O chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) esteve a ser ouvido na comissão parlamentar de Defesa, ao fim da tarde desta quinta-feira, sobre o roubo de armamento na base de Tancos e apontou o dedo a “um problema do comando”. Frederico Rovisco Duarte disse aos deputados que “houve ali desleixo”, permitindo que fosse roubado material militar, falando mesmo em “erros estruturais inadmissíveis e sistémicos” do comando. Num dos paiós assaltados havia mísseis que não foram levados.
De acordo com a informação obtida pelo Observador, junto de várias fontes da comissão parlamentar que decorreu à porta fechada, o chefe do Exército confirmou ainda que a informação do material divulgada pelo jornal El Español corresponde à verdade e admitiu sentir-se “humilhado” com o caso que está a ter repercussões internacionais. Os deputados ficaram também a saber, nesta audição, que num dos paióis assaltado, estavam mísseis Tows e Milan — anti-carro — que não foram levados por quem assaltou Tancos. O valor oficial do material roubado ascende aos 34.414 euros.
Na audição, o general terá aliviado a questão da responsabilidade política, ao centrar responsabilidades no plano militar, repetindo que “houve efetivamente um problema de comando”. Uma das questões que admitiu aos deputados ter estranhado mais tem a ver com a falta de vigilância durante um intervalo de “20 horas entre as rondas”, mas o general levou informações que contradisseram este número de horas, sobre todas as trocas de turnos naquele dia que davam conta de um intervalo de 8h30 entre a última ronda registada (15h30) até serem detetados os paióis arrombados (às 6h do dia seguinte).
Rovisco Duarte também disse aos deputados que a tese de interferência interna está e deve ser investigada e até usou a expressão “cumplicidade pura”, quando falou da sua convicção pessoal sobre este caso, referindo-se a cumplicidade entre quem roubou e alguém dentro de uma das unidades. A este propósito, a título pessoal, chegou mesmo a utilizar a imagem: “Quando temos dentro de casa alguém que nos quer roubar, é impossível que isso não aconteça”.
Foi depois da análise sobre as falhas nas rondas aos paióis que diz ter decidido exonerar — ou suspender — cinco comandantes que, segundo já tinha explicado, planeiam o empenhamento das forças na segurança física e militar dos paióis. Segundo a reconstituição feita pelo Observador junto de várias fontes presentes na reunião, Rovisco Duarte disse que o cumprimento dos procedimentos que existiam eram suficientes para evitar o furto, como por exemplo o cumprimento de rondas pela secção (cerca de 10 homens) que tinha essa incumbência. O general admitiu que inicialmente ponderou demitir apenas três comandantes, mas acabou por demitir os cinco, alegando necessidade de evitar interferências na investigação.
O general disse ainda não ter conhecimento de qualquer investigação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, anterior a este roubo, sobre riscos para a segurança nacional, nomeadamente pelo roubo de armas militares, notícia avançada na edição desta semana da revista Sábado. Mas a dada altura admitiu que teve informações através de contactos pessoais, e não formais, mas já depois deste furto.
Questionado pelos deputados sobre se sabia de problemas de segurança nos paióis militares, Rovisco Duarte disse que enquanto inspetor-geral do Exército, cargo que ocupou até abril de 2016 (altura em que nomeado CEME), teve conhecimento de algumas questões, mas também disse não conhecer os Paióis de Tancos. Garantiu apenas que quando chegou à chefia do Exército fez uma diretiva a apontar o que devia ser feito para colmatar problemas que existiam, sendo que o que estava em causa eram problemas ao nível das infraestruturas.
O general apresentou ainda os deputados um painel com várias peças iguais aos armamento roubado, para explicar aos deputados o que estava em causa no furto da base de Tancos.
No final da audição, ao fim de três horas, o general saiu sem fazer declarações. Mas ao seu lado, o presidente da comissão parlamentar de Defesa, Marco António Costa, lamentou as informações divulgadas pela comunicação social enquanto decorria a reunião à porta fechada. “Lamento as informações que saíram.”, disse o deputado social-democrata tendo ao seu lado o CEME a quem agradeceu “toda a franqueza” e por “ter prestado todos os esclarecimentos ao seu alcance”.
Este artigo foi atualizado no final da reunião da comissão de Defesa.