Foi uma estreia de sonho. Melhor era impossível. E estava guardado para o último dia dos Campeonatos do Mundo: Inês Henriques conquistou o ouro nos 50 km marcha, depois do bronze de Nelson Évora na pista, na final do triplo salto. 12 anos depois, Portugal volta a ganhar duas medalhas na mesma edição dos Mundiais.

Mas ainda houve uma cereja no topo do bolo: a atleta de 37 anos de Rio Maior conseguiu bater o recorde mundial que já lhe pertencia desde janeiro, fixando a nova marca em 4.05.56. Nos últimos metros, a atleta ainda teve tempo para agarrar numa bandeira portuguesa que estava na assistência, levá-la na mão até à meta e levantá-la bem alto depois de abraçar em lágrimas o seu treinador de sempre, Jorge Miguel. Fabuloso!

Foi uma prova atípica, sem dúvida. E que esteve mesmo para não realizar-se. Eram poucas mas boas: depois da confirmação da variante feminina dos 50 km marcha nos Mundiais apenas um mês antes, alinharam à partida apenas sete atletas: Inês Henriques, as chinesas Hang Yin e Shuqing Yang, a brasileira Nair da Rosa e as americanas Kathleen Burnett, Erin Talcott e Susan Randall. As suficientes para se fazer história.

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Apenas na dobragem dos primeiros cinco quilómetros Inês Henriques não estava na frente: passou com o mesmo tempo de Hang Yin, 24.43 (já com mais de um minuto de avanço das restantes concorrentes). A dupla manteve-se junta até aos 25 quilómetros (49.22 aos dez, 1.13.43 aos 15 e 1.37.59 aos 20), com a portuguesa a ter apenas um segundo de avanço nesse parcial (2.02.18), mas foi a partir daí que a atleta de Rio Maior começou a ganhar vantagem, dobrando já os 30 quilómetros quatro segundos à frente (2.26.35).

A partir daí, foi Inês contra Inês: a portuguesa arrancou de vez para o triunfo, passando os 35 quilómetros já com 50 segundos de avanço da chinesa, e teve de fazer o resto da prova sozinha a combater o natural desgaste que a dureza da competição impõe. A margem foi aumentando (1.50 aos 40 km) e fazia-se já contas à possibilidade de recorde mundial, que estava fixado desde janeiro em Porto de Mós nos 4.08.25. Confirmaram-se os dois cenários: medalha de ouro e melhor marca de sempre (4.05.56).

A chinesa Hang Yin terminou no segundo lugar com o tempo de 4.08.58, à frente da compatriota Shuqing Yang (4.20.49). Kathleen Burnett acabou na quarta posição com 4.21.51, ao passo que Erin Talcott, Nair da Rosa e Susan Randall não acabaram.

Na prova masculina, o francês Yohann Diniz (neto de português) confirmou o estatuto de recordista mundial (3.32.33) e sagrou-se pela primeira vez campeão do mundo com o tempo de 3.33.12 (recorde em Campeonatos do Mundo), depois da prata conseguida em Osaka há dez anos. O gaulês já tinha ganho também três Europeus na disciplina.O resultado acaba por ser uma espécie de “vingança” do que tinha acontecido nos últimos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, onde sofreu inúmeros problemas físicos e gástricos ao longo da prova mas terminou ainda assim na oitava posição.

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O pódio ficou completo com dois japoneses: Hirooki Arai, que fez a melhor marca do ano (3.41.17), e Kai Kobayashi, que superou o seu recorde pessoal (3.41.19).

João Vieira, que terminou no 11.º lugar, foi o melhor português, com uma ponta final de prova muito forte que colocou a marca alcançada nestes Mundiais (3.45.28, a melhor do ano) muito próxima do recorde nacional. O marchador de 41 anos também de Rio Maior, que já somou duas medalhas em Europeus nos 20 km marcha (prata em 2010, bronze em 2006), conta com um fabuloso currículo em termos nacionais e tinha também acabado no 11.º posto nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, nos 20 km marcha (desistiu nos 50 km marcha).

Pedro Isidro, o outro atleta nacional na prova, acabou no 32. lugar com o tempo de 4.02.30.