O líder do maior partido espanhol da oposição, o socialista Pedro Sánchez, pediu esta quarta-feira a Mariano Rajoy para se demitir e assim evitar arrastar, na sua queda, o prestígio da democracia e das instituições do país.
A declaração do secretário-geral do PSOE (Partido Socialista espanhol) foi feita poucos minutos depois de o presidente do Governo espanhol negar, como testemunha em tribunal, ter beneficiado ou ter conhecimento de um esquema fraudulento que envolveu o pagamento de quantias a responsáveis do Partido Popular a troco da concessão de contratos públicos.
Sánchez acusou Rajoy de ser o “principal responsável político” do “clima generalizado de corrupção” que se vive em Espanha, com vários dirigentes do PP envolvidos em numerosas investigações judiciais.
Por seu lado, o líder do terceiro partido espanhol mais votado, Pablo Iglesias, do Podemos (extrema-esquerda), revelou que ainda esta quarta-feira irá falar com Pedro Sánchez para tentar forçar uma reunião plenária do parlamento espanhol para que Mariano Rajoy possa dar contas do seu testemunho em tribunal naquele que é conhecido como o caso Gurtel.
O secretário-geral do Cidadãos (centro), José Manuel Villegas, defendeu que, se o Partido Popular (PP, direita) se tivesse “regenerado”, já teria afastado toda a “sombra de suspeita” e o chefe do executivo não teria de ser ouvido pelo tribunal.
Depois de ter prestado declarações no tribunal, Mariano Rajoy assegurou que estava “contente por ter colaborado com a Justiça” e reiterou que o seu partido está decidido a combater a corrupção.
O primeiro-ministro espanhol foi ouvido esta quarta-feira de manhã como testemunha no tribunal que está a investigar o processo sobre a vasta rede de corrupção que envolve vários responsáveis do PP.
A acusação quis saber se o atual chefe do Governo, que é líder do PP desde 2004, primeiro-ministro desde 2011 e antes ocupou vários cargos de grande responsabilidade no partido, teve conhecimento ou alguma responsabilidade no desvio de dinheiros e pagamentos ilegais realizados entre 1999 e 2005.
“Nunca me ocupei da contabilidade ou dos assuntos económicos do partido“, insistiu Mariano Rajoy, quando interrogado sobre as suas responsabilidades como diretor político de quatro campanhas eleitorais que realizou antes de 2004.
O cargo de chefe do Governo permitiu a Rajoy enfrentar a acusação, durante quase duas horas, num estrado ao mesmo nível e numa mesa ao lado da do juiz, ao contrário do que acontece com outras testemunhas.
O “cérebro” do “caso Gurtel” é o empresário Francisco Correa, que já explicou em tribunal um esquema em que entregava “envelopes” com dinheiro a funcionários públicos e responsáveis políticos eleitos pelo PP, para ajudarem certas empresas “amigas” a ganharem contratos de direito público.
Mariano Rajoy assegurou que ele próprio decidiu em 2004 cortar as relações que havia entre o PP e Francisco Correa, cujas empresas forneciam serviços a esse partido.
Outra figura central no processo é um antigo tesoureiro do PP, Luis Barcenas, que admitiu em janeiro passado que o partido teria “recursos que não apareciam na sua contabilidade oficial”, alimentados por doações feitas por homens de negócios.
A audição desta quarta-feira foi a primeira, como testemunha em tribunal, de um primeiro-ministro espanhol em funções.
O caso Gurtel está a ser julgado na Audiência Nacional, um tribunal com responsabilidades particulares, ocupando-se dos delitos de maior gravidade, como os casos de terrorismo, crime organizado, narcotráfico e delitos económicos, entre outros.
Este e outros escândalos de corrupção que envolvem membros do PP contribuíram para que o partido perdesse em dezembro de 2015 a maioria absoluta que tinha no parlamento espanhol.