Lisboa é uma cidade pequena que quer ser grande e Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara Municipal, fala dos planos da autarquia: “Falta-nos estabelecer relações com ecossistemas de startups maiores do que o nosso”, disse esta segunda-feira ao Observador numa das salas da Fundação Calouste Gulbenkian. As primeiras cidades a dar o braço a Lisboa foram Amesterdão e Telavive, mas não serão as únicas. Até porque, em matéria de captação de investimento e investidores, ainda há muito por fazer em Portugal.
“O capital que atraímos para o nosso ecossistema, bem como o perfil dos investidores, ainda é pouco competitivo”, afirmou o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
À margem da conferência “Cidades do Futuro – Conhecimento e Clusters”, Duarte Cordeiro assinou dois memorandos de entendimento com responsáveis pelo Startup Amsterdam (programa municipal de Amesterdão de apoio ao empreendedorismo) e pelo Tel-Aviv Global and Tourism (programa municipal de Telavive para impulsionar a globalização da cidade). Objetivo: promover intercâmbios entre startups, empreendedores e investidores dos três países — Portugal, Holanda e Israel. A ideia é ajudar as empresas portuguesas a escalarem naquelas que considera serem duas cidades de ponta em matéria tecnológica, bem como convencer os novos aliados de que Lisboa é a cidade ideal para fixarem talento e criatividade.
Lisboa faz parceria com Amesterdão e Telavive para promover intercâmbio de startups
“Se for ver o relatório internacional Startup Genome, verifica que ainda somos pequenos, que nos falta estabelecer relações com ecossistemas maiores. De alguma maneira, estes protocolos vão ao encontro dessa expectativa: nenhuma empresa deve ver como constrangimento fixar-se em Lisboa, porque, a partir de Lisboa, consegue facilmente trabalhar com outros ecossistemas internacionais, com outras cidades. Ninguém precisa de se fixar nessas cidades e a ideia de estabelecermos relações também facilita muito isto”, explicou.
Apesar de Lisboa se posicionar como uma cidade de fixação de talento e criatividade, onde é possível desenvolver “qualquer negócio, serviço ou produto para o mundo inteiro”, Duarte Cordeiro admite que ainda há “aspetos que precisam de ser colmatados”. Não basta acolher na cidade aquela que é a maior conferência de empreendedorismo e inovação da Europa.
“Ter cá a Web Summit é muito bom porque gera atração e atenção, nomeadamente dos investidores, mas é preciso ir reforçando os nossos laços e criar interação. O ecossistema empreendedor europeu ainda não é tão competitivo como, por exemplo, o dos EUA. É preciso aprofundar mais os vários ecossistemas europeus”, afirmou.
Salvaguardando que o trabalho que a CML tem vindo a desenvolver para dinamizar o ecossistema de empreendedorismo na cidade ainda é recente (começou em 2011), Duarte Cordeiro explicou ao Observador que é preciso aprender com “os mais fortes, aqueles que já têm ecossistemas implementados há mais tempo”. Para o número dois da autarquia, é importante que a comunidade de aceleradores e incubadoras lisboeta estabeleça laços com estes ecossistemas para que possam internacionalizar-se.
“E também nos devemos posicionar afirmando aquelas que são as nossas mais-valias, para que nos vejam como uma localização privilegiada para os processos de internacionalização deles. Acho que a esse nível nós também temos bastante para oferecer. Não temos só de ir procurar vantagens noutros ecossistemas, mas também temos muito para oferecer”, acrescentou.
“É preciso termos investidores qualificados que entendam o potencial das startups”
De acordo com um relatório que a organização americana Startup Genome publicou em maio, o ecossistema de empreendedorismo lisboeta tem entre 200 e 300 startups que, juntas, valem 1,2 mil milhões de euros. Cada startup portuguesa recebeu em média, numa fase de investimento inicial, 184 mil euros — o valor é a soma das rondas de investimento semente (pré-internacionalização) e Série A, em 2014 e 2015. Mas Duarte Cordeiro quer ver estes número subir.
“Hoje, já temos algumas empresas nacionais que, apesar de procurarem financiamento noutras cidades, mantêm o seu escritório em Lisboa. Têm cá a sua base de desenvolvimento ao nível da engenharia informática e de programação. Esse é um elemento muito importante de futuro… Outro é a captação de capital: termos investidores qualificados que entendam aquilo que é o potencial das startups e que, no fundo, invistam nas startups“, diz.
Sobre a necessidade de estabelecer relações com outros ecossistemas, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa explicou que Amesterdão e Telavive são apenas duas das cidades com que querem “fortalecer laços”. Sem adiantar quais serão as próximas regiões a merecer a atenção da autarquia, Duarte Cordeiro explicou que a escolha será feita tendo em conta “aquela que é a lógica de internacionalização das startups portuguesas, quer nos EUA quer no continente europeu”. Com estas parcerias, assegura que os portugueses são devidamente acolhidos nestes ecossistemas e “nós, ao mesmo tempo, comprometemo-nos a fazer o mesmo do lado de cá”.
“Vem ao de cima a nossa geografia — a proximidade aos EUA, ao centro da Europa e a África — e aquilo que são as nossas relações históricas, nomeadamente com um conjunto de países que falam a língua portuguesa. E o facto de termos recursos humanos altamente qualificados, bem preparados, de sermos uma cidade de conhecimento. E, portanto, para a fixação de negócios de base tecnológica, há um conjunto de aspetos positivos que vêm com a cidade”, disse.
Questionado sobre se não receia que as startups sejam uma moda passageira e que não se traduzam efetivamente em crescimento e competitividade, Duarte Cordeiro explica que “quanto mais, no fundo, se desenvolver a dimensão da criatividade e do conhecimento, quanto mais atração tivermos para este tipo de empresas, maior é a probabilidade de elas terem um impacto significativo do ponto de vista económico“, afirmou, depois de sublinhar que, hoje, já existem programas que permitem trabalhar a inovação aberta dentro da própria cidade bem como outras parcerias com grandes empresas.
“Hoje, temos em Lisboa uma rede de conhecimento muito significativa. Somos uma cidade universitária com cerca de 130 mil estudantes universitários, temos centros de investigação. Esta área que está ligada ao conhecimento, à tecnologia e inovação já está associada à inovação aberta de outras grandes empresas, de outros setores económicos. Não se limita a ser o resultado expresso de cada um destes serviços, apesar de já existirem, no nosso país, startups com dimensão”, afirmou.
Privilegiando a proximidade geográfica de Lisboa aos EUA, centro da Europa e a África, o vice-presidente da Câmara Municipal sublinhou a competitividade da capital portuguesa, sobretudo quando assente “numa lógica de viagens mais baratas”, muita da nossa infraestrutura já está ao nível daquilo que encontramos noutros países e, portanto, vem ao de cima um conjunto de fatores que são relevantes, que têm a ver com a abertura do país, que é um fator de diferenciação quando comparado com outros países.