Tudo começou com um artigo publicado no Observador pelo colunista João Marques de Almeida, intitulado “As semelhanças entre Costa e Trump“. No dia seguinte, o deputado socialista Ascenso Simões reagia com estrondo àquilo que classificava como “um vergonhoso texto” e sugeria a violência como resposta na sua conta do Twitter: “Para este comportamento só um par de bofetadas.” O caso foi comparado — desde logo pelo spin de direita — com as “bofetadas” prometidas pelo ministro da Cultura João Soares a um colunista do Público e que estiveram na origem da demissão do governante. Mas João Marques de Almeida, em declarações ao Observador, rejeita fazer disto um caso: “Estou-me nas tintas para o que ele escreveu. Não ligo nenhuma a isso. Quando li aquilo, ri-me.”

https://twitter.com/AscensoSimoes/status/859008515066691585

Ao Observador, João Marques de Almeida considera que o que Ascenso Simões escreveu mostra que estão ambos em “patamares muito diferentes: ele é um político que quer defender o seu líder. Eu não sou político, não estava a fazer política. Estava simplesmente a fazer análise.” O colunista do Observador, que trabalha na consultora Holdingham Group, em Londres, diz que não pretende dizer que é uma “vítima” e até brinca com a situação: “Até achava graça que ele me tentasse dar um par de bofetadas. Até porque ele é que levava de volta.”

João Marques de Almeida não espera um pedido de desculpas de Ascenso Simões, até porque lhe é “indiferente”. O colunista do Observador considera que o deputado “desvaloriza-se a ele próprio com as declarações”, já que “a forma mais correta de responder era escrever um artigo de opinião de resposta, com argumentos a contrariar.” E acrescenta:

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Não vou ser eu a educar os políticos portugueses. Até porque não tenho tempo para isso.”

No artigo, publicado a 30 de abril, João Marques de Almeida começa precisamente por escrever que “as diferenças entre os dois [Trump e Costa] são óbvias e, obviamente, importantes”. No entanto, destaca de seguida que “Costa e Trump perderam o voto popular e chegaram ao poder através das regras constitucionais de ambos os países”, embora não questione a “legitimidade” de estarem no poder. Entre as comparações de João Marques de Almeida estão a ideia de “Costa e Trump afirmam igualmente que a sua chegada ao poder marca uma rutura histórica”, que “ambos alargaram o poder político a movimentos radicais ou a grupos até agora ignorado”, que “beneficiaram da existência de maiorias zangadas” ou até que são ambos “ideologicamente moderados” e “políticos muito mais pragmáticos do que ideológicos“.

Contactado pelo Observador, Ascenso Simões explicou que se limitou a utilizar o “bom registo do debate público no final do século XIX, início do século XX, que infelizmente já não existe.” Prometeu que irá responder ao artigo na edição de quinta-feira do Ação Socialista (jornal digital diário do PS) e sugere a João Marques de Almeida “que reflita sobre o que vou escrever. Se entender responder, responda, ou então que se cale.” Quanto às críticas de que tem sido alvo diz que lhe dá “imenso gozo”, já que vêm de “gente que não tem mais nada para fazer do que andar nas redes sociais. Essas críticas alegram-me”.

Já esta quarta-feira, em declarações à revista Sábado, o deputado do PS tinha afirmado:

Se Almeida soubesse esgrimir, eu desafiava-o para um duelo. Como ele não sabe o que é um florete e muito menos um sabre, só me restou um figurativo e literário par de bofetadas.”

Ascenso disse ainda à Sábado, sobre os modos em que se dirigiu a João Marques de Almeida, que “o tempo que vivemos não permite a elevação da retórica” e acrescentou que “o debate público não é para piegas.”