A Moody’s considera que os maiores bancos portugueses têm feito progressos na melhoria da qualidade dos ativos e no reforço de capital, mas que o ainda elevado crédito problemático e a baixa rentabilidade persistem como problemas.
A agência de ‘rating’ divulgou esta quinta-feira a análise à Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander Totta, Novo Banco, BPI e Montepio feita por María Viñuela, analista da Moody’s que acompanha o sistema bancário de Portugal.
Quanto ao risco dos ativos que os bancos têm no seu balanço, a Moody’s destaca os mais baixos rácios de crédito problemático (NPL – non-performing loans, na gíria do setor em inglês) do Santander Totta (7,7% do total de crédito em junho) e do BPI (7%), enquanto considera que a CGD e o BCP que têm feito progressos, mas mais lentamente (ainda com rácios ainda de 13,5% e 17%, respetivamente).
Já Novo Banco e Montepio têm, segundo a Moody’s, a pior qualidade de ativos, com rácios de crédito malparado à volta de 32% e 20%, e considerando ainda que as suas provisões são fracas.
Para a Moody’s, “até ao momento, a recuperação económica de Portugal ainda não foi robusta o suficiente para levar a uma redução significativa” do crédito problemático, enquanto em Espanha os bancos têm conseguido retirar este ‘peso’ do seu balanço, através de vendas de ‘portfolios’ desses créditos.
Já quanto à capitalização dos bancos, genericamente a Moody’s considera que houve um fortalecimento dos rácios de capital, destacando pela positiva a capitalização do Santander Totta e do BPI, ambos detidos por grupos bancários espanhóis. O Santander Totta pertence ao espanhol Santander e o BPI é controlado pelo grupo catalão Caixabank.
Quanto ao BPI, a Moody’s alerta, contudo, que os rácios de capital deste não capturam totalmente os riscos da exposição ao mercado angolano (onde tem o BFA – Banco de Fomento de Angola).
A empresa de notação de crédito destaca ainda como positivos os recentes aumentos de capital do BCP, CGD e Montepio, mas ainda abaixo da média do grupo analisado, enquanto o Novo Banco é o que apresenta piores indicadores em rácios de capital
A Moody’s refere-se, em específico, ao Novo Banco e Montepio para afirmar que os seus níveis de capital têm baixa capacidade de absorção de perdas.
A prejudicar os bancos portugueses no esforço de capitalização está, segundo a Moody’s, a sua baixa rentabilidade.
Segundo María Viñuela, CGD, Montepio e Novo Banco têm uma capacidade de gerar resultados “particularmente fraca”, e ainda demorará a que a reestruturação que estes bancos levaram e ainda estão a levar a cabo se reflita em melhores resultados.
Já no BCP e BPI, diz, a rentabilidade é suportada pelas operações internacionais que detêm.
Apenas o Santander Totta escapa nesta análise, uma vez que tem tido lucros significativos.
Quanto ao processo de venda do Novo Banco, a Moody’s espera que esse reforce os seus níveis de capital, mas avisa dos riscos de liquidação do banco se a venda não se concretizar, uma vez que está dependente da recompra de dívida própria por parte do banco, ainda em curso.
A liquidação do Novo Banco deverá implicar perdas para os detentores de dívida sénior, mas também para os depositantes ‘juniores’, avisa.
O Governo anunciou na semana passada que vai alterar as regras de hierarquização de credores nos casos de resolução ou liquidação bancárias, distinguindo dívida sénior de grandes depósitos – que pertençam a grandes empresas, de entidades públicas e de fundos de pensões – para que estes sejam os últimos a ser chamados, ficando mais protegidos.
Segundo a imprensa, esta alteração tem em vista precisamente o caso do Novo Banco, para proteger os grandes depósitos, caso o banco não seja vendido e tenha de ser liquidado.
É que, na legislação, atualmente, em vigor, se o banco alvo de insolvência ou de resolução não tiver fundos suficientes para fazer face a todos os passivos, “há uma graduação de credores que coloca ao mesmo nível a dívida sénior e os depósitos de grandes empresas.”
Esta alteração legislativa, que terá de ainda de ser aprovada em Conselho de Ministros e depois também no parlamento, surge na sequência de uma proposta do Banco de Portugal.