É a mais recente novidade do Largo Camões, em Lisboa: a ocupação de um dos melhores espaços do coração da capital, o prédio pombalino que durante 104 anos albergou o Consulado do Brasil, por um projeto de luxo que junta de forma inovadora a hotelaria, as artes plásticas e as mais ancestrais tradições portuguesas e mediterrânicas. A partir do dia 1 de junho a diplomacia far-se-á sem burocracia e as convergências culturais traçam-se pela história do sul da Europa e já não do Atlântico.

A sala de umas das suites decorada por um obra de um artista português. Cada espaço tem detalhes para descobrir como rádios dos anos 30 do século XX que funcionam mesmo. © Divulgação

François Blot e Valerie Guérend são o casal francês mentor do espaço batizado de Le Consulat. Arrendaram os 2.000 metros quadrados do prédio pombalino classificado. Três andares (o 4º continua a pertencer à livraria Sá da Costa) com vista para o Chiado, onde investiram cerca de dois milhões de euros e que, prometem ,”não vai estar ao serviço do turismo de massas” mas será sim “um polo de divulgação da arte e cultura portuguesas nas suas múltiplas expressões”.

We are not only consumers (não somos apenas consumidores) é a máxima deste novo ponto de encontro no Camões, onde se pode ficar alojado num quarto ou num apartamento com todas as valências de hotel, se pode ir apenas tomar um vinho ou comer um petisco no Aperitivo Bar à Vins — que quer apagar o conceito de “tapas” e restituir o de “aperitivo”, de origem italiana e muito mais próximo de uma ideia de qualidade e não de comida rápida — ou se pode ainda jantar no Taberna Fina, o restaurante do Le Consulat que pretende resgatar à história ecos das relações, nem sempre pacíficas, entre Portugal e França. André Magalhães, da vizinha Taberna da Rua das Flores, é o chefe de uma carta destinada a dar a conhecer ao palato sabores dessa latinidade milenarmente partilhada. Mike Stellar será o DJ residente e programador dos eventos de entretenimento.

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O Aperitivo bar à Vins com vista para o largo do Chiado e iluminado pelas grandes janelas pombalinas. © Divulgação

Dormir numa galeria de arte, eis o grande desafio

Entrar num edifício do século XVIII, onde ainda podemos ver madeiras das famosas “gaiolas pombalinas” (estrutura interna dos prédios desta época), lareiras com azulejos que serviam para aquecer cada espaço, e respirar história, é já uma proposta quase irrecusável para quem sabe que qualquer futuro é feito de muitos passados. No Le Consulat o passado está à vista, na forma como o edifício foi recuperado, mas também na forma como foi decorado por Luís Mangas, da Muito Muito. O mobiliário vintage convive com as linhas minimalistas modernas, as peças rurais genuinamente portuguesas (como os bancos feitos de rodados de carros de bois, das Beiras), os mármores e madeiras nacionais e até um altar antiquíssimo vindo de uma capela privada.

Um dos quartos do Le Consulat, onde o mobiliário vintage e contemporâneo convive com várias obras de arte expostas nas paredes. © Divulgação

François Blot e Valerie Guérend chegaram a Lisboa há três anos, depois de 25 anos em Paris, a trabalhar no mercado da arte contemporânea. Tendo conhecimento da saída do Consulado do Brasil para outro edifício, juntaram uma equipa, onde se destaca Adelaide Ginga, para fazer a curadoria artística, e desenvolveram um novo conceito que esperam poder replicar: o Le Consulat, ou seja um consulado artístico, onde se possa, “viver a arte” e não apenas “olhá-la e ir embora”, explica a curadora. A este conceito de viver a arte pode juntar-se o de “comer a arte”, ou seja, provar a arte portuguesa nos seus vinhos, queijo, enchidos. Esta parte ficou entregue a André Ribeirinho do Adegga.

Mas a proposta mais inusitada do projeto é o facto de cada apartamento/suite ter uma parceria com uma galeria de arte de Lisboa. Assim, cada quarto é, ao mesmo tempo, uma galeria onde estão expostos trabalhos dos nossos artistas mais conhecidos e um hotel para passar férias e fruir a cidade, a sua arte, a sua literatura e cultura. As obras podem ser compradas pelos hóspedes e vão sendo renovadas regularmente, o que faz com que cada divisão seja um sítio mutante.

Pensado para divulgar a criação contemporânea, o Le Consulat conta, nas suas 20 suites, com a colaboração das principais galerias de arte de Lisboa: Cristina Guerra, Filomena Soares, Graça Brandão, Carlos Carvalho, 3+1, Belo-Galsterer, Caroline Pagès e Pedro Cera. Para já há trabalhos de João Tabarra, Sara e André, Carlos Noronha, Rosa Carvalho, Gil Heitor Cortesão e Bruno Pacheco, entre outros. Mas o objetivo é trazer também artistas de Espanha, Itália e França.

Outro quarto com diferentes objetos artísticos e decoração. © Divulgação

No primeiro andar do prédio estará uma galeria com sete salas destinada a exposições e outros eventos culturais, portugueses e internacionais. Para já o espaço tem patente a mostra “Panorama”, destinada a expor trabalhos de artistas emergentes. Ao todo são 14 autores cujas obras vêm pela primeira vez a público. Ana Caetano, Andreia Pinelas, Beatriz Albuquerque, Diogo Costa, Eduarda Rosa, Fernão Cruz, Henrique Frazão, Henrique Vieira Ribeiro, Inês Norton, João Gabriel, Marta Ramos, Natália de Mello, Nuno Godinho, Nuno Lacerda — todos com formação especializada, alguns ainda em final de curso, mas com currículo expositivo já desenvolvido. Esta mostra fica até 25 de agosto, seguir-se-á depois uma exposição de fotógrafos catalães. Este espaço, tal como o bar e o restaurante, estão abertos ao público.

Uma das obras da exposição “Panorama”, exposta na galeria do 1ª andar, neste caso fotografia de Henrique Vieira Ribeiro a partir do mito de Ícaro. © Divulgação

O valor dos alojamentos varia entre os 180 e os 480 euros, consoante o tamanho da suite, sendo que a maior tem 140 metros quadrados e a mais pequena 36. Pode encontrar mais informações sobre o espaço em www.leconsulat.pt.