Investigadores da Universidade de Western, no Canadá, estão a fazer um estudo para avaliar como a falta de sono afeta o nosso cérebro. Mas esta pesquisa tem uma particularidade: a equipa quer que pessoas em todo o mundo participem nos seus testes. Como? Online, claro.

Problemas cardíacos, obesidade ou diabetes são algumas das doenças físicas ligadas a ausência de descanso. A falta de sono é um problema cada vez mais atual e global que, além de influenciar a produtividade, pode prejudicar significativamente a saúde. Mas, para perceber melhor como o sono e a sua privação afetam zonas específicas do nosso cérebro, Adrian Owen, neurocientista do Instituto do Cérebro e Mente de Ontário, no Canadá, lançou o maior estudo de sono e cognição do mundo.

Sabemos que a interrupção do sono afeta-nos de algumas maneiras, e que há pessoas que sentem o impacto mais do que outras. Mas, surpreendentemente, há poucas pesquisas sobre como os nossos cérebros lidam com essa privação de sono”, afirma Adrian Owen.

O estudo, lançado esta semana, pede aos participantes que iniciem sessão num site criado por neurocientistas, e que monitorizem os seus sonos durante três dias. Durante este período, a atividade cerebral dos voluntários será avaliada através de jogos e testes, que podem ser feitos através do computador, tablet ou smartphone. Segundo Adrian Owen, os investigadores pretendem perceber que quantidade de sono é “suficiente”, como a saúde do cérebro é moldada, a curto e a longo prazo, pela privação do sono, ou ainda se atinge da mesma forma pessoas de idades e trabalhos diferentes. “Neste estudo temos oportunidade de aprender muito mais sobre a resposta cerebral ao sono do que alguma vez tivemos. E o que aprendemos tem potencial para mudar a forma como milhões de pessoas vivem o seu quotidiano“, refere.

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Depois de três dias de testes, os participantes podem ter acesso aos seus valores de sono e desempenho e comparar com os de outros voluntários. Estes dados de sono e cognição serão analisados com a intenção de partilhar os resultados dentro de seis meses.

Dormir é tão essencial como comer ou respirar, mas é frequente colocarmos essa necessidade em segundo, terceiro ou quarto lugar “devido à maneira como as exigências do trabalho aumentaram, a par e passo com a tecnologia e a forma como isso nos permitiu estar conectados ao nosso trabalho 24 horas por dia e sete dias por semana”, explicou Arianna Huffington, autora do bestseller norte-americano ‘A Revolução do Sono’, ao Observador, em janeiro.

Arianna Huffington: “A privação de sono é uma epidemia global”

O estudo é monitorizado pela Cambridge Brain Sciences, uma plataforma online líder em saúde cerebral, com mais de sete milhões de testes realizados por pessoas em mais de 75 países. “A Internet forneceu esta oportunidade sem precedentes de envolver o público nas pesquisas científicas, pesquisas essas que podem extrair uma mina de ouro de dados sobre o sono e o cérebro aos quais nunca tivemos acesso”, explicou Owen, que também é diretor científico da iniciativa BrainsCAN.

O Owen Lab está também a desenvolver novas definições das causas e consequências da memória, perceção e raciocínio em pessoas saudáveis e em pessoas com doenças neurodegenerativas. Este laboratório permite ainda que se faça um relatório sobre a saúde do nosso cérebro, “através de testes divertidos e válidos cientificamente” e “em menos de dez minutos”.