O caso amoroso de John Profumo com a dançarina Christine Keeler, que também mantinha uma relação com um adido militar russo, em plena guerra fria, levaram à queda do Governo de Harold MacMillan. Documentos classificados, divulgados agora pelos serviços de informações britânicos, revelam que o ex-ministro também manteve contactos próximos durante décadas com Gisela Winegard, uma espia alemã. As ligações perigosas de Profumo foram consideradas um risco para a segurança nacional britânica e forçaram a demissão do ministro, no início da década de 1960, escreve o Telegraph.
Profumo — que morreu em 2006, aos 91 anos — conheceu Winegard na década de 1930, ainda antes de a mulher se ter juntado aos serviços de informações alemães. E, pelo menos até à década de 1950, o ministro britânico da Guerra manteve-se em contacto com a espia. É isso que revelam os documentos desclassificados pelo MI5, entre os quais consta uma carta do MI6 (o ramo externo das informações da coroa) para Arthur Martin, que viria a ser designado responsável pela investigação ao então ministro.
O documento refere que, “apesar de não ser particularmente relevante para o caso atual [o envolvimento de Profumo com Keeler], o Geoffrey pensou que talvez gostasses de ter nos teus ficheiros a cópia de um relatório do nosso representante, de 2 de outubro de 1950, que faz referência a uma ligação entre Gisela Klein e Profumo, que começou por volta de 1933 e que não tinha, aparentemente, terminado no momento deste relatório“.
O mesmo documento, que o Telegraph consultou, descreve ainda o processo de candidatura de Winegard a um visto no Reino Unido. As secretas britânicas acreditavam que a espia alemã tinha “recentemente enveredado por atividades de chantagem” e que uma visita de Winegard ao Reino Unido, nesse período, teria alguma relação com essa suspeita. Profumo poderia ser o alvo dessa chantagem, apesar de as autoridades do país não fazerem qualquer referência ao então deputado conservador.
A espia foi expulsa do país em 1938 por ter violado as condições do seu visto, mas já nesse momento recaía sobre Winegard a suspeita de estar ligada aos serviços de informações de Berlim. O seu afastamento não impediu Profumo de se manter em contacto com a espia.
Durante os anos em que se relacionou com Profumo, a espia teve acesso a informação interna dos Tories, o partido do futuro ministro, que estaria no poder durante 11 anos até à demissão de Harold MacMillan. Em 1950, o marido de Winegard disse aos serviços britânicos que a mulher se tinha separado dele o marido “tinha descoberto que ela tinha vindo a receber cartas de John Dennis Profumo“, escritas “em folhas da Casa dos Comuns”.