As comunicações dos membros da equipa de transição de Donald Trump, e eventualmente também deste, podem ter sido escutadas de forma legal, mas partilhadas depois incorretamente pela comunidade dos serviços de informações norte-americana, segundo o congressista republicano Devin Nunes. O lusodescendente Devin Nunes preside à comissão das Informações da Câmara dos Representantes.

Durante um conjunto extraordinário de declarações a jornalistas, Nunes afirmou que as comunicações intercetadas não parecem estar relacionadas com a investigação em curso do FBI aos contactos dos associados de Trump com russos ou qualquer mandado criminal.

Nunes, que integrou a equipa de transição de Trump, disse que acreditava que as escutas foram feitas legalmente, mas que a identidade dos assessores de Trump e o conteúdo das suas conversas podem ter sido disseminadas incorretamente em relatórios dos serviços de informações. “O que li incomoda-me e penso que também deve incomodar o Presidente e a sua equipa”, adiantou Nunes, depois de se reunir com Trump, em privado, na Casa Branca.

Depois, em resposta a questões colocadas durante um encontro com congressistas, Trump disse que se sentia “de alguma forma” apoiado, no seguimento do seu encontro com Devin Nunes. “Apreciei muito que tenham apurado o que apuraram”, disse.

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Trump tem acusado o anterior Presidente dos EUA, Barack Obama, de ter ordenado escutas ao seu arranha-céus nova-iorquino em 2016. Mas Obama e os diretores da polícia federal (FBI) e da Agência de Segurança Nacional (NSA) garantiram que não há provas que sustentem as acusações.

Nunes não apareceu com o congressista Adam Schiff, que é o principal democrata nesta comissão. Um porta-voz de Schiff disse que Nunes não informou o seu par democrata antes de divulgar a informação publicamente. Não está claro se as próprias comunicações telefónicas de Trump foram escutadas. Nunes começou por dizer que “sim”, quando questionado se Trump estava entre os escutados, mas depois recuou e disse apenas que era “possível” que tal tivesse ocorrido.

Nunes avançou que a informação sobre a equipa de Trump foi recolhida em novembro, dezembro e janeiro, o período subsequente à eleição presidencial, quando Trump manteve conversas telefónicas com líderes estrangeiros, entrevistas com potenciais membros do seu governo e discussões sobre as políticas a seguir. O congressista especificou que o material recolhido foi “disseminado generalizadamente” em relatórios dos serviços de informações. Inquirido sobre se acreditava que a equipa de transição tinha sido espiada, Nunes respondeu: “Tudo depende da definição de espionagem”.

Os serviços de informações norte-americanas monitorizam regularmente as comunicações dos dirigentes estrangeiros. Esta vigilância por vezes inclui nomes de norte-americanos com quem, ou de quem, o estrangeiro está a falar. Quando isto acontece, os analistas dos serviços de informações são obrigados a esconderem ou ‘minimizarem’ o nome do norte-americano, a não ser que conhecer esse nome seja necessário para perceber a informação descrita no relatório. Nunes não disse como tinha sabido desta informação.