Para a Nissan, o novo Leaf está longe de ser apenas um automóvel eléctrico, mesmo se é o que mais vende no mundo, desde que surgiu há sete anos atrás. Além dos trunfos do modelo, das características que o diferenciam da concorrência, cada vez mais cerrada, o construtor japonês prepara uma série de soluções para tornar a utilização do Leaf mais agradável e, mais do que isso, mais integrada no mundo em que vivemos. E que, no limite, até vão permitir ganhar algum dinheiro por ano. E não é pouco.
O chairman da Nissan Europe, Paul Willcox, não tem dúvidas em relação à vantagem da sua marca face à concorrência no domínio dos veículos eléctricos. “O primeiro Leaf foi alvo de um investimento de 5.000 milhões de euros, realizado numa altura em que poucos acreditavam nos eléctricos, de que já vendemos mais de 300.000 unidades, o que permitiu poupar cerca de 600 milhões de toneladas em emissões de CO2”, afirma. Sendo este argumento associado ao facto de os seus modelos terem percorrido mais quilómetros do que qualquer concorrente, o que, segundo Paul Willcox, confere à Nissan uma vantagem importante neste domínio.
“É chegada a altura da Nissan fornecer mais do que um automóvel eléctrico, e desenvolver uma série de sistemas que o tornem mais seguro e fácil de utilizar, sem que isso obrigue a pagar um preço mais elevado”, disse o chairman da Nissan Europe, acrescentando ainda que a marca nipónica se esforçou para integrar o veículo na sociedade actual, conhecendo as necessidades dos seus condutores e explorando as características de uma rede eléctrica, alimentada cada vez mais por energia alternativas não poluentes.
ProPilot para todos. E por menos de 1.000€
O responsável pelo desenvolvimento do sistema de condução autónoma e respectiva integração no Leaf confessou-nos que o ProPilot, para já, apenas funciona em auto-estradas e vias rápidas, e não tem ainda a capacidade de realizar ultrapassagens, pois não muda de faixa automaticamente. Mas, durante o próximo ano, vai surgir uma versão mais evoluída, que já será capaz de realizar esta manobra, sem intervenção do condutor.
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Por razões legais, a Nissan não pode (nem qualquer outro construtor) permitir que quem se senta ao volante não lhe toque durante tempo indeterminado, pelo que o ProPilot vai pedir que, regularmente, o condutor dê prova de vida. Caso não o faça, o veículo começa por accionar o aviso sonoro, a que se segue uma travagem brusca. Se continuar a não haver reacção, o Leaf vai reduzir progressivamente velocidade, acabando por encostar na berma. Mas basta que o condutor toque no volante, volta e meia – ou ‘descanse’ uma das mãos, apoiando-se nele –, para que o Leaf consiga ir de Lisboa a Barcelona, sempre por auto-estrada, pois o ProPilot até é capaz de mudar de auto-estrada se a isso for ‘obrigado’ pelo sistema de navegação.
O mais interessante, do ponto de vista do consumidor, é que este sistema de condução autónoma foi concebido para ser acessível. Isto porque num veículo em que o preço é determinante, não faz sentido propor uma solução que os clientes possam achar interessante, mas por um valor que oscile entre os 5.000 e os 10.000€… Para tal, o sistema foi desenvolvido numa fórmula similar ao da Tesla, ou seja, recorrendo apenas a câmaras de vídeo de alta-resolução e a sensores – ou seja, sem os dispendiosos LIDAR –, com o único radar a destinar-se a medir a distância ao carro da frente.
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A marca sublinha que foi realizado um grande esforço para que o valor do ProPilot não ultrapassasse os 1.000€. Isto já partindo do princípio que será utilizado noutros modelos da Nissan, bem como da Aliança, pelo que vamos vê-lo igualmente em modelos da Renault e da Mitsubishi.
Das baterias velhas fazer novas
As baterias do Leaf têm uma garantia de oito anos. Findo esse período, ainda possuem, em média, 70% da capacidade de carga. Mas, então, o que fazer com elas quando não assegurarem a desejada autonomia? A esta questão a Nissan responde com XStorage. Na prática, uma solução similar à Powerwall da Tesla, que se destina a armazenar a energia de quem, por exemplo, recorre a painéis fotovoltaicos para gerar a sua própria energia, seja em casa ou na empresa, com a Nissan a ter já instaladas mais de 1.000 unidades, prevendo atingir as 5.000 XStorage no primeiro trimestre do próximo ano e as 100.000 em 2020.
O objectivo é recarregar a bateria do XSotorage durante o dia, com ajuda da luz solar, para depois alimentar a casa a partir da energia acumulada – uma bateria de 40 kWh deverá satisfazer as necessidades de uma família de quatro pessoas, durante quatro dias –, sendo ainda capaz de recarregar as baterias do Leaf ao fim do dia, quando chega a casa. Tudo isto com custo zero, em termos de energia.
Segundo os responsáveis da Nissan, este fim para as baterias velhas é preferível ao da reciclagem, pois não só evita o dispêndio de energia na reconversão, como as emissões de CO2 que resultam no reaproveitamento dos materiais mais valiosos e na produção de novas.
Em Inglaterra, grande parte dos clientes dos XStorage usa os serviços da OVO Energy, uma empresa que fornece energia e gás e que foi eleita Fornecedor do Ano pelo terceiro ano consecutivo. O objectivo da OVO é encorajar os seus clientes a recorrerem às baterias do Leaf e do XStorage para normalizar os picos da rede nacional, carregando-as quando a energia abunda na rede e é barata, para depois a fornecer de volta, se não foi necessária, quando está em falta e é cara. De acordo com o responsável pela OVO, não só esta acção evita que o país tenha de recorrer tanto à geração de energia através do gás natural, derivados de petróleo e até a carvão, no caso do Reino Unido, como permite ainda que as famílias encaixem uma média de 700€ por ano, fruto do diferencial entre os valores de compra e venda de electricidade.
Coffee&Charge para dar e receber energia
Outras das novidades do Leaf tem a ver com o facto de o modelo estar equipado com um circuito de duplo sentido, o que significa que tanto pode carregar as baterias quando ligado à rede eléctrica, como a pode fornecer, se ligarmos o veículo à tomada lá de casa, ou à rede nacional – o que, em Portugal, ainda não é possível…
O objectivo é carregar o carro em casa, no período da noite, quando a energia é barata. À chegada ao domicílio, pode ligar o Leaf à rede doméstica, através do Coffee&Charge – um sistema desenvolvido pelos suíços da Evtec – retirando da bateria o que resta de energia, evitando consumi-la no período em que ela é mais cara e mais necessária para a família.
O Coffee&Charge permite regular o ritmo com que se abastece a casa a partir do carro e, mais do que isso, torna possível que se utilize energia barata, mesmo nas horas em que ela é mais cara.