Aos 25 anos o diagnóstico de esclerose múltipla colocou-lhe uma nuvem negra sobre a cabeça e foi o desporto a conseguir encostar a doença a um canto. Hoje, sete anos depois, prepara-se para entrar numa das mais duras provas desportivas.
Alexandre Dias vai este fim-de-semana participar no triatlo Ironman 70.3, que se realiza pela primeira vez em Portugal, em Cascais. Mas esta prova é quase como uma preparação para o desafio a que se vai propor no fim do mês, em Barcelona: um triatlo com 3,8 Km de natação, 180 Km de ciclismo e 42 Km de corrida. No domingo, a prova de resistência Ironman, em Cascais, tem cerca de metade do percurso do Ironman que Alexandre sonha conquistar em Barcelona no dia 30 deste mês.
Há cerca de quatro anos, Alexandre Dias pesava 116 quilos, vivia entregue à fadiga geralmente associada à esclerose múltipla e nem sequer sabia nadar. Pesa atualmente 87 quilos e já realizou cerca de 60 provas, entre as quais sete maratonas e um triatlo de média distância. Para participar em triatlos, aprendeu a nadar há dois anos e assume que a natação continua a ser o seu “calcanhar de Aquiles”.
Descobri o desporto há quatro anos, foi um processo gradual de aceitação da doença. Fui diagnosticado aos 25 anos, estive três anos com uma nuvem negra sobre mim. Cheguei aos 116 quilos aos 28 anos e então decidi cansar-me de estar cansado”, conta à agência Lusa.
A dedicação de Alexandre ao desporto, que hoje considera como “um vício saudável”, surge quando conhece, nas redes sociais, uma dinamarquesa portadora de esclerose múltipla e que, num ano, tinha realizado 366 maratonas, em 365 dias.
Começou então um processo progressivo, sempre “respeitando o corpo”. Começou a correr diariamente três quilómetros e, passado um ano, cumpria os 42 quilómetros de uma maratona.
“No ano seguinte fiz três maratonas num mês. Depois de já ter explorado um pouco a corrida, vi imagens do Ironman e fiquei com ‘pele de galinha’. Mas na altura não sabia nadar. Decidi aprender a nadar e experimentei o triatlo longo”, relata.
Alexandre Dias está certo de que a atividade física mudou “radicalmente” a sua vida e só muito esporadicamente tem episódios de fadiga que são típicos na esclerose múltipla.
“Tenho esclerose múltipla mas, neste momento, faço uma vida completamente normal. O desporto tem sido o meu aliado. A esclerose múltipla está cá, mas está encostadinha a um canto”, refere à Lusa.
Alexandre lembra que todos os casos da doença podem ser diferentes e que a esclerose múltipla é “a doença das mil caras”. O importante, afirma, é aprender a ir respeitando o corpo.
A esclerose múltipla é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa, que afeta o sistema nervoso central e surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos. Os sintomas são muito variáveis e podem ir da fadiga à inflamação do nervo ótico, passando por alterações da sensibilidade ou equilíbrio.
A vida de Alexandre Dias rege-se atualmente por três pilares essenciais: alimentação saudável, exercício físico e terapêutica, que ajuda a controlar uma doença ainda sem cura.
A descoberta de uma cura para a esclerose múltipla é, aliás, uma das grandes esperanças do atleta, que, até lá, quer preservar o seu corpo.