Ídolos. Todos temos. O Zé Pedro não é meu ídolo, mas é um ídolo de como ser o Zé Pedro. Mais que um punk elegante, ele é um género de pessoa. Há um género de pessoa “tipo Zé Pedro”. Isso é a maior marca. Ser tão único, que numa espécie de catalogação, há um separador a dizer “Zé Pedro”.

“A morte é um dia que não chega ao fim”, ouvi bufar o António Lobo Antunes numa entrevista (sempre) genial. Este dia não chegou ao fim, mas nem o legado do Zé Pedro chega ao fim. As pequenas bandas de garagem terão a obrigatoriedade de conhecer sempre este rapaz. Tem um eterno carinho por quem começa. Impossível não reter como faz sentir bem qualquer jornalista estagiário, que tem a oportunidade de o entrevistar e na segunda vez que se encontram, o Zé Pedro sabe sempre linkar com a primeira e única vez de quando se encontraram.

Impossível não me espantar com as observações que faz sobre o Branko num breve encontro no amado Festival Paredes de Coura, e em breves momentos comenta detalhes bem concretos sobre o que o tipo da música de pretos anda a fazer pelo mundo. Impossível não reter como me ensina na sala de reuniões da Universal, a forma como nos 80s escolhiam a imagem das capas dos vinis: em cima de uma cadeira e no fundo da sala – “para ver-se o impacto”. Impossível não assinalar que é ele que me entende que um disco tem que ter máximo à volta 40 minutos – “olha o caso do Back to Black da Amy, né?”. Claro que é Zé. De música percebes tu, caramba. Tu é que és fundador da religião Xutos & Pontapés, o resto é lero-lero.

Sim, todo o texto é no presente. O Zé Pedro é fundamental para a cultura do meu país. Não há passado com gente deste calibre. São eternos. Estão sempre presentes. Amanhã ele vai abraçar cada um de nós e perguntar: então como estás? E a sorrir p’ra caraças.

Pedro Trigueiro foi jornalista, é manager e agente da produtora Arruada

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