Tudo começou com o “passa a palavra” até nascer um site na Internet que, num ano, fez 350 mil euros a vender smartphones seminovos. “Não são recondicionados ou em segunda mão, são como novos”, garante ao Observador o fundador, José Costa Rodrigues. É isto que faz a Forall Phones: promete vender modelos topo de gama com um preço até menos 40% ao praticado no mercado. A abertura da primeira loja física está marcada para o início de outubro.

José, hoje com 21 anos, teve a ideia com 16 para permitir que qualquer pessoa possa ter um telefone “de topo” sem gastar “um balúrdio”. Como muitos outros adolescentes, queria um iPhone. A resposta dos pais foi semelhante à de tantos outros: “Não te vamos dar um telemóvel de 500 euros”. Mal sabiam que com a “nega” estavam a ajudar o filho a começar o seu próprio negócio.

Como conta ao Observador, foi com “uma playstation portátil e tralha lá de casa” que José juntou dinheiro para o iPhone 4s que tanto queria. Mal conseguiu a maquia necessária decidiu ser poupado e, em vez de ir a uma loja típica, usou o OLX, o famoso site de compras em segunda mão, para comprar o desejado smartphone.

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De um iPhone, José Costa Rodrigues passou a vender centenas, tendo vários em exposição na nova loja para os consumidores poderem experimentar

O amor pela máquina da Apple foi efémero e um mês mais tarde “estava a revender o iPhone 4s com lucro”, diz-nos. Foi aí que o jovem empreendedor de Ourém viu que era possível usar um bom telemóvel e ainda ganhar dinheiro com isso. Nascia aqui a ideia que mudaria a vida de José.

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Com o ganho da primeira revenda começou a comprar telemóveis “de amigos e familiares”. Rapidamente nasceu um pequeno negócio. Foram dois anos assim, até que as vendas já estavam a crescer mais do que a mesa da sala de jantar — onde José geria as operações — e criou a marca “Forall Phones” (telefones para todos, em português).

“Fiz uma página de Facebook e estava pronto a criar uma grande empresa, mas não deixava de ser apenas um miúdo de 18 anos com uma página com zero gostos”, conta.

Foi aí que decidiu criar a “rede de embaixadores”. Através de “amigos influentes” da escola secundária, José partilhava descrições e fotografias dos produtos que tinha. Os amigos vendiam-nos ganhando uma comissão. Em apenas três meses fez 70 mil euros.

Do primeiro empregado a “roubar” colaboradores à Deloitte

Com dinheiro “a sério”, contratou a primeira colaboradora, a Vitória. Hoje, a Vitória não só continua a fazer parte da equipa da Forall Phones, como trocou Ourém por Lisboa com a mudança da empresa para a capital, no início de 2016. Foi nesse ano que a startup foi oficialmente criada e vendeu 350 mil euros em produtos.

“Foi uma aprendizagem gigantesca. Errámos muito, como continuamos a errar agora. Mas, felizmente, já não cometemos os erros de 2016”, assume José.

O primeiro ano da Forall Phones coincidiu com o primeiro ano de José na faculdade. A fazer o curso de gestão no ISCTE Business School, desabafa que “não é nada fácil” conjugar as duas coisas, mas sente o apoio dos colegas e da direção da faculdade em fazer crescer o seu negócio. Não só não se desleixa nos estudos, como aproveitou para “caçar talentos” entre os colegas. Dos 14 colaboradores que já emprega, vários foram recrutados na sua faculdade, cativados com a startup que tinha criado.

No entanto, não foi só na universidade que encontrou trabalhadores-estudantes que hoje colaboram com a Forall Phones. Na equipa, há quem venha de empresas como a Uniplaces e até quem tenha largado um emprego na Delloite para se dedicar a esta startup. É o caso do diretor financeiro, Manuel Castel-Branco. Começou como conselheiro, pelo conhecimento que tem em finanças. Após seis meses, viu o potencial do negócio e largou o cargo que tinha na consultora para se juntar a José.

Também professor na Universidade Nova de Lisboa, Manuel é dos colaboradores mais velhos e experientes da empresa. A idade? 24 anos. Mais velho do que ele, só o responsável pelas reparações e qualidade dos telefones, que tem 28 anos. Ao todo, a média de idade dos 14 portugueses que trabalham nesta startup é de 22 anos. É na aposta em jovens que “querem e buscam mais” que José Costa Rodrigues aumenta o capital humano.

José lidera a Forall Phones e estuda Gestão no ISCTE, onde tem contratado a maioria dos colaboradores da empresa

Com a equipa formada e em funções, José prepara-se para abrir a primeira loja física da Forall Phones. Em Lisboa, mesmo ao pé da Avenida do Brasil (onde fomos recebidos), é aí que também estão os escritório da startup. De uma página de Facebook a site de vendas online, o estabelecimento comercial é a próxima aposta para chegar a mais clientes.

O futuro

De 300 euros iniciais, sem apoios externos, José conta atingir 1 milhão de euros em vendas no final de 2017. Além de smartphones, a Forall Phones também faz reparações e vende acessórios para equipamentos móveis. Mas mesmo assim é preciso chegar diretamente a quem compra, e a aposta em lojas não basta. Foi por isso que voltou a investir no programa de embaixadores, que esteve parado em 2016. Agora foca-se em jovens universitários, sabendo que é neste público que encontra mais clientes.

Com 30 embaixadores ativos e 300 candidaturas em espera para integrar o programa, José Rodrigues quer chegar a todas as universidades do país, continuando a apostar no contacto direto com o consumidor.

Apesar de o público-alvo ter entre 18 e 35 anos, o jovem empresário assume-nos que tem clientes “de todas as idades”. “O nosso objetivo é sermos o número um em Portugal no mercado dos telemóveis seminovos”. Não só em Portugal, como noutros países, o objetivo para os próximos cinco anos é ser a maior empresa de revenda do mundo “orgulhosa de ser made in Portugal“. Para já, quer mostrar que os telemóveis seminovos podem ser tão bons (ou melhores) do que os novos.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.