O Presidente da República foi à Fundação Calouste Gulbenkian falar de confiança como um fator determinante da estabilidade e crescimento económico do país. Mas, afinal, o tema acabou por servir de mote para que Marcelo Rebelo de Sousa lançasse um recado (em jeito de puxão de orelhas) aos principais responsáveis políticos. “O que importa à tão necessária confiança é que adversários continuem a não se transformar em inimigos e que as salutares discussões de ideias e de poder nunca venham a traduzir-se em irreversíveis animosidades pessoais com a indesejável voragem de terra queimada”. Qualquer relação entre estas declarações e os últimos combates quinzenais na Assembleia da República é pura intencionalidade.

Foi já nos minutos finais de uma curta intervenção que o Presidente da República focou a sua atenção na arena em que se transformou o debate político em Portugal. Aproveitando a bengala da “confiança”que tinha usado para apoiar a defesa de um arranque económico de um país pós-crise, Marcelo dedicou-se a “esclarecer, uma vez mais”, o que para si é “evidente” em termos de entendimentos entre os protagonistas políticos em Portugal.

Em primeiro lugar, o Presidente disse ser importante que os “consensos, explícitos ou implícitos, que já existem, e é fundamental que se reforcem”, não se deixem “falecer” em matéria de política externa, política de defesa, política de segurança, política europeia, política de financeira” e em áreas sociais como a saúde.

Estava a chegar a hora da lição principal, com um toque de poesia descritiva.

À escalada das palavras, deve continuar a sobrepor-se o peso da razão e a ponderação do interesse da nação, tal como tem feito o povo português que, distendido, olha de quando em vez com incompreensão e com distanciamento uma ou outra dessas pugnas verbais, como se respeitassem a um mundo mundo que lhe aparece longínquo, para não dizer indecifrável”, disse o Presidente da República.

Não se pode esquecer (e Marcelo sublinha-o por isso mesmo), ter sido esse mesmo povo “que arrostou e arrosta com os sacrifícios da crise e da sua saída”. A mensagem tem duplo destinatário: António Costa e Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro e líder da oposição que têm protagonizado os mais duros confrontos políticos dos últimos meses.

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