A Realidade Virtual (RV) é uma área da tecnologia que não pára de crescer. Os investigadores continuam a desenvolver novas aplicações práticas, incluindo na medicina. Várias áreas deste ramo têm muito a ganhar ao introduzir a RV, nomeadamente nas terapias e na resolução de problemas crónicos, psicológicos e motores.
Enganem-se aqueles que pensam que a RV só serve para jogar e ver vídeos. Cientistas, médicos, investigadores clínicos e professores de medicina estão, cada vez mais, a aplicar a tecnologia à pratica da atividade, para facilitar os treinos clínicos e os diagnósticos. Reunimos alguns exemplos.
Simulação cirúrgica
Esta técnica começa a ser pensada para, como o nome indica, simular diversas atividades necessárias antes, durante e após uma cirurgia.
Numa situação normal, os estudantes colocam-se atrás do médico e observam todo o processo cirúrgico enquanto este decorre. Com as possibilidades oferecidas pela RV, a prática tradicional pode ser substituída pela criação de uma sala virtual, com várias operações a decorrer em loop. Desta maneira, os alunos conseguem assistir mais facilmente a tudo o que se passa, podem ver e rever a cirurgia sem os riscos associados à prática.
https://www.youtube.com/watch?v=yes_GEtIa6o
Esta não é uma aplicação absolutamente inédita. Em 2015 foi lançada uma app para RV, a Osso VR, que permite simular o ambiente de uma sala de cirurgia para que o utilizador possa treinar, por exemplo, a montagem do equipamento. Atualmente esta app está focada no mercado ortopédico, mas pretende expandir para outras especialidades e procedimentos.
Alivio para doentes crónicos
Os tratamentos associados a diversas doenças crónicas são procedimentos que provocam algum desconforto, dor e mau estar ao paciente. A pensar nestes casos, foi posta a hipótese de utilizar a Realidade Virtual para, literalmente, distrair o paciente.
A ideia principal na base desta técnica é colocar o paciente num ambiente completamente imersivo, no mundo virtual, para que a maioria dos sentidos, e em especial o cérebro, sejam “distraídos” daquilo que realmente se está a passar. Por vezes, as imagens, sons e o pressionar de botões é o suficiente para ajudar a aliviar algum desconforto sentido na altura dos tratamentos e procedimentos.
https://www.youtube.com/watch?v=dXOBUAYIzsU
Experiências semelhantes à oferecida pelo GLOW!, da Firsthand Technology, são um bom exemplo de jogos/ambientes que ajudam o paciente a distrair-se do mundo real, conduzindo-o numa viagem por um “local” alternativo e que seja capaz de distrair a atenção durante alguns procedimentos mais desconfortáveis.
Tratamento de fobias e stresse pós-traumático
Uma fobia é uma perturbação que cria o medo ou repulsa persistente de determinado objeto ou situação. Muitas vezes, estas perturbações podem durar meses ou anos, criando desconforto e grandes níveis de stresse ao paciente quando submetido à situação causadora do medo.
A Realidade Virtual é uma opção que começa a ser utilizada por psiquiatras para tentarem ajudar o paciente a superar as fobias. Isto porque uma das melhores maneiras de derrotar um medo é, precisamente, enfrentá-lo, e a RV permite simular diferentes ambientes que expõem o utilizador sem que este perca o controlo da situação. Assim, é possível parar a experiência quando sentir que está no limite e manter a segurança de estar rodeado pelo medo mas apenas num mundo virtual.
A aplicação Arachnophobia, da IgnisVR, é um bom exemplo. Foi criada a pensar nas pessoas que têm medo de aranhas e, nesta app, o paciente pode ser colocado numa sala que, inicialmente estará vazia. Aos poucos, com o passar de níveis, vai surgindo uma aranha, duas, três, até ficar rodeado delas.
Esta é uma maneira de, aos poucos, ir enfrentando o medo de aranhas a um ritmo que é totalmente controlado pelo paciente. Aplicações deste género existem para diferentes fobias, inclusive o medo de alturas.
O mesmo sistema de terapia por exposição pode ser utilizado para o tratamento do stresse pós-traumático, utilizando a RV para recriar o ambiente vivido pela pessoa (um soldado, por exemplo), ajudando a que o paciente compreenda o que aconteceu naquele momento, para aprender a lidar com a situação num ambiente mais controlado.
Meditação para tratar a ansiedade
A meditação é uma terapia relaxante com efeitos bastante positivos no corpo. O controlo da respiração é uma das vantagens desta terapia e, para quem tem maior dificuldade de concentração e sofre de grande ansiedade, a Realidade Virtual pode dar uma ajuda.
Jogos como o DEEP são uma maneira relaxante de, imergindo num mundo aquático virtual, o utilizador conseguir abstrair-se do meio envolvente e focar-se inteiramente no jogo, que o leva numa viagem debaixo de água. O jogo funciona em conjunto com um dispositivo externo aos óculos que, quando colocado à volta do tronco, consegue monitorizar a respiração.
Enquanto explora o novo mundo virtual, o utilizador vai sendo guiado para aprender algumas técnicas para controlar a maneira como respira. Os efeitos são importantes: relaxamento e redução da ansiedade.
Oportunidades para quem tem dificuldades
A Realidade Virtual abriu portas a um novo mundo para muitas pessoas mas, em especial, para quem possuí qualquer tipo de deficiência motora e se encontra com um estilo de vida limitado. Diversas atividades que podem ser executadas pelo mais comum mortal, nem sempre são possíveis para pessoas com deficiências.
A RV permite, por exemplo, que uma pessoa toque piano sem mexer os braços. Através da análise do movimento dos olhos, é possível tocar piano sem utilizar os membros superiores.
A aplicação Eye Play the Piano tem, precisamente, esta função. Através de um software especifico e da monitorização do movimento dos olhos, permite que o utilizador consiga tocar piano sem recorrer às mãos.
Ao utilizar um ambiente virtual, é também possível ensinar novas aptidões a pessoas autistas, sem as colocar em perigo com objetos do mundo real, proporcionando assim, de maneira mais segura, alguma independência ao paciente.
Outra funcionalidade que pode ser oferecida por este tipo de aplicações é a adaptação a outras formas de mobilidade. Quem começa a necessitar de uma cadeira de rodas nem sempre percebe os riscos a que vai estar exposto. Através de um simulador em RV é possível que um paciente se desloque, numa cadeira de rodas adaptada para transmitir informação para o mundo virtual, sem que esteja realmente na rua.
Acelerar o tratamento de um AVC
Um acidente vascular cerebral (AVC) pode deixar sequelas no corpo e lesões cerebrais importantes. Esses problemas podem afetar alguns movimentos, por exemplo, nos dedos ou nos braços. A terapia deve ser iniciada o mais rapidamente possível para que o tempo de recuperação seja menor.
Experiências como a MindMotionPro, em Realidade Virtual, permitem aos pacientes aprender a mexer os dedos e os braços promovendo a motivação e a atenção do paciente. Oferece ainda feedback visual e auditivo para que a recuperação seja mais rápida, ao levar o paciente a praticar durante mais tempo.
Tornar os cuidados de saúde mais acolhedores
Muitos são os casos em que os pacientes, independentemente do motivo, têm de ficar internados por longos períodos nos hospitais. As horas de visita são limitadas e muitos momentos familiares acabam por ser perdidos.
As crianças estão entre os que mais sentem estas ausências. A pensar nesses casos, surgem serviços como o VisitU, que possibilita uma maneira prática de a criança estar junto da família sem sair do hospital.
Através deste sistema, as crianças podem ver e ouvir tudo o que se passa em casa e, inclusive, interagir com os familiares, garantindo que não perdem nenhum momento importante.