Perante “dados novos”, o Bloco de Esquerda quer que o Governo “reconsidere”. Em causa está a nomeação de José Júlio Pereira Gomes para novo chefe do Sistema de Informação da República Portuguesa (SIRP), as chamadas secretas. A nomeação ocorreu no início do mês de maio e foi bastante pacífica, tendo tido inclusive o acordo do PSD. António Costa dizia que o diplomata e ex-chefe de missão portuguesa em Timor Leste tinha uma “vasta experiência em relações internacionais e em matérias de segurança e defesa”, e a nomeação não levantou ondas.
Mas agora, o caso está a mudar de figura. À margem das jornadas parlamentares do BE, que decorrem no Algarve, Catarina Martins foi questionada sobre se o BE sentia algum “incómodo” com a escolha, depois de o Diário de Notícias e o jornal Público terem recordado a altura da passagem de José Júlio Pereira Gomes por Timor-Leste e, sobretudo, a saída intempestiva da comitiva portuguesa daquele território a 9 de Setembro de 1999, por decisão do embaixador, que era ao mesmo tempo chefe da missão de observação portuguesa ao referendo popular do mesmo ano.
“É sabido que quando Pereira Gomes chefiava a missão em Timor houve episódios complicados e nunca bem esclarecidos, mas houve algum incómodo com essas notícias na altura. Mas para lá do incómodo que possamos ter sobre Timor, sendo que muita gente ligada ao BE viveu de perto, como ativista, o momento da independência, tudo o que tem vindo a ser relatado nos últimos dias deve ser considerado como um dado novo“, disse Catarina Martins.
E foi mais longe: “Aguardamos por isso que o Governo diga alguma coisa sobre essa matéria”.
Em causa está uma notícia do DN, onde a eurodeputada socialista Ana Gomes, que era em 1999 embaixadora de Portugal em Jacarta, diz ter “dúvidas de que o embaixador tenha capacidade para aguentar situações de grande pressão. “Não inspira confiança e autoridade junto dos seus subordinados nos serviços de informações”, diz, lembrando que a missão portuguesa abandonou o território a 9 de setembro, por insistência de Pereira Gomes. Uma insistência que ia em sentido contrário às diretivas diretas do governo português.
Esta sexta-feira, o Público dá ainda conta de que o PSD, “tendo em conta as últimas revelações, está a acompanhar o tema com muita apreensão”. O novo chefe das secretas terá de ser ouvido no Parlamento antes de ser empossado, ainda que a data da audição ainda não esteja marcada. O gabinete de António Costa, por sua vez, assume àquele jornal que mantém a confiança no nome escolhido.