A guerra entre os veículos eléctricos de grande produção está cada vez mais acesa e, se tudo indicava que o Model 3 da Tesla poderia não ter concorrentes à altura, tanto mais que as propostas alemãs não chegarão antes de 2020, com os I.D. da Volkswagen à cabeça, a Nissan demonstrou que não só conseguiu que o primeiro Leaf se tornasse, desde o seu nascimento em fim de 2010, no eléctrico mais vendido no mundo, como está em condições de tentar, agora com a segunda geração, que ninguém o ultrapasse.
O contacto com o novo modelo japonês teve lugar em Oslo, na Noruega – a capital dos automóveis eléctricos, onde 39% dos veículos são alimentados por baterias –, integrado num evento, denominado Nissan Futures 3.0, onde a marca revelou a sua visão para a mobilidade nos próximos anos, que obviamente prevê ser eléctrica.
Por fora é a grande evolução
Enquanto o primeiro Leaf foi desenhado como um veículo algo estranho e futurista – na nossa opinião, com uma estética que deixava muito a desejar –, segundo os responsáveis pela Nissan, para chamar a atenção pelo facto de ser eléctrico (ainda uma novidade à época), a segunda geração do modelo já não tem essa necessidade, pelo que os estilistas japoneses apressaram-se a corrigir o tiro.
Se é óbvio que os carros eléctricos não necessitam da tradicional grelha, por onde entra o ar para alimentar o motor e refrigerar o radiador dos veículos com motor de combustão, sejam eles a gasolina ou diesel, não é menos verdade que há muito que estamos habituados a ver carros com a frente adornada pelos faróis e grelha, razão pela qual a Nissan fez a vontade à maioria dos consumidores e abraçou esse princípio estético.
Além da nova frente, bem mais consensual, a Nissan dotou o novo Leaf com uma traseira igualmente mais atraente, onde joga com as cores, surgindo uma zona pintada de negro que, juntamente com os pilares B e C na mesma cor, dá a sensação do tejadilho flutuar sobre a carroçaria, reforçando-lhe a personalidade.
Em termos gerais, se o antigo Leaf podia apaixonar alguns clientes, mas afastar muitos outros, especialmente face ao Tesla Model 3 e até ao próprio Renault Zoe, ainda que este último seja mais pequeno, o novo Leaf não vai chocar ninguém, incrementando o seu potencial de vendas.
Como é por dentro?
Com a mesma distância entre eixos (2,7 metros), mas ligeiramente mais comprido (4,48 em vez de 4,445 metros), o novo Leaf oferece sensivelmente o mesmo espaço interior, que é o típico de um carro volumoso do segmento C, aquele do Golf, por exemplo. O espaço à frente é bom e atrás também, com uma posição ligeiramente mais alta do que é habitual, uma vez que continuou a ser necessário alojar as baterias sob os bancos, na base do chassi.
A volumetria agradou-nos, mas o mesmo já não aconteceu com os acessos à traseira. Com a linha do tejadilho a descer consideravelmente na zona do banco traseiro, quem acede a estes assentos e se bem que a porta seja generosa e abra bastante, tem de baixar a cabeça para entrar e sair – isto se não quiser sentir o quão robustos são os materiais do Nissan…
Uma vez ao volante, a posição de condução é correcta, com o Leaf a não ter no interior o arrojo que se esperava em termos de design. Apresenta antes uma proposta que parece sólida e com todos os comandos bem posicionados e de fácil acesso.
Os plásticos não na sua essência duros ao tacto, mas agradáveis à vista, mas surgem alguns detalhes em plástico macio e de melhor qualidade no tablier e portas, inclusivamente com pespontos a imitar pele, para lhe conferir um aspecto mais refinado.
Se a capacidade do habitáculo não aumenta visivelmente – que já era boa para a classe –, o mesmo não acontece com a bagageira. A segunda geração do modelo incrementa os antigos 370 litros, onde se podia alojar os pertences da família, para uns muito mais generosos 435 litros, o que obriga a um esforço menor na hora de fazer as malas e decidir o que nos vai acompanhar, ou não, na deslocação que se aproxima.
Mas o que mais impressiona é a quantidade de equipamento, entre o relativo ao entretenimento e o que visa incrementar a segurança, com o novo Leaf a oferecer mais soluções do que algum outro modelo do construtor. Mas disso falaremos à parte (ponto 4).
Anda mais? E vai mais longe?
Num mercado que não pára de evoluir, com os automóveis eléctricos a oferecerem cada vez mais potência e maior autonomia, cortesia das baterias que, também elas, são capazes de disponibilizar maior capacidade, para o mesmo peso e volume, é natural que o novo Leaf ofereça mais do que o seu antecessor.
O motor de 109 cv é trocado por um novo de 150 cv, com a nova motorização eléctrica a fornecer igualmente mais força, anunciando 320 Nm, em vez dos anteriores 254 Nm, um incremento que certamente se tornará evidente, mesmo para o condutor mais distraído, assim que pressionar o acelerador. Se a tudo isto aliarmos um peso inferior, (1.520 kg, menos 71 kg do que anteriormente), é mais que expectável um maior dinamismo por parte do eléctrico japonês.
Além das potencialidades do motor, a maior diferença reside na capacidade da bateria, com a Nissan (que vendeu a sua fábrica de acumuladores e todo o negócio aos chineses, que ainda assim as continuam a produzir junto à fábrica que a marca tem em Inglaterra e de onde sai o Leaf), a admitir que as baterias do novo modelo são diferentes e mais eficazes do que as do anterior.
E, se são melhores e reivindicam uma maior densidade energética, têm igualmente uma capacidade superior, uma vez que o antigo Leaf usufruía de uma capacidade de 30 kWh (havia uma versão ligeiramente mais barata, mas já retirada, de 24 kWh), ao passo que o novo oferece 40 kWh e promete uma versão ainda maior (60 kWh) já para 2018.
Aos 40 kWh o Leaf faz corresponder uma autonomia de 350 km, bem superior aos anteriores 254 km do modelo da primeira geração com 30 kWh, e um valor muito mais consentâneo com o actual standard do mercado.
Qual é o principal argumento?
Apesar de ser mais atraente e com maior autonomia, não são estes os principais motivos de interesse do novo eléctrico da Nissan. O que vai cativar os clientes, especialmente os que apreciam as soluções tecnologicamente mais avançadas, é o nível de equipamento que o Leaf vai passar a incluir de série, dependendo das versões consideradas, que vão continuar a ser e por ordem crescente, Visia, Acenta e Tekna.
Além do assistente de máximos, sensores de chuva e de máximos, o modelo introduz o e-pedal, um pedal de acelerador que, na realidade, até trava. Parece estranho, mas não deverá ser um problema para a esmagadora maioria dos condutores, pois trata-se de um pedal de acelerador que se por um lado acelera, permite igualmente controlar, pela forma como se reduz a pressão, os diferentes níveis de regeneração. No limite, pode mesmo parar o veículo, mas na prática evita que o condutor tenha de estar sempre a seleccionar o modo ideal de regeneração na desaceleração e travagem através de comandos colocados no tablier ou volante, limitando-se apenas a desalerar mais ou menos, consoante a situação. É complexo? Sim. Vai ser uma dor de cabeça? Não nos parece.
Através do ecrã de 7″ no tablier, o condutor pode aceder ao Nissan Connect EV e controlar uma série de funções, seja através do Apple CarPlay ou do Android Auto (quando este estiver disponível em Portugal). Mas o Leaf pode ainda estar equipado com estacionamento automático, cruise control inteligente, reconhecimento de sinais de trânsito, travagem de emergência com reconhecimento de peões (além de veículos), avisador de saída involuntária da faixa de rodagem, alerta de trânsito em manobras de marcha-atrás e avisador de ângulo-morto.
Curiosamente, apesar da lista ser extensa, falta mencionar o sistema oferecido pelo Leaf que promete ser o mais “badalado”, sobretudo porque é o tecnologicamente mais avançado e por ser uma novidade no mercado – especialmente neste segmento, em que o preço é determinante. Referimo-nos ao ProPilot, que já consegue, hoje, conduzir o Leaf sem intervenção do condutor (na realidade quem vai ao volante tem de, volta e meia tocar-lhe, ou pura e simplesmente “descansar” a mão no volante) e permitir que o carro faça tudo sozinho. Para já, tudo excepto mudar de faixa automaticamente, ou seja realizar ultrapassagens.
Com o cruise control inteligente o Leaf gere a distância para o carro da frente e trava ou acelera consoante o caso, de forma a manter a velocidade que foi programada e evitar embates, para depois o assistente da direcção ser capaz de descrever todo o tipo de curva, nas auto-estradas e vias rápidas – a Nissan anuncia que o ProPilot apenas deve ser utilizado nestas condições –, sendo ainda capaz de mudar de auto-estrada para seguir rumo ao destino programado no sistema de navegação. Não tivemos oportunidade de colocar o ProPilot à prova, mas é algo que faremos, com grande curiosidade, à primeira oportunidade, para ver se está à altura das expectativas criadas pelo construtor japonês.
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E as novidades não ficam por aqui pois, segundo a Nissan, o ProPilot, que agora apenas existe na versão “single lane” (ou seja, sem mudar de faixa), passará a estar disponível a partir de 2018 na versão “multi lane”, já com a capacidade de realizar ultrapassagens. Tanto quanto conseguimos apurar, o ProPilot não dispõe de LIDAR, com a Nissan afirmar que consegue cumprir o prometido com sensores ultrassónicos e uma série de câmaras de alta definição, com o radar a surgir apenas para medir a distância ao carro da frente. No fundo, um sistema simples, mas similar ao que é utilizado pela Tesla.
E quanto vai custar?
O preço é outra das agradáveis surpresas do novo Leaf, uma vez que apesar de ter mais potência, autonomia e equipamento, vai ser proposto pelo mesmo valor do antigo Leaf com bateria de 30 kWh. Ou seja, a versão mais acessível e com menos equipamento (apesar de possuir de série soluções até aqui inexistentes, como o e-pedal), a Visia, será proposta por cerca de 31 mil euros, o que com as ajudas estatais e da marca baixa para um valor próximo dos 26.000€. Isto quando chegar ao nosso mercado, o que acontecerá no primeiro trimestre de 2018.
Na fase de arranque, o Leaf vai ser proposto numa versão especial, denominada 2.Zero, que oferece praticamente todo o equipamento que mencionámos acima, inclusivamente o ProPilot (mas não o parqueamento automático), por um ‘valor-canhão’, segundo promessa do fabricante. Fica por saber qual a dimensão do canhão, uma vez que o preço só deverá ser conhecido nas próximas semanas.