Ao abrigo da Lei nº.2/99, de 13 de Janeiro, publicamos o direito de resposta enviado em nome José Ribeiro, ex-diretor do Jornal de Angola, a um artigo publicado pelo Observador.

DIREITO DE RESPOSTA

Li com grande surpresa e tristeza as declarações da Sra. Luísa Rogério, jornalista angolana, ao vosso jornal, no Especial “A liberdade de imprensa chegou a Angola, ou é fake news?”, quando se referem ao período em que desempenhei as funções de Director “Jornal de Angola”. Apenas nos últimos 10 anos a empresa Edições Novembro, que publica o “Jornal de Angola”, se modernizou a ponto de passar a dispor de um sistema biométrico. Portanto, a Sra Luísa Rogério só pode estar a falar desse período em que fui Director, pelo que me sinto visado nas suas críticas e ofendido na minha dignidade de gestor e jornalista. Nestes termos, por considerar desonestas, injustas e cobardes as declarações de Luísa Rogério, venho esclarecer o seguinte:

Durante os 10 anos do meu mandato como Director do “Jornal de Angola” (2007-2017), a Sra. Luísa Rogério recebeu por inteiro salários e regalias sem cumprir os mínimos deveres profissionais de jornalista. Em vez disso, e à custa de um estatuto especial de que poucos gozam na sociedade angolana, preferiu privilegiar “ofícios” alheios à prática jornalística, nomeadamente o sindicalismo, a política, e outros, como veremos. Essa sua conduta de nada fazer pelo jornal foi adoptada apenas por um consciente e evidente preconceito em relação a mim e a outros jornalistas (alguns portugueses) que, contra ventos e marés, e com o apoio e a compreensão da maioria dos colaboradores da empresa, lideraram com sucesso o projecto de renovação do “Jornal de Angola” que hoje é elogiado, tal era o estado de degradação em que estava o diário em 2007. A qualidade do jornal teria sido melhor se tivéssemos contado com o mais pequeno esforço de Luísa? Tenho muitas dúvidas que o tivesse, porque o legado nulo que ela deixou, durante esse mesmo período, como Presidente do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), sem qualquer mérito nem obra, talvez não tivesse acrescentado nada ao projecto. Em Angola, há muito falso jornalista.

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Por um triste episódio, vim a conhecer melhor a razão por que Luísa Rogério decidiu abandonar a Redacção e o jornalismo nesses anos em que dirigi o maior diário angolano. Nas eleições de 2012, a meu pedido, Luísa Rogério fez uma entrevista ao líder da UNITA, Isaías Samakuva. Depois de feita, em vez de entregar o texto ao jornal, foi queixar-se aos serviços de informação de que eu tinha decidido publicar uma entrevista a Isaías Samakuva no “Jornal de Angola”, como se entendesse isso como um crime e me desejasse ver crucificado. E depois da “delação”, partiu em viagem para o Brasil, sem dar satisfações a ninguém, nem ao jornal nem ao entrevistado. Quando o entrevistado reclamou, Luísa Rogério atribuiu, estranhamente, a responsabilidade ao Director. Até hoje, essa entrevista não foi entregue por Luísa Rogério, mas não foi por isso que muitas outras entrevistas deixaram de ser feitas a Isaías Samakuva, como se sabe. Muitas foram publicadas por mim. Esta atitude foi até destacada pela jornalista em causa, em determinada ocasião, como “muito corajosa” da minha parte. Porque será? As afirmações dela merecem hoje alguma credibilidade?

Nas eleições gerais deste ano de 2017, todo o país ficou a saber que Luísa Rogério, além de delatora de jornalistas, andou a negociar a sua candidatura a deputada e a sua suposta influência social com vários partidos políticos: a UNITA, a CASA-CE, o MPLA. Nada tenho contra o facto de Luísa Rogério pretender enveredar para a carreira política e sindical e abandonar o jornalismo, o que me enoja é saber que, para conseguir isso, tivesse ido mentir descaradamente a dirigentes do MPLA que eu não lhe publicava os textos de opinião no “Jornal de Angola” – textos que não produzia e nunca me entregou, e que hoje apareça a mentir ao “Observador”. É evidente que tal foi apenas mais uma invenção de uma alma doentia para tentar manchar o meu nome e o do jornal a que pertence para obter dividendos políticos, e sabe-se lá o que mais.

Como ex-Director do “Jornal de Angola”, quero deixar bem claro que estou muito orgulhoso do trabalho que fizemos nos últimos 10 anos no “Jornal de Angola”, tornando-o num dos melhores de África, apesar de (ou graças a) não poder contar com pessoas da dimensão de Luísa Rogério. Sempre pautámos a nossa conduta pela liberdade e pelos princípios do jornalismo. O que nos moveu foi sempre e unicamente fazer jornalismo, nada mais. Os leitores e anunciantes que nos brindaram com a sua confiança sabem disso. Nunca tivemos de esperar por orientações superiores ou negociatas com partidos políticos, com serviços de informação ou com embaixadas estrangeiras. Talvez Luísa Rogério não possa dizer o mesmo. Daí os seus ataques soezes aos jornalistas dignos desse nome, os mesmos que em Junho deste ano lançaram o novo projecto gráfico e editorial do “Jornal de Angola” que está em curso.

Agradeço a publicação desta carta, ao abrigo do direito de resposta.

Atenciosamente,

JOSÉ RIBEIRO

Jornalista angolano (há 42 anos)