– Não tenhas medo, não te vou tocar…
– Pois não tocas não, levavas uma chapada que te arrancava a cabeça!
Foi este o momento mais quente da última das quatro apresentações do ‘Combate do Século’, em Londres. Ao todo, foram quatro dias, quatro cidades e três países a receberem 55 mil fãs para verem ao vivo Floyd Mayweather, pugilista americano de 41 anos que conta com uma carreira invicta de 49-0, e Conor McGregor, irlandês que cumpriu ontem 29 anos e que vai deixar as lutas do MMA (21-3 entre vitórias e derrotas) para o combate de boxe que poderá superar os milhões gerados pela luta entre Mayweather e Pacquiao, em 2015.
Mayweather, McGregor wrap up profane PR tour in London https://t.co/O2pIcpQSVo pic.twitter.com/0nKuJdZYed
— Reuters (@Reuters) July 15, 2017
Comecemos pela parte das lágrimas. Não, nenhum dos lutadores chorou. Mas as emoções estiveram à flor da pele nesta passagem pela Europa, com centenas de fãs do ‘Notorious’ irlandês, munidos de bandeiras, máscaras e cartazes de apoio a McGregor, a esperarem horas a fio à porta de uma Wembley Arena à pinha. Pela primeira vez, o lutador de MMA tinha o público do seu lado. E encheu o balão de uma maneira nunca antes vista.
No início, até porque uma série de jornais ingleses estavam a fazer o liveblog da conferência (transmitida em direto para todo o mundo, em vários canais televisivos mas também pelo Youtube), ainda tentámos fazer um tracinho no bloco por cada vez que McGregor dizia a palavra ‘fuck‘. A menos de metade do discurso, desistimos. Se cada um daqueles rabiscos valesse um euro, estava a festa feita para quem escreve.
“Há quatro anos, estive aqui em Londres a lutar perante 500 espetadores; agora, estou à frente de mais de 10 mil só para apresentar um combate que me vai render milhões e milhões”, comentou, antes de começar a pegar-se com Floyd Mayweather, que esteve sempre de telefone na mão e óculos escuros como se nada se estivesse a passar. “Tens 40 anos, és um homem. Larga essa porcaria, deixa de ser miúdo”, atirou, entre muitos outros insultos.
https://www.youtube.com/watch?v=vyaWDg2bT9g
O ambiente estava quente. Literalmente. Depois do longo casaco da Gucci a mostrar o peito que tinha usado em Brooklyn, McGregor voltou a surgir de fatinho aprumado com colete a condizer. Mas o calor era tanto que suava em bica. E pior ficou quando Mayweather, utilizando o dobro do tempo, andou a passear-se pelo ringue a dizer que a Rep. Irlanda era dele, que o adversário era um falhado e que lhe daria uma sova.
Confrontos diretos, ou seja sangue, isso é que nada. Mais uma vez, houve uma espécie de guarda pretoriana sempre atenta para que não se engalfinhassem, mas confirmou-se que uma das cláusulas no contrato para este tour referia que não podia haver qualquer agressão entre ambos. A McGregor, que está habituado a murros, pontapés e joelhadas no MMA, vontade é que não faltava. Mas tudo isso terá de esperar até 26 de agosto, o dia do ‘Combate do Século’.
Floyd Mayweather didn't seem fazed by Conor McGregor's latest attempt to rattle him. https://t.co/H9OMi8l9Ke
— ESPN (@espn) July 14, 2017
No entanto, neste espetáculo de entretenimento que prendeu milhões de pessoas nos últimos dias, passaram-se algumas barreiras do puro trash talk e, depois das acusações de racismo dirigidas a McGregor, desta vez foi Mayweather que ficou debaixo de fogo pelos insultos homofóbicos ao irlandês. Esse foi, aliás, o destaque da cobertura do The Guardian sobre o evento, que não passou ao lado de ninguém. Vejamos:
- A Forbes destacou os dez pontos altos da última conferência, em Londres
- O The Telegraph ficou impressionado pela agressiva guerra de palavras entre os atletas
- O Daily Mirror deu ênfase à chegada em jatos privados das duas ‘comitivas’
- O Washington Post escreveu sobre os insultos homofóbicos de Mayweather
- O New York Times encontrou ainda um pouco de honestidade entre o entretimento e os insultos
- O Independent diz que a ‘World Tour’ teve um final caótico e controverso
Mais seis visões antes do encontro que antecedeu seis semanas de muito treino, trabalho e negociações. Porque este, mais do que o ‘Combate do Século’, será uma verdadeira luta de milhões. E para se ter noção de que valores estamos a falar, basta recuperar esta estimativa feita no mês passado: só Mayweather poderá arrecadar um total de 400 milhões de dólares por um mero combate que pode ter quase uma hora… ou apenas um minuto.