O diretor de comunicação do Benfica, Luís Bernardo, disse esta sexta-feira que o “Benfica vai requerer a reabertura do processo Apito Dourado e que seja reavaliada a legalidade das mais de 6 mil escutas desse processo“. Em entrevista à BTV, naquela que é a primeira reação oficial à polémica dos emails revelados pelo FC Porto envolvendo o Benfica num esquema de corrupção de arbitragem. Luís Bernardo não respondeu, contudo, se os emails são verdadeiros: “Se os emails existem ou não, compete ao Ministério Público averiguar, tal como se os emails eventualmente foram objeto de falsificação, descontextualizados”.

Isto porque, segundo Luís Bernardo, há uma “linha de continuidade” e “muitas das pessoas ligadas àquele processo são pessoas ligadas aos casos do último ano”. Recorde-se que o processo Apito Dourado acabou por não ter conclusões efetivas porque as escutas foram inutilizadas, por não terem cobertura judicial.

Ao mesmo tempo, o responsável de comunicação do clube da Luz informou que nos próximos dias vão entrar processos-crime contra o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, e contra a administração da SAD portista, garantindo que “a única questão que é clara é que o FC Porto confirma que tem acesso a informação confidencial do Benfica“.

Na entrevista, Luís Bernardo insistiu na ideia que o Correio da Manhã já tinha divulgado esta manhã: a de que a divulgação dos emails por parte do FC Porto resultou de um crime informático, uma invasão ao sistema de comunicações do Benfica: “Houve uma violação do sistema informático do Benfica”, garantiu. “De imediato o Benfica requereu a abertura de um processo contra desconhecidos por violação de correspondência privada”, explicou o diretor de comunicação dos encarnados, avançando que “já houve oportunidade de identificar, através das perícias, de onde poderá ter surgido a pirataria informática”. Neste momento, garante o responsável, “o Benfica tem muita informação, que pode utilizar”. “O Benfica quer que não se instale no mundo do futebol esta moda do cibercrime“, rematou.

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Luís Bernardo sublinhou ainda que a denúncia junto do Ministério Público só foi anónima porque se o FC Porto a fizesse dando o nome teria de revelar toda a informação que tem. “Não há coragem do FC Porto em assumir a denúncia”, acusou Luís Bernardo. Neste momento, a investigação do Ministério Público está a decorrer junto de todos os envolvidos e “já houve diligências efetuadas” junto do Benfica, garantiu o responsável.

Agora é altura de a justiça trabalhar“, rematou ainda Luís Bernardo, garantindo que o Benfica tem fornecido ao Ministério Público toda a informação necessária, incluindo relativa aos emails de que o Diário de Notícias deu conta esta semana. Ao mesmo tempo, o responsável desvalorizou a polémica e afirmando que tudo é “uma tentativa desesperada de desviar as atenções e de condicionar o início da época”.

“Raramente falamos dos nossos adversários, mas hoje temos de o fazer. Nomeadamente sobre o FC Porto, que está num momento financeiro difícil, numa situação de descalabro”, afirmou Luís Bernardo. “O Sporting também vive um momento difícil, após quatro anos em que não conseguiu atingir os seus objetivos”, acrescentou.

Francisco J. Marques reage a acusações pessoais: “É falso”

Na entrevista, Luís Bernardo deixou também duras críticas pessoais ao diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, afirmando que o responsável portista já teria um contrato com o clube quando ainda era editor de Desporto na agência Lusa. “Não sei se é verdade ou é falso”, disse Luís Bernardo.

“É falso! E surpreende-me que um profissional experiente e principescamente pago alinhe nestas mentiras”, disse Francisco J. Marques, em declarações à Agência Lusa.

Toda a história dos emails polémicos

A polémica estalou no dia 6 de junho, dia em que Francisco J. Marques, o diretor de comunicação do F.C. Porto, usou o seu espaço de comentário no programa “Universo Porto da Bancada”, no Porto Canal, para denunciar um alegado esquema de corrupção para favorecer o Benfica.

No programa, o responsável de comunicação do clube portista revelou pela primeira vez um conjunto de emails trocados entre Adão Mendes, antigo árbitro de Braga, e Pedro Guerra, o diretor de conteúdos da BTV. Esses emails terão sido trocados na temporada de 2013/14 e incluíam referências a uma lista de árbitros em que o Benfica podia confiar: “Manuel Mota, Bruno Esteves, Nuno Almeida, Vasco Santos, Jorge Ferreira e Paulo Batista”.

Benfica acusado de corrupção por diretor de comunicação do FC Porto

O Benfica não tardou a responder, anunciando que iria avançar com um processo-crime contra o diretor de comunicação do F.C. Porto, Francisco J. Marques. “O Sport Lisboa e Benfica repudia e desmente de forma veemente as falsas e absurdas insinuações do diretor de comunicação do FCP e avançará com o correspondente processo-crime por difamação e outros processos que se justifiquem. Considerando que mais não visam do que desviar as atenções da crise e graves problemas por que passam outras instituições“, anunciou o clube da Luz em comunicado.

Benfica avança com processo-crime contra diretor de comunicação do FC Porto

Uma semana depois, nova emissão do programa, nova leva de emails revelados, desta vez com mais visados: além do árbitro Adão Mendes, estariam envolvidos também Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica, Nuno Cabral, delegado da Liga naquela altura, Mário Figueiredo, presidente da Liga entre janeiro de 2012 e junho de 2014, e ainda Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica.

FC Porto revela mais emails para acusar Benfica de “esquema que envolve arbitragem”

Depois destas segundas revelações, uma fonte oficial do Benfica disse, em declarações ao jornal desportivo O Jogo, que o que foi apresentado por Francisco J. Marques no programa é “totalmente irrelevante”. “Voltaram a ser cometidos vários crimes no Porto Canal. O FC Porto vai ter de responder na Justiça. E são os mais variados crimes. Crime informático, falsificação”, afirmou ainda a mesma fonte.

Mas a polémica não ficou por aqui. Dois dias depois da revelação da segunda leva de emails, o Diário de Notícias avançou que o Ministério Público já tem na sua posse um conjunto de novas mensagens trocadas entre líderes benfiquistas e responsáveis da arbitragem, que deverão provar o envolvimento do clube da Luz num esquema de corrupção. E o FC Porto também terá na sua posse esses emails, ponderando revelá-los se os “considerar relevantes no combate ao que apelida ser um esquema de corrupção na arbitragem”.

Há mais emails a ligar o Benfica a alegados casos de corrupção e o Ministério Público já os tem

O Benfica insistiu que irá avançar com “processos-crime contra o presidente do FC Porto, a administração da SAD, o Porto Canal e os elementos presentes no programa”, revelou fonte oficial do clube citada pelo jornal Record. Por seu turno, a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol já fez saber, de acordo com O Jogo, que pretende que a Federação Portuguesa de Futebol investigue o caso e chegue a uma conclusão antes do início da próxima temporada.

Atualizado às 21h45 com as declarações de Francisco J. Marques à Agência Lusa