O pai, Gilberto, é espanhol, jogava como médio ofensivo e passou pelos bascos do Barakaldo. A mãe, Maria Willemsen, era holandesa, não jogava futebol mas quis chamá-lo Marco em homenagem a Van Basten, o seu grande ídolo. Com esta mistura, era possível Asensio não dar jogador? Naaaa, impossível. Só o Barcelona é que se atrasou a perceber isso e, por causa de dois milhões de euros, não o viu marcar a Navas mas sim a Ter Stegen.
Sem Cristiano Ronaldo, Zidane quis inovar. Vai daí, manteve Benzema no eixo central do ataque mas poupou Isco e Gareth Bale (além de Casemiro, outra surpresa) para lançar as setas ofensivas Lucas Vázquez e Asensio. Mais uma vez, o primeiro jogou muito e o segundo, além de fazer outra jogatana, marcou o primeiro golo do triunfo do Real Madrid por 2-0, que confirmou a conquista da Supertaça de Espanha frente ao Barcelona.
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Nascido em Palma de Maiorca, Asensio começou a jogar no Platges de Calvià (onde uma das grandes figuras históricas é o irmão mais velho, Igor) mas passou para o Maiorca com apenas dez anos. Era bom, mesmo bom, mas tinha um problema que fazia torcer o nariz nas análises dos olheiros: as dores de crescimento nos joelhos que só mais tarde acabariam por ser debeladas. Em 2013/14, com 17 anos, época em que começou na equipa B mas não demorou a chegar ao conjunto principal, faziam fila para vê-lo jogar.
Alguns observadores dos maiores clubes costumam assumir que um miúdo com técnica e habilidade canhoto dá muito mais nas vistas do que um destro. Verdade ou não, o Real Madrid chegou-se à frente, em novembro de 2014, com 3,9 milhões de euros pelo ala. Foi aceite, com a condição de terminar a temporada em Palma de Maiorca. Na época seguinte, esteve também cedido (agora ao Espanyol), voltou para ficar em 2016/17, com 20 aninhos, preparado para aprender com os melhores jogando com eles. E para início de conversa, não foi nada mau: dez golos em 38 partidas, incluindo aquele que fechou a goleada na final da Liga dos Campeões frente à Juventus.
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“O Zidane era o meu ídolo quando era mais novo, tinha um poster dele no quarto. É um grande orgulho para mim poder ser agora treinado por ele porque posso aprender muito com ele. Lembro-me quando os meus pais me deram uma bola quando era miúdo. Jogava futebol e muitos outros desportos, mas sempre fizeram ver a importância dos estudos. Já aí, não sei porquê, era do Real Madrid”, contou ao site do clube
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Era do Real Madrid, é do Real Madrid, ficará na história do Real Madrid. E porquê? Porque mais ninguém consegue ser como ele: em cinco provas onde se estreou pelos merengues, marcou sempre. Ora contem lá: em agosto, há um ano, fez o primeiro jogo na Supertaça Europeia frente ao Sevilha, apontou um golo e o Real ganhou (3-2); 12 dias depois, fez o primeiro jogo na Liga frente à Real Sociedad, apontou um golo e o Real ganhou (3-0); em outubro, fez o primeiro jogo na Champions frente ao Légia de Varsóvia, apontou um golo e o Real ganhou (5-1); uns dias depois, fez o primeiro jogo na Taça de Espanha frente ao Cultural Leonesa, apontou dois golos e o Real ganhou (7-1); no domingo, fez o primeiro jogo na Supertaça de Espanha frente ao Barcelona, apontou um golo e o Real ganhou (3-1).
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Mas isso só acontece porque o Barcelona se recusou a pagar dois milhões de euros. Sabe quem é Horacio Gaggioli? É “apenas” o homem que conseguiu desbloquear a ida de Messi do Newell’s para o Barcelona. E o homem que referenciou Asensio mal o viu, como contou ao Bleacher Report.
“Era grandíssimo, um grande jogador. Espetacular, em todos os sentidos, capaz de fazer coisas que só vi fazer a jogadores como o Messi. É uma pessoa que consegue atrair as outras pessoas para ele. Poucas pessoas conseguem ser assim, mas ele era”, contou Horacio Gaggioli
Como destacou a Marca, no início da temporada 2014/15 Asensio, que perdeu a mãe com 15 anos, vivia com o irmão, que entretanto tinha deixado o futebol e estava na academia de polícias, e com o pai, que trabalhava num supermercado, recebendo mil euros por mês do Maiorca. O Barcelona foi o primeiro grande a apresentar uma proposta pelo extremo: 2,5 milhões de euros mais dois milhões quando se estreasse na Liga. A equipa das Baleares foi irredutível: 4,5 milhões ou nada. Os catalães não avançaram e, segundo Gaggioli, arrependeram-se três meses depois.
Entrou em cena o Real Madrid com um ás de trunfo (uma expressão que neste caso é bem apropriada): Rafa Nadal, natural de Palma de Maiorca e fã do Real Madrid, ligou ao presidente Florentino Pérez para que assinassem com o talento espanhol. E Florentino ligou a Asensio. “Relaxa Marco, vais ser jogador do Real Madrid”, assegurou. Com outro pormenor curioso: o negócio fez-se “apenas” por 3,9 milhões de euros.
Mas o impacto de Asensio, com 21 anos, chegou a outros níveis impensáveis para muitos: como o pai é do País Basco, o Athletic Bilbao chegou mesmo a pensar alterar de forma ligeira a regra de atuar apenas com jogadores nascidos lá mas, como contou o antigo selecionador, Javier Clemente, ao OK Diário, o processo não chegou a avançar com a celeridade necessária, algo que provavelmente seria diferente nos dias que correm.
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⚽️ Supercopa de Españahttps://t.co/Z0PaMwBver— Real Madrid C.F. (@realmadrid) August 14, 2017
E voltamos agora ao jogo, que teve pouca história: a primeira parte foi um chocolate tão grande, tão grande, tão grande que o Barcelona não mais se conseguiu reerguer, apesar de ter ainda atirado uma bola à trave por Messi e outra por Suárez. Asensio e Benzema fizeram os golos dos merengues, Lucas Vázquez ainda acertou também no poste, mas o que ficou sobretudo na retina foi o esmagador domínio do Real Madrid, que explorou as debilidades de um conjunto blaugrana a sofrer fortes dores de crescimento no novo modelo de jogo adotado por Ernesto Valverde. Ronaldo, castigado, não jogou, ao contrário de André Gomes (saiu aos 72′ para dar lugar a Deulofeu) e Nelson Semedo, que se estreou pelo Barça aos 50′ rendendo o central Piqué.
O Real Madrid-Barcelona começou às 23 horas de 16 de agosto, em Espanha, e acabou perto da 1h da manhã do dia seguinte, 17 de agosto. É tarde? Talvez. Mas para ver jogar miúdos como Asensio, até se consegue fazer uma direta. E é bom não esquecer que hoje Ronaldo ficou na bancada e Isco e Gareth Bale começaram no banco: o ataque dos campeões europeus tem um misto de juventude e experiência que se torna explosivo.