Algum dia pegou num lápis para fazer esboços de uma peça de roupa que sempre quis ter? Se a resposta é sim e apenas falta saber como pôr a ideia em prática, a Awaytomars pode dar conta do recado. Ou melhor, na Awaytomars quem tem boas ideias toma conta delas, juntamente com quem se identifica e gostava de um dia poder vir a usá-las.
A plataforma que este sábado apresenta mais uma coleção na ModaLisboa — numa espécie de viagem democrática do esboço para a passerelle — nasceu durante o mestrado em Comunicação e Tendências da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pela cabeça de Alfredo Orobio. Para o brasileiro de 29 anos havia uma questão ainda não resolvida no contexto dos media sociais e da moda: de que forma pessoas comuns partilham informação criativa sobre este assunto no mundo online?
À procura da resposta, Alfredo Orobio pesquisou em grupos de Facebook, em hashtags de Instagram e no Googleplus, atrás da informação criativa que circulava, desde opiniões a influências e inspirações. Depois da pesquisa, surgiu a resposta: “As pessoas têm ideias muito interessantes para roupas e produtos de moda. Estas ideias não podem ficar só por ali, em posts nas redes sociais.”
Em 2015 surge assim o projeto Awaytomars, o site onde pessoas com boas ideias sobre moda — de todos os cantos do mundo e que podem não estar relacionadas com a área –, se juntam para partilhá-las e trabalhar em conjunto. Não há exigência de conhecimentos técnicos, basta ter uma ideia e enviá-la através de um desenho em guardanapo, num documento Illustrator, no Photoshop, ou da forma que lhe for mais conveniente. Sem barreiras à criatividade, qualquer pessoa pode participar. Até a mãe de Alfredo Orobio já desenhou e enviou a sua própria ideia, uma t-shirt.
“O funcionamento é simples. Depois do upload da imagem, a plataforma funciona como se fosse um género de Facebook: cada utilizador identifica na foto partes interessantes da peça apresentada; depois, pode adicionar informação sobre a sua inspiração, desde cores a texturas e outros pormenores. A ideia segue para um moodboard — um espaço que congrega as ideias dos participantes –, e a partir daí os co-criadores interagem com a peça: colocam likes e dão feedback“, explica Alfredo.
No total, existem oito mil utilizadores de 90 países. E ao lado de co-criadores afastados profissionalmente do mundo da moda podem estar também profissionais de marcas bem conhecidas: “Já aconteceu haver opiniões sobre peças dadas por profissionais de marcas como a Burberry ou a Comme des Garçons. Aqui tornam-se co-autores ao lado dos outros participantes, e com o mesmo destaque e relevância”, diz Alfredo.
Existem, nesta altura, dois momentos para trazer para a realidade as ideias dos participantes. Para cada um dos momentos, a equipa da Awaytomars (formada por Alfredo e outros seis colaboradores, também eles de diferentes nacionalidades), seleciona as peças através de um algoritmo que permite saber quais delas geraram mais interação. Ou seja, as ideias que tiveram mais likes e foram mais debatidas entre os co-autores (no mínimo entre 60 a 100 interações, com utilidade para a inovação do produto), ganham forma.
“Além de unir as pessoas, este conceito faz com que se consiga trabalhar em conjunto”, reforça Alfredo, para quem é importante tentar “contornar o que é o conceito tradicional de moda, em que existe um criador que é o líder e é ele que ganha o destaque”. “Proponho um novo modelo de negócio, onde todas as pessoas têm poder de influência na cadeia de criação de uma determinada peça de moda.”
Consciente dos custos inerentes à produção das peças, a empresa investe na ideia e na criação do protótipo, assim como dá suporte a nível de comunicação e elabora e implementa a estratégia de marketing para promover a criação e o criador. A produção é toda feita em Portugal.
“Depois desta fase, a peça vai para uma plataforma de acesso público, a pre-order. Os preços, nesse momento, são os de base, tal como vêm da fábrica. Desta forma, percebe-se a recetividade do produto e analisa-se que volume deve ser produzido para ser, finalmente, vendido ao preço de loja”, esclarece Alfredo.
Os modelos custam, normalmente, entre os 50€ e os 400€. Do total da receita, 20% é para o mentor da ideia, 10% para os usuários que interagiram com a ideia, e o restante para a Awaytomars.
Em nenhuma das fases o criador do primeiro desenho, autor da ideia, é afastado do processo de criação. Há uma equipa de profissionais — designers e modelistas, entre outros — que se reúne com o autor e, a partir daí, cria-se a peça.
Entre os canais de promoção de maior relevo para a marca, o responsável destaca a ModaLisboa, onde a Awaytomars se estreou em março de 2015 e onde irá apresentar a sua coleção para o próximo outono/inverno este sábado, pelas 15h, no Centro Cultural de Belém, dentro da plataforma LAB, dedicada a micromarcas. Eduarda Abbondanza, criadora do evento, não tem dúvidas sobre a capacidade da marca para surpreender os presentes nesse dia:
É claramente um projeto interessante, com uma ideia de participação ao nível da moda e de autoria e comércio muito diferente. Imagino que vão ter uma apresentação que nos vai surpreender. É fundamental termos todos os anos, se existirem, projetos novos no mundo da moda, como este, para os ajudarmos a fortalecerem-se e tornarem-se mutáveis para o mercado”, diz Eduarda Abbondanza.
Sobre a apresentação, Alfredo Orobio antecipa que não será um desfile nos moldes habituais e que vai haver espaço para acompanhar todo o processo de criação da Awaytormars, como se de um atelier se tratasse. Mais uma porta aberta na aventura de fazer moda.