Quando tinha 13 anos, Fábio Coentrão foi padeiro, pintor e trabalhou nas obras antes de se dedicar apenas ao futebol. Tinha jeito, aquele pé esquerdo conseguia fazer maravilhas e era conhecido como o Figo das Caxinas. A alcunha apelava ao virtuosismo do jogador, à capacidade de explosão na ala, mas comparava-o a um dos maiores símbolos do seu clube desde pequeno. “Quando vi a notícia do possível interesse do Sporting, deu-me uma coisa especial, estranha. Sou sportinguista desde pequenino e não consigo ficar indiferente”, disse em janeiro de 2007 ao Maisfutebol, quando se destacava pelo Rio Ave.

Se não fosse jogador de futebol, Coentrão faria como o pai e seria pescador. Mas a carreira nos relvados, em crescendo desde os dez anos no Rio Ave, não dava margem para seguir outro caminho. Um caminho que tinha tudo para ir desaguar à casa com que sonhava. Mas que foi parar a Lisboa, sim, mas ao lado: os leões não quiseram passar dos 750 mil euros, o Benfica chegou-se à frente e convenceu mesmo os vila-condenses com quase um milhão de euros.

Os primeiros tempos na Luz não correram bem, com o canhoto a ser cedido a Nacional, Saragoça e Rio Ave até ser aposta nos encarnados. O talento estava lá, como se percebia quando atuava por outros clubes na Primeira Liga, mas não carburava no Benfica. Até que Jorge Jesus agarrou nele e, em nove meses, Coentrão passou de um ala esquerdo à procura de oportunidades a um lateral esquerdo que, no Mundial de 2010, se consagrou como um dos melhores.

Foi aos 68 minutos da primeira jornada, com o Marítimo, que Fábio Coentrão experimentou pela primeira vez o lado esquerdo da defesa. Já estava em campo, após uma lesão madrugadora de Carlos Martins, mas foi quando o treinador abdicou de Sidnei, desviou David Luiz para o meio e lançou o avançado Weldon para chegar ao empate que se deu a primeira tentativa. O Benfica empatou 1-1, em casa. Mas os adeptos aplaudiram. Sobretudo o então novo lateral, que não se cansou de fazer piscinas de um lado para o outro pelo corredor esquerdo.

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Em duas épocas, renovou contrato noutras tantas ocasiões. Ganhou um Campeonato Nacional e duas Taças da Liga. Tornou-se indiscutível no Benfica e na Seleção. Fez um total de 90 jogos entre agosto de 2009 e maio de 2011. E acabou por sair para o Real Madrid de José Mourinho, por 30 milhões de euros.

De Madrid para Portugal, só no Benfica

As coisas começaram bem na capital espanhola. Era titular, sagrou-se campeão. Mas a ligação ao Benfica, assente numa empatia e numa química instantânea na “segunda vida” na Luz com os adeptos encarnados, manteve-se forte. Tão forte que, em 2015, quando já jogava menos minutos no Real Madrid, publicou um tweet que agora está a ser recordado: “Contrariando rumores de que irei jogar no Sporting, e apesar do respeito que tenho pelos clubes portugueses, em Portugal só jogo no Benfica”. Acabou por rumar ao Mónaco, por empréstimo, mas fica a demonstração de fidelidade às águias.

“Olá a todos! Não queria deixar passar este dia sem deixar uma palavra a toda a família do Benfica, especialmente aos jogadores, equipa técnica e presidente, por este ano fantástico que nos deu mais uma alegria. Foi um ano muito duro, um ano de sacrifício, mas a recompensa chegou. Como toda a gente sabe, o Benfica está aqui no meu coração e sem dúvida que é um dia muito especial para mim. Carrega Benfica, um abraço para todos!”, já tinha dito num vídeo gravado para a BTV quando os encarnados se sagraram bicampeões.

https://www.youtube.com/watch?v=aKlPf5CcMJ4

O que mudou para escolher o Sporting?

Como dizia Pimenta Machado, ex-presidente do V. Guimarães, “o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira”. E quando Jorge Jesus falou com Bruno de Carvalho sobre a possibilidade de poder resgatar Coentrão ao Real Madrid, no seguimento de um ano de completa estagnação onde fez apenas seis jogos após longa lesão, o negócio foi ganhando pernas para andar. E fez-se mesmo.

O lateral aceitou o desafio. Aliás, já tinha aceite antes, há duas semanas, quando começou a procurar casa. Por três motivos: voltar a trabalhar com Jorge Jesus, o técnico que maior rendimento conseguiu retirar depois de ter adaptado a uma nova posição; ter minutos de jogo, também por forma a regressar às escolhas da Seleção a um ano do Campeonato do Mundo, na Rússia; e poder lutar por títulos em Portugal, nomeadamente a hipótese de quebrar um jejum de 15 anos sem Campeonatos que o conjunto verde e branco atravessa.

Os responsáveis do Sporting não passaram ao lado das muitas críticas que circularam nas redes sociais à possível contratação de Fábio Coentrão por parte de adeptos verde e brancos. No entanto, não se desviaram um milímetro desse objetivo e, ao invés, começaram a pensar numa forma de “contornar” a ideia.

Os primeiros resultados deverão ser visíveis na apresentação do jogador, que poderá coincidir com um dia especial para o clube – a inauguração do pavilhão João Rocha, o sonho de todos os sportinguistas adiado há muitos anos. Ainda assim, deverão existir outras novidades. Depois, é a bola começar a rolar.

Para já há imagens, captadas pela Sport TV, que mostram Coentrão vestido com a camisola dos leões, para efetuar exames médicos, esperando-se os resultados dos mesmos para a oficialização da contratação. O lateral esteve pouco mais de uma hora em Alvalade durante a manhã.