Este artigo foi publicado originalmente em 2017, como perfil do líder do Paris Saint-Germain. É republicado agora, já devidamente atualizado, aquando da contratação de Lionel Messi pelo clube da capital francesa
“Estou muito feliz por Messi ter escolhido o Paris Saint-Germain e estamos orgulhosos em recebê-lo e à sua família em Paris. Ele não escondeu o seu desejo de continuar a competir ao mais alto nível e a ganhar troféus e, naturalmente, a nossa ambição como clube é fazer o mesmo. A adição de Leo ao nosso plantel de classe mundial dá continuidade a uma janela de transferências muito estratégica e bem-sucedida para o clube. Liderada pelo nosso excelente treinador e equipa técnica, espero que a equipa faça história juntamente com os nossos adeptos em todo o mundo”.
Foi com estas palavras que o líder do PSG recebeu, nem mais, nem menos, do que Leo Messi no seu clube. Mais um craque para ataque a Liga dos Campeões, mais um grande “negócio” do homem do Qatar. Mas, afinal, quem é Nasser Al-Khelaifi?
Bruno Raffaitin é o presidente do clube de ténis de Nice e recorda-se bem daquele miúdo do Catar que um dia, por se ter esquecido de alugar uma carrinha para levar os jogadores para um torneio, acabou por viajar apertadinho com o saco do equipamento nas pernas numa Renault Espace. “Nunca se queixou nem disse nada. E todos sabíamos que tinha dinheiro, mas fez sempre questão de não mostrar”, contou à So Foot sobre Nasser-Ghanin Al Khulaifi numa reportagem sobre o “Andre Agassi do Catar”. Assim, Al Khulaifi – o nome que surgia nas fichas de inscrição.
Al-Khelaïfi, nome pelo qual o dono do PSG é hoje conhecido, cresceu no seio de uma família de classe média do Qatar que teve durante várias gerações um negócio ligado à pesca de pérolas mas sempre demonstrou interesse pelo ténis. E fez carreira na modalidade, apesar de ter como ponto máximo da carreira o 995.º lugar do ranking de singulares do ATP. Era descrito como alguém reservado, educado, amável, persistente mas com um enorme mau perder. Como profissonal, ganhou 28 vezes e saiu derrotado por 73 ocasiões. Recebeu, em prémios, menos de 20 mil dólares nos mais de dez anos que passou nos courts. O ténis deu-lhe pouco em campo, mas tudo fora dele.
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Logo a começar, uma amizade que se revelaria fundamental para tudo o que alcançou após essa “reforma”: Tamim bin Hamad al-Thani, o emir do Catar (na altura ainda o príncipe herdeiro). Depois, toda uma vida social que lhe foi permitindo fazer e refazer uma rede de contactos que lhe permite ter uma vida onde tão depressa acorda em França como vai ter com a família a Doha e como no dia seguinte está a jantar com amigos de áreas tão distintas como o desporto (Rafa Nadal), o cinema (Leonardo Di Caprio) ou a política (Nicolás Sarkozy ou Maurício Macri).
Por influência de al-Thani, Al-Khelaïfi tornou-se líder do Qatar Investment Authority, um dos maiores fundos privados ligados ao desporto que tem como principal face o PSG, desde 2011. A recente contratação de Neymar, naquela que foi a maior transferência de sempre do futebol (222 milhões de euros, a que se segue outra que será efetivada a 1 de julho de 2018, Mbappé, que vai custar após um ano de empréstimo 180 milhões), é apenas o mais excêntrico de todos os investimentos feitos na equipa nos últimos seis anos. Ainda assim, como explicou numa rara entrevista ao El País, “ganhar muito dinheiro com um clube de futebol não é muito complicado”.
Em paralelo, o empresário, que começou a dar os primeiros passos nesse novo mundo desde 2003, é também CEO do BeIN Media Group, um autêntico império dos media (reforçado com os canais desportivos da Al Jazeera a partir de 2013) com uma rede de canais espalhada por 30 países no Médio Oriente, no norte de África, na Europa (Espanha e França), nos Estados Unidos e na Ásia e que se tem desenvolvido para o ramo do entretenimento, com produção e distribuição de conteúdos, como se viu pela compra da Miramax no ano passado.
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Avesso a questões políticas, apesar de ter sido nomeado ministro sem pasta do Catar no final de 2013, é sobretudo pela parte desportiva que Al-Khelaïfi se tem destacado, ao ponto de, num evento no início de agosto onde marcou presença com o português Antero Henrique em representação do PSG, ter colocado todos os meios de comunicação social em cima de si, secundarizando… Emmanuel Macron, o presidente de França. Que, curiosamente, como conta o El País é adepto do Marselha, ao contrário de Sarkozy, que foi várias vezes visto em pleno Parque dos Príncipes.
No entanto, esta semana trouxa o maior golpe em termos públicos a Nasser Al-Khelaïfi, que está a ser investigado pelas autoridades suíças por suspeitas de corrupção de Jérôme Valcke, antigo secretário-geral da FIFA no período de Sepp Blatter, por causa dos direitos televisivos dos Campeonatos do Mundo de 2026 e 2030. Isto depois de, enquanto membro do Comité Organizador do Mundial do Qatar, em 2022, ter sido alvo de algumas especulações a propósito da forma como o país conseguiu garantir os votos necessários para a organização do evento.
Nasser é ainda membro do Comité Executivo da UEFA depois de ter sido eleito pela Associação Europeia de Clubes (ECA) como um dos seus representantes. Já num seguundo mandato no comité é ainda o presidente da ECA.
O tenista profissional banal que, em média, ganhava um em cada quatro jogos tornou-se a terceira pessoa mais influente do Catar, apenas superado pelos líderes da Qatar Petroleum e da Qatar Airways. Depois de tantas vitórias fora de campo, sofre agora o primeiro break. Mas até que ponto isso será suficiente para perder um set? Ou mesmo, na pior das hipóteses, para sofrer um match point?
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