a falar com uma empresa portuguesa de tapetes para a conseguir produzir num material tão improvável como a paixão do touro: alcatifa. “De certa forma quis simular a capa do toureiro, que geralmente tem uma pequena capa inicial e só depois outra longa, que eles deixam cair ou enrolam no braço”, explica Katty Xiomara. A capa inicial é precisamente a que está alcatifada — e não, no universo da designer não é vermelha.

A capa criada pela designer de moda onde o touro e a lua marcam presença, assim como uma pré-capa em alcatifa, colocada sobre o ombro. (Foto: Ugo Camera)

“A coleção concentra-se nos tons mais neutros, do bege ao branco, passando pelo azul, o preto e os tons nacarados e prata”, diz Katty Xiomara, “sendo que cada cor é explorada em vários tons”. Uma viagem entre o dia e a noite que na passerelle nova-iorquina teve direito a banda sonora indie rock — nada de Gipsy Kings — e a sala cheia.

Tão diversos como a audiência — que tanto atraiu nova-iorquinos de ténis como figuras excêntricas vestidas em forma de boneca insuflável (um fenómeno avistável nas semanas de moda chamado Pandemonia) — foram os materiais utilizados. Da alcatifa à renda, “El Toro Enamorado de la Luna” cose-se com lantejoulas, tule, seda, fazenda, malhas, pelo, veludo e neoprene. Um catálogo têxtil transformado numa coleção que vive “de muitas silhuetas e muitas texturas” e que, mais uma vez, procura conquistar o mercado norte-americano onde Katty Xiomara, contas feitas, já tem 15 pontos de venda.

Katty Xiomara no final do desfile, a agradecer os aplausos. (Foto: Ugo Camera)

O Observador viajou para Nova Iorque a convite do Portugal Fashion.