“Opção técnica. Achei que este era o melhor onze de acordo com o que era o nosso trabalho diário e o adversário. Sou treinador, tenho de decidir, não me importa o ruído que causa”, começou por dizer Sérgio Conceição na zona de flash interview da RTP. “Se vai ser sempre assim? Não posso dizer isso, não seria correto para com os outros. Não vou dizer que equipa vai defrontar o P. Ferreira. Se fizesse a equipa outra vez seria o mesmo onze, sem dúvida nenhuma, era o melhor para as características do adversário. Estou aqui para escolher, sou pago para isso. Achei que era o melhor onze e foi com ele que entrámos para ganhar”, acrescentou na conferência.

Sérgio Conceição não fugiu à pergunta que todos queriam saber: porquê trocar de guarda-redes num encontro tão importante da Champions, abdicando do jogador mais encontros realizados em provas europeias por um jogador que nunca tinha feito uma partida nas provas europeias? Não se alongou muito, respondeu como podia: “opção técnica”. Porque assim, no limite, não teve de dizer que José Sá é melhor do que Casillas no jogo aéreo, por exemplo (se quisesse falar de aspetos técnicos, entenda-se, o que não quer dizer que seja mesmo assim). Porque assim, sobretudo, não teve de explanar a hipótese de haver um problema disciplinar com o espanhol. E, em paralelo, porque assim não teve de encontrar uma terceira via como uma súbita lesão, pois nesse caso não faria o aquecimento nem estaria no banco de suplentes. Ou seja, disse o que podia.

José Sá não esteve bem no primeiro golo do RB Leipzig mas foi ganhando confiança no jogo (JOHN MACDOUGALL/AFP/Getty Images)

Vamos a factos: desde que chegou ao FC Porto, Casillas nunca tinha falhado nenhum dos 20 encontros oficiais em competições europeias, é o elemento mais experiente da equipa e tem uma preponderância tal que, antes do jogo, o lançamento da UEFA para o duelo com o RB Leipzig era feito recorrendo ao guarda-redes espanhol.

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Também nas redes sociais, onde costuma ser muito ativo, tudo parecia “normal”: anteontem deu os parabéns pelo aniversário a Vítor Baía (chamando-lhe “lenda”); ontem colocou uma mensagem de apoio a todos os que estão a sofrer com o flagelo dos incêndios em Portugal, nas Astúrias e na Galiza e outra em resposta a uma publicação da UEFA sobre os 166 jogos na Champions; hoje, à hora de almoço, postou uma imagem do jogo da noite. De repente, quando entrou no relvado, era para ajudar José Sá no aquecimento. E foi mesmo para o banco. Em contrapartida, José Sá, no seu Facebook, tinha colocado apenas uma imagem entre o jogo com o Lus. Évora e esta noite: ontem, numa fotografia onde está a rir com André André e o médico Nélson Puga após o treino de adaptação.

https://www.facebook.com/josesaoficial/photos/a.1003234263040248.1073741829.984022704961404/1778330002197333/?type=3&theater

Qualquer que seja o motivo, o mesmo será um teste à “blindagem” do balneário azul e branco nos próximos dias. Depois, no sábado, com o P. Ferreira, a escolha de Sérgio Conceição contará tudo o resto: é que, na Alemanha, o técnico tinha apenas dois guarda-redes à disposição; agora, já pode escolher entre José Sá, Casillas, Vaná e João Costa, todos inscritos pelo FC Porto na Liga. E qualquer que seja a opção, a mesma terá sempre o seu significado.

Certo é que, aos 24 anos, o internacional Sub-21 teve a primeira grande oportunidade para brilhar nos principais palcos: com passagens por Palmeiras, Merelinense e Benfica quando era mais novo, José Sá terminou a formação no Marítimo e por lá ficou entre 2012 e 2016, altura em que se transferiu para o FC Porto juntamente com Marega num negócio onde o Sporting também estava na lista de concorrentes.

Desde que chegou aos dragões, e excluindo encontros da equipa B, este foi apenas o oitavo jogo feito no conjunto principal, a maior parte nas taças (de Portugal e da Liga). Em paralelo, o guardião nascido em Braga, que foi vice-campeão europeu Sub-21 em 2015, já foi chamado aos trabalhos da Seleção por Fernando Santos.

Curiosamente, o número 12 do FC Porto, que fala publicamente e nas redes sociais como um “verdadeiro dragão” (o que lhe vale um especial reconhecimento por parte dos adeptos azuis e brancos), contou à revista Dragões que o seu ídolo no futebol é… Iker Casillas. Também o espanhol já tinha deixado rasgados elogios a José Sá: “A minha relação com ele é muito boa. Será um grande guarda-redes para o FC Porto e para Portugal”.

Muito se vai escrever até sábado sobre Iker Casillas e José Sá. Como se costuma dizer, é uma história que ainda pode dar água pela barba. Que mais não seja, no limite, por podermos estar a assistir ao “nascimento” de um novo guarda-redes português, conhecido pela sua farta barba, por troca com uma lenda mundial.