Mais de 6.000 pessoas participaram este fim de semana naquela que foi a maior marcha de extrema-direita das últimas décadas, em Charlottesville, nos EUA. O cortejo, organizado sob o lema “Unir a Direita”, teve de tudo: bandeiras da Confederação (um dos principais símbolos do supremacismo branco nos EUA), bandeiras nazis, roupões brancos do Ku Klux Klan e gritos de ódio. A marcha viria a ganhar contornos trágicos quando um jovem de 20 anos com ligações à extrema-direita pegou num carro e investiu contra uma multidão que se manifestava contra a marcha, matando uma mulher de 32 anos e deixando várias pessoas feridas.
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O cortejo foi organizado por Jason Kessler, um apoiante fervoroso de Donald Trump que é presidente da Unity and Security for America, organização supremacista branca que se dedica a “proteger o Ocidente” e que faz lóbi junto do poder político com o objetivo de aumentar as restrições à imigração. Um dos principais objetivos de Kessler é precisamente “unir a direita”, lema que deu à marcha. Isto porque da extrema-direita americana fazem parte diversos grupos extremistas, da Alt-right (que até tem ligações fortes à administração Trump) aos grupos neonazis, passando pelo Ku Klux Klan e por outros movimentos menores. Mas quem são e de onde vêm, afinal, os supremacistas brancos dos Estados Unidos?
Alt-right
A alt-right (abreviatura em inglês para ‘direita alternativa’) é um dos grupos que mais influência têm ganho nos últimos tempos, sobretudo devido à proximidade com a administração Trump. É que apesar de Donald Trump já ter condenado o grupo — depois de apoiantes da alt-right terem celebrado a sua eleição com a saudação nazi –, a verdade é que convidou Steve Bannon, antigo líder do Breitbart (site noticioso da alt-right) para seu assessor.
“Alt-Right”. Quem são os radicais que Donald Trump leva para o poder
Além de Steve Bannon, a alt-right tem vários outros rostos conhecidos, como escrevia o Observador em novembro. Um deles é precisamente o do académico que terá cunhado o nome do movimento, Richard Spencer, que defende que pessoas de diferentes raças devem viver separadas. Senão, “nunca haverá paz”, assegura. Outro é o britânico Milo Yiannopoulos, sem dúvida o rosto mais excêntrico da alt-right, defensor de uma “identidade ocidental” e conhecido por provocar qualquer minoria — tanto que foi permanentemente expulso da rede social Twitter.
No sábado, centenas de americanos associados à alt-right estiveram em Charlottesville e dizem que a marcha da direita foi uma grande vitória. “É uma vitória fenomenal. As nossas ideias são tão poderosas que a polícia tem de quebrar a lei e usar violência contra nós para nos calar. Isto mostra que nós somos uma ameaça inacreditável para o sistema”, disse um dos manifestantes ligados à alt-right citado numa reportagem da The Atlantic.
Ku Klux Klan
O Ku Klux Klan é talvez o mais conhecido movimento extremista dos Estados Unidos e atravessou toda a história do século XX do país. O primeiro movimento, dominado pelos ideais da supremacia branca, apareceu logo em 1865, depois da Guerra Civil Americana, e foi fundado por antigos militares da Confederação dos Estados esclavagistas do sul. Mas o movimento original durou pouco, e só em 1915 é que se espalhou a nível nacional, chegando a contar com mais de seis milhões de membros.
O KKK levou a cabo inúmeros rituais e assassinatos, servindo-se frequentemente de crucifixos em chamas (como forma de manifestar a sua oposição face à Igreja Católica) e de trajes brancos, com que ocultavam as suas identidades.
O movimento ainda existe atualmente, mas de forma muito mais discreta, com cerca de cinco mil membros. É hoje um movimento neonazi que recupera muitos dos símbolos do movimento original, como os roupões brancos e as coberturas cónicas na cabeça. Em Charlottesville foram visíveis dezenas de tochas e capuzes brancos, símbolos tradicionais do Ku Klux Klan.
Ku Klux Klan declara apoio a Trump. Candidato Republicano rejeita-o
Em novembro do ano passado, poucos dias antes da eleição que levaria Donald Trump ao poder, o jornal oficial do movimento, o The Crusader, declarou publicamente o apoio do grupo a Trump. Colocando uma imagem de Trump na capa acompanhada da legenda “Make America Great Again” (“Tornar a América grande novamente”), o KKK anunciava em público o seu voto em Trump, mas o candidato republicano apressou-se a rejeitar o apoio da organização.
Grupos neonazis
Além de símbolos do KKK e de elementos da alt-right, eram muitas as referências ao nazismo — nomeadamente os braços no ar a fazer a saudação nazi e até uma bandeira com a suástica no meio da marcha de Charlottesville. Os EUA têm atualmente um conjunto de grupos nazis organizados, como o Partido Nazi Americano, o Movimento Nacional Socialista ou a Aliança Nacional. Um grupo ligado à Aliança Nacional, chamado Vanguard America, participou na marcha deste fim de semana com centenas de elementos, escreve a BBC.
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O Movimento Nacional Socialista, por exemplo, tem grupos locais em mais de 30 estados. Já a Aliança Nacional tinha, em 2012, cerca de 2.500 membros em todo o país. Estes grupos estão sobretudo sediados no sul do país, muitos deles no estado da Virgínia, precisamente onde aconteceu a marcha deste sábado.