O presidente da Câmara do Porto e o diretor do Teatro Municipal do Porto chamaram os jornalistas ao Rivoli para apresentarem a programação artística de setembro até dezembro, mas também para fazerem o balanço desta primeira nova vida do Rivoli e do Teatro do Campo Alegre. Três anos de programação custaram à autarquia dois milhões e meio de euros e traduziram-se em cerca de 350 mil espectadores, 450 espetáculos, 130 workshops e masterclasses e 250 sessões, entre conversas, oficinas e encontros com artistas. Se ambos forem reconduzidos nos respetivos cargos, a estratégia é para manter.

Tiago Guedes assumiu a direção do novo Teatro Municipal do Porto (Rivoli e Campo Alegre) em agosto de 2014. O mandato terminou em agosto passado mas a Câmara entendeu que, a menos de dois meses das eleições autárquicas, não deveria reconduzir o bailarino e coreógrafo. Assim, o mandato foi prolongado por mais um ano, até agosto de 2018 e quem sair vencedor das eleições decidirá. “Se vier outro Executivo, pode definir uma linha radicalmente diferente e este teatro tem essa história. Veremos”, diz Tiago Guedes ao Observador.

Por agora, e sem saber o que o futuro reserva, Tiago Guedes prepara a nova temporada, orgulhoso do rumo do Rivoli e do Campo Alegre. Se for para ficar, continuará a missão original: apostar na internacionalização e na relação com as companhias da cidade. “Não acho que se tenha de estar sempre a inventar, este projeto é muito jovem, tem três anos, não vejo necessidade de mudar o rumo.

Isso não quer dizer que não haja novos projetos e parcerias. “Agora temos dois artistas associados que vão trazer uma energia nova ao teatro, sempre dentro de uma missão definida por este Executivo”, explica o diretor, referindo-se ao coreógrafo Marco da Silva Ferreira e ao encenador Jorge Andrade, ambos da companhia Mala Voadora.

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Do total de perto de dois milhões e meio de euros investidos em três anos, um milhão foi para o ano de 2017. “A Câmara tem vindo a investir na Cultura e, nesse sentido, o Teatro Municipal tem tido um reajuste nos seus valores”, explica Tiago Guedes, sobre o aumento gradual do orçamento. A programação, centrada no teatro e na dança contemporânea, aposta nas estreias e nas coproduções. O espetáculo de abertura, uma estreia nacional, está marcado para 15 de setembro com “Le Syndrome Ian“, última parte da trilogia que o francês Christian Rizzo construiu à volta de várias tipologias de dança.

“Horses” é um espetáculo de dança que junta cinco crianças e cinco adultos. © kurt van der elst

No fim de semana de 16 e 17 de setembro há um momento de ópera contemporânea no auditório do Campo Alegre. O Quarteto Contratempus estreia “As Sete Mulheres de Jeremias Epicentro“, que “mistura o lado real com o lado virtual”, resumiu Tiago Guedes, na apresentação. “Infelizmente não existem muitos projetos de ópera contemporânea”, diz ao Obervador, para explicar que o foco do teatro municipal são as artes performativas contemporâneas. Reconhece que há falta de ópera no Porto, mas esse trabalho terá de ser feito pelas instituições dedicadas à música, como é o caso do Coliseu do Porto e da Casa da Música.

O foco do Teatro Municipal nas artes performativas poderá ser ainda mais intenso quando o Cinema Batalha começar a passar filmes e quando o Aniki Bobó reabrir enquanto espaço dedicado à música alternativa e experimental, explicou o diretor. “Mas isso depende do próximo Executivo“, acrescentou Rui Moreira, lembrando que são projetos-promessa para o próximo mandato e que, caso seja eleito um novo presidente nas eleições autárquicas de 1 de setembro, terá liberdade para os suspender.

O mesmo para o Teatro Sá da Bandeira, que a Câmara decidiu comprar, e cujo negócio aguarda aprovação do Tribunal de Contas. “É cedo ainda para dizer se vai ser integrado [no Teatro Municipal do Porto]“, respondeu o autarca, embora revelando que, antes da aquisição, falou com Tiago Guedes. Salientando que o equipamento precisa de obras antes de voltar à atividade artística, Rui Moreira não quis adiantar que visão tem para aquele teatro. “Mas não temos nenhuma fobia ao teatro comercial”, salvaguardou.

Teatro e dança: 30 espectáculos para ver depois do verão

Enquanto não há novos equipamentos, o Rivoli continuará a ser casa de cinema e música. Prossegue o ciclo Porto Best Of, curado pelo músico Miguel Guedes, dos Blind Zero, com o primeiro momento marcado para 19 de outubro: concertos de Clã e Best Youth. E também o ciclo Understage, que traz o baterista Greg Fox, autor de mais de 50 discos ao Rivoli no dia 5 de setembro. O ciclo é feito em parceria com a Lovers & Lollypops, Matéria Prima e agora também com a Amplificasom.

No cinema, destaque para o regresso do festival internacional Queer, para a Festa do Cinema Francês, para o Porto/Post/Doc e para a 4.ª Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista. O encerramento do programa “Cultura em Expansão”, agendado para 17 de dezembro e com destaque para a atuação do grupo Oupa!, também vai ter cinema. O realizador português João Salaviza e o brasileiro Ricardo Alves Jr. vão mostrar, em estreia mundial, o resultado de uma residência feita no verão deste ano junto do Cultura em Expansão, um projeto de intervenção social e artística.

Na peça “Five Easy pieces, Milo Rau parte da história verídica do pedófilo Marc Dutroux para questionar a nossa vida priva e pública. “Foi um dos grandes destaques da última temporada”, diz Tiago Guedes. © philedeprez

Os espetáculos de dança “Horses“, de produção belga, “Para que o céu não caia”, da brasileira Lia Rodrigues, “Dança Doente”, de, segundo Tiago Guedes, “um dos nomes mais radicais da dança”, Marcelo Evelin, e “Dancing Grandmothers”, da sul-coreana Eun-Me Ahn — “considerada a Pina Bausch da Ásia”, diz Tiago Guedes –, são alguns dos destaques.

No teatro, especial atenção para o espetáculo “Five Easy Pieces“, do suíço Milo Rau, “Medeia”, uma estreia da companhia Público Reservado, “Viejo, Solo y Puto” de Sergio Boris, uma das grandes revelações do teatro da Argentina, e para “Crevescer“, inserido no programa Foco Famílias, sobre um pai que não quer fazer 40 anos e um filho que tem pressa de crescer.