Durante alguns anos, Tiago Pereira era aquela promessa que via os anos passar sem conseguir aquela medalha internacional que todos há muito anteviam. Pior: durante alguns anos, Tiago Pereira tem vivido à sombra de Pedro Pablo Pichardo, maior figura do triplo salto que ganhou tudo o que havia para ganhar nas últimas duas temporadas até entrar num período de completa indefinição sobre o que poderá valer em 2024. Também por isso, o quarto lugar na final dos últimos Campeonatos da Europa em Pista Coberta tiveram um peso extra naquilo que era o seu trajeto. Ali, à partida, estava a tal oportunidade que tanto desejava.

“Sinto-me frustrado, por ficar ali tão perto das medalhas. O salto que consegui ao quarto ensaio, acima dos 16,50 metros, era o que pretendia fazer a abrir o concurso mas não deu. Depois foi correr atrás do prejuízo. As marcas que deram as medalhas estão ao meu nível e eram possíveis. Não vou ao pódio e sou eu o único culpado. Ainda estou a procurar os tempos certos dos saltos e sinto que bastava o meu melhor para estar lá em cima, no pódio”, lamentou depois dessa decisão em Istambul, que voltou a ter Pichardo como o vencedor incontestável. No entanto, já com 30 anos, Tiago Pereira tinha mais uma vida. E valeu a pena.

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Assumindo-se como a grande figura nacional do triplo salto nos Mundiais de pista coberta perante as duas ausências por lesão de Pedro Pablo Pichardo e Patrícia Mamona, o atleta do Sporting chegava a esta final em Glasgow como uma espécie de outsider em termos de luta pelas medalhas. O ano estava a ser positivo, logo a começar pelo terceiro título consecutivo no Campeonato de Portugal e pelo estabelecimento de um novo recorde pessoal em Pista Coberta com 17,02 que lhe valeram o segundo lugar no meeting de Torun, a qualificação direta para os próximos Europeus de Roma e a ascensão a quarto atleta português a passar dos 17 metros depois de Carlos Calado, Nelson Évora e Pichardo. No entanto, isso era só o início.

Depois de um primeiro salto nulo, como aconteceu com quase metade dos 14 finalistas, Tiago Pereira fez 16,74 na segunda tentativa e subiu à quinta posição com algum conforto em relação à passagem aos saltos finais. O argelino Yasser Mohammed Triki liderava o concurso com um 17,35 a abrir que poderia ser marca para ouro, Hugues Fabrice Zango, atleta do Burquina Faso habituado a estas andanças e um dos favoritos ao triunfo, tinha feito 17.33 e estava na corrida, Yaoqing Fang (China, 16,93) e Emmanuel Ihemeje (Itália, 16,90) lutavam pelo bronze. Na terceira tentativa, o norte-americano Donald Scott passou para quinto com 16,77 e era com estes registos que se chegava à fase decisiva dos três derradeiros saltos para os oito melhores.

Aí, as coisas começam a mexer de novo mas apenas entre os dois primeiros, com Triki a abdicar dos saltos e Zango a conseguir saltar para a liderança no quinto ensaio, fazendo a melhor marca da temporada a 17,53 que deixou o argelino sem resposta com a medalha de prata em forma de prémio de consolação. Em relação ao bronze, continuava tudo em aberto sendo que ninguém conseguira passar os 17 metros. Fang liderava com 16,93, tendo por perto Ihemeje e Scott. Tiago Pereira, que andou a arriscar ao máximo fazendo com isso mais três nulos, teve o seu momento de inspiração e ganhou mesmo o terceiro lugar, com uma última tentativa a 17,08 que deixou a concorrência sem argumentos e deu a primeira medalha a Portugal em 2024, melhorando também em seis centímetros o recorde pessoal que tinha alcançado em fevereiro na Polónia.

De recordar que, nos últimos 15 dias, Portugal tem um histórico em finais de Mundiais em Pista Coberta no triplo salto masculino: Nelson Évora conseguiu duas medalhas de bronze em 2008 (Valência) e em 2018 (Birmingham), Pedro Pablo Pichardo ganhou a medalha de prata em 2022 (Belgrado) e agora Tiago Pereira conquistou também a medalha de bronze em Glasgow. Em termos globais, a Seleção alcançou a 16.ª medalha em Mundiais em Pista Coberta, entre cinco ouros, cinco pratas e agora seis bronzes.