Ponto prévio: este modelo competitivo da fase final do Campeonato da Europa Sub-21 não é bom. E não tem nada a ver com o facto de Portugal ter chegado ao encontro desta noite a precisar de marcar quatro golos (ou, em caso de goleada, a ter de vencer por pelo menos três golos de diferença), é mesmo o próprio modelo em si.

Repara-se: um bocado de nada, a Eslováquia goleou a Suécia por 3-0. Portugal tinha então de chegar aos quatro golos. Mas, ainda assim, também não poderia haver mais jogos, porque amanhã ainda vai jogar o grupo C. Não faz muito sentido. Nem parece a coisa mais salutar para a competição. Soluções? Uma de duas: ou a última jornada tinha todos os jogos à mesma hora ou a fase final encolhia para oito equipas ou alargava para 16, por forma a não haver repescagens do melhor segundo classificado. Fica o registo. Vamos ao que mais interessa.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Macedónia-Portugal, 2-4

3.ª jornada do grupo B do Campeonato da Europa Sub-21

Estádio Gosir, em Gdynia (Polónia)

Árbitro: Ivan Kruzliak (Eslováquia)

Macedónia: Siskovski, Murati, Bejtulai, Zajkov, Popzlatanov; Nikolov, Bardhi, Babunski (Markoski, 74′); Angelov (Elmas, 57′), Radeski (Musliu, 28′) e Gjorgjev

Treinador: Blagoja Milevski

Portugal: Bruno Varela; João Cancelo, Edgar Ié, Tobias Figueiredo, Rebocho (Kévin Rodrigues, 18′); Rúben Neves, Renato Sanches (Ricardo Horta, 55′); Iuri Medeiros, Podence (Diogo Jota, 69′), Bruma e Gonçalo Paciência

Treinador: Rui Jorge

Golos: Edgar Ié (2′), Bruma (22′ e 90+1′), Bardhi (40′), Podence (57′) e Markoski (80′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Babunski (49′), Musliu (63′), Gonçalo Paciência (86′) e Murati (90+5′); cartão vermelho direto a Diogo Jota (90+2′)

A seguir à derrota com a Espanha, lá voltou aquela palavra que anda sempre presente no nosso dicionário competitivo (ou andava, porque nos últimos tempos nem tem sido necessário): calculadora. Mas se esta equipa de Rui Jorge fizesse um teste psicotécnico, garantidamente teria valores mais altos nas artes do que nas matemáticas. Porque esta equipa tem no seu ADN futebolístico qualidade, magia e criatividade. É um grupo AAA com características BBB: joga bem, bonito e balanceada (sempre para a frente). E sabe o que faz em campo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mesmo quando ainda está a descobrir, chega à baliza. E hoje, frente à Macedónia, foi muito mais eficaz no arranque do que contra a Espanha: logo aos dois minutos, na sequência de um pontapé marcado na esquerda pelo canhoto Iuri Medeiros (uma das novidades no onze) com o efeito para fora a fugir do guarda-redes, Edgar Ié fez o 1-0, naquele que foi o quarto golo mais rápido num jogo a contar para a fase final desta categoria.

Foi bom mas não fez bem. Porque o adversário retraiu-se demasiado, porque Portugal entusiasmou-se demasiado. A bola era vermelha e verde da Seleção, mas andava longe da baliza da Macedónia. Pelo menos, das suas redes. Até que, ao minuto 22, Bruma quis mostrar que aquele golo fantástico contra a Espanha não foi obra do acaso e, num movimento da esquerda para o corredor central, rematou em jeito sem hipóteses para Siskovski.

Metade da tarefa estava feita e ainda íamos a meio da primeira parte. E Gonçalo Paciência esteve perto do terceiro (24′). E Rúben Neves este perto do terceiro (30′). E Bruma esteve perto do terceiro (36′). E Iuri esteve perto do terceiro (38′). Se tivéssemos a eficácia da Espanha nos dois primeiros jogos desta fase final dos Sub-21 (oito golos em dez remates enquadrados), podíamos estar em 4-0, 5-0 ou 6-0. Mas acabou por ser a Macedónia a marcar a cinco minutos do intervalo por Bardhi, num remate de fora da área bem puxado ao poste da baliza de Bruno Varela.

Foi um balde de água fria, sim. Mas o descanso ao intervalo funcionou como bálsamo. “O que mudou com este golo deles? Nada! Precisávamos de marcar quatro golos, fizemos metade do trabalho”, deverá ter dito Rui Jorge aos seus jogadores ao intervalo. E a Seleção voltou a entrar a todo o gás, com Daniel Podence a aproveitar mais uma assistência de Iuri Medeiros numa diagonal para fazer o 3-1 com um remate cruzado (57′). Faltava um. Só mais um.

Muito mais do que a Macedónia, o principal adversário de Portugal era o relógio. Os minutos passavam, a ansiedade aumentava. E quando Rúben Neves, num canto após desvio ao primeiro poste do pequenino Podence, cabeceou sozinho no coração da área ao lado, a fasquia começou a subir para o ataque de nervos. Está ali, tão perto. Mas, ao mesmo tempo, parece tão longe. E mais longe ficou quando, do nada, os macedónios saíram num raro contra-ataque e Markoski, após assistência de Elmas, rematou cruzado e rasteiro para reduzir a desvantagem (80′).

Bruma, aproveitando uma bola a pingar na área, ainda bisou e deu esperança para os descontos, mas nem com Tobias Figueiredo e Bruno Varela na frente (e reduzido a dez, por expulsão de Diogo Jota, sem se perceber bem porquê), para o jogo direto assumido, surgiu aquele golo que traria a justiça que Portugal fez por merecer. Mais de 60% de posse, quase 30 remates e 13 cantos revelaram que tudo funcionou na teoria. Os dois golos sofridos, apesar dos quatro marcados, mostraram que só falharam na prática. E a vitória foi a mais amarga derrota.

A Seleção Nacional Sub-21 não morreu na praia, chegou mesmo a tocar aquela espuma que fica quando as ondas recuam. Mas foi curto. E uma equipa que não perdia há 68 meses em encontros oficiais acabou por ser eliminada do Europeu pela única derrota que teve (Espanha, 3-1) desde 2011. Agora vai tudo a banhos. Eles, com a consciência de que deram tudo para alcançarem um final feliz. Nós, com a certeza que o percurso destes jogadores está apenas no início. Pelo meio, eles e nós, todos ficaremos a pensar que ganhar por quatro golos ou três de diferença a esta Macedónia que festejou o desaire como se fosse uma vitória não era impossível. Mas acreditem: isto não é um fim, foi apenas o início. E os próximos anos parecem estar assegurados.