Era inevitável: a partir do momento em que Sérgio Conceição atirou na conferência de imprensa de antevisão ao encontro frente ao Estoril que “a panela de pressão está em casa”, qualquer análise que não se cingisse apenas a golos-remates-posse de bola iria ter como ingrediente principal essa expressão com o que se tinha passado em campo. O próprio desenrolar do encontro também ajudou a isso. E como diria Quim Barreiros, a vitória dos dragões até acabou por ser cozinhada mais depressa.

Não se sabe se Sérgio Conceição é propriamente um fã do cantor popular de bigode farto que faz as delícias de qualquer um nesta altura do ano, mas é provável que já o tenha visto atuar. Porquê? Se existe algo que o treinador do FC Porto não costuma dispensar, assim os afazeres profissionais o permitam, é a Festa em Honra de Nossa Senhora da Nazaré, em Ribeira de Frades. E este ano até vai passar por lá um amigo seu, o humorista Fernando Rocha, com quem estreitou ligação depois de ter sido ludibriado para os ‘Apanhados’. Mas uma coisa é certa: a forma como os azuis e brancos abriram a Primeira Liga a golear por 4-0 o Estoril deixou o Dragão em festa.

Ficha de jogo

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FC Porto-Estoril, 4-0

1.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Hugo Miguel (AF Lisboa)

FC Porto: Casillas; Ricardo, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, Óliver (Herrera, 79′); Corona (Hernâni, 68′), Brahimi, Soares (Marega, 32′) e Aboubakar

Suplentes não utilizados: José Sá, Maxi Pereira, Diego Reyes e Otávio

Treinador: Sérgio Conceição

Estoril: Moreira; Mano, Pedro Monteiro, Gonçalo Brandão, Joel; Eduardo, Lucas Evangelista; André Claro (Aguilar, 62′), Carlinhos (Aylton Boa Morte, 72′), Allano e Kléber (Wesley, 83′)

Suplentes não utilizados: Luís Ribeiro, Tocantins, Diakhité e Matheus Índio

Treinador: Pedro Emanuel

Golos: Marega (35′ e 62′), Brahimi (52′) e Marcano (70′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Allano (48′) e Danilo (77′)

A entrada do FC Porto em jogo trouxe aquela sensação de dejá vu para quem acompanhou a pré-temporada dos dragões e Aboubakar, logo aos 3’, não acreditou na falha de Pedro Monteiro após cruzamento de Corona da direita e acabou por fazer uma espécie de rosca que, se quisesse, dificilmente teria arte para repetir. Todavia, quando se começa a jogar a sério, quando o marcar ou não marcar deixa de ser um simples dado estatístico e passa a valer pontos, as coisas costumam ser diferentes. E foram, até determinado ponto.

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Pedro Emanuel conhece o FC Porto, conhece Sérgio Conceição e conhece o futebol. Nem sempre o Estoril conseguiu evitar o “demasiado respeito pelo adversário”, como tinha pedido na antevisão do encontro, mas teve o mérito de ir aguentando as investidas ofensivas dos azuis e brancos, com menor intensidade e sem aquele último passe fatal no último terço. Mais: optou sempre por tentar sair pelos corredores laterais, aproveitando os adiantamentos dos laterais contrários, e foi conseguindo pelo menos afastar o perigo.

André Claro, aos 20’, ainda acertou na parte de cima da trave da baliza de Casillas, após um cruzamento que saiu tão torto que quase a levava direita para a baliza. No entanto, esse seria um dos poucos lances em que os canarinhos conseguiram descer até à área. Era o jogo de Aboubakar, Aboubakar e Aboubakar. Que falhou, ao ser apanhado ligeiramente adiantado num lance que começou em Brahimi, teve um bom cruzamento de Ricardo e acabou com calcanhar anulado ao camaronês (15’). Que falhou, ao rematar fraco à entrada da área para defesa de Moreira tendo Soares por perto (27’). Que falhou quando surgiu isolado por Corona mas não acertou bem na bola (29’).

Os visitantes iam sobrevivendo dentro da sua organização defensiva muito certinha mas sem a mínima expressão em termos atacantes. E foram aguentando, aguentando, até que tudo se desmoronou por culpa própria: num lance de completa desconcentração, Mano mediu mal um atraso para Moreira e acabou por deixar a bola nos pés de Marega com a baliza aberta. Era impossível falhar e o maliano, que entrara a substituir Soares uns instantes antes, marcou e inaugurou o marcador na primeira vez que tocou na bola (35′). Até ao intervalo, nota ainda para mais um golo bem anulado a Corona, que desviou de cabeça um cruzamento da esquerda mas estava em posição ilegal.

Se o Estoril tinha escorregado por um erro individual, começou a cair de vez com mais um lance de azar em termos defensivos. Foram as pitadas alheias que faltavam para o FC Porto arrancar uma exibição de encher o olho e a barriga, de golos: numa jogada de combinação à entrada da área, Gonçalo Brandão acabou por assistir sem querer o argelino como se fosse uma tabelinha e o extremo não teve pejo em atirar cruzado para o 2-0 (52′).

Os dragões já tinham o refogado da vitória ao lume, mas o segundo golo foi o derradeiro ingrediente para começar a ferver a sério em termos ofensivos. Problema: havia um elemento, e apenas um, que nunca acertava na dose quando era altura de visar a baliza. E Aboubakar voltou a falhar, por três vezes. Com o pé esquerdo por cima (56′), com o pé direito para defesa de Moreira (58′), de cabeça ao lado (60′). Mas o FC Porto jogava bem, muito bem. E Óliver Torres tinha aberto o livro das mil e uma receitas para chegar ao golo. Numa delas, aos 62′, Marega bisou: grande trabalho do espanhol na direita e cruzamento teleguiado para o bis do maliano de cabeça.

Marcano, com ajuda do vídeo-árbitro que validou aquilo que tinha sido mal invalidado, aumentou para 4-0 a 20 minutos do final, no seguimento de um livre batido por Óliver. O Estoril ainda quis “molhar a sopa” através de Allano e Aguilar, mas esbarrou em Casillas e na trave. Tal como Aboubakar continuou a não acertar na hora de escrever o seu nome no livro de apontamentos do jogo.

O resultado estava feito e a cozinha tinha fechado para servir mais golos. Mas, para o dragão, foi uma iguaria e peras. Com a panela de pressão em casa.