O primeiro-ministro aproveitou a sessão de cumprimentos de Boas-Festas do Governo para levar uma prenda de Natal ao Presidente da República: o défice mais baixo da história da democracia pelo segundo ano consecutivo. A sorrir, Costa afirmou que esta quinta-feira já podia dizer “sem causar arrepios ao senhor ministro das Finanças” que o défice de 2017 “será inferior a 1,3%.”
António Costa lembrou ainda que este será o também “ano de maior crescimento desde o início do século“. É precisamente essa uma das principais razões para um défice tão baixo. Em abril, o Governo previa um crescimento de 1,8%, mas o ano deve fechar perto dos 2,6%, o que ajuda a atingir o défice mais baixo de sempre. A situação favorável de países da União Europeia, como a Espanha, fez com que aumentassem a exportações portuguesas para essas países — o que fomentou o crescimento (e a redução do défice).
O primeiro-ministro disse, a olhar Marcelo nos olhos: “Tem perante si um Governo que está confiante“. Costa prometeu que este é um executivo “ciente das suas responsabilidades, do bom caminho que ainda tem pela frente, mas que também tem uma enorme vontade de continuar a perseguir este caminho com pé firme, de forma a que esta caminhada se faça com segurança e, como temos conseguido até agora, superando sempre as metas mais otimistas“.
Marcelo Rebelo de Sousa chama a António Costa um “otimista irritante” e define-se a si próprio como “otimista realista”. Por isso, lá veio a indireta do chefe de Governo. O primeiro-ministro considera que todos os bons indicadores do país devem-se “aqueles que sabem que o otimismo reforça a vontade de seguir em frente“.
Costa lembrou ainda que tem “trabalhado em conjunto quer nas horas boas, quer nas horas más”, já que “toda a vida é feita de bons momentos e de maus momentos”. O ano de 2017 foi assim de “importantes sucessos”, mas também aquele em que o país viveu “traumaticamente a maior tragédia humana provocada por catástrofes naturais que cada um tem memória”.
Marcelo envia recado sobre a Autoeuropa: “Não se corra o risco de aventuras”
O Presidente da República retribuiu dizendo que o ano de 2017, “a nível das relações entre Presidente da República e Governo correu bem”. E prometeu: “Tem de correr bem e correrá até ao fim do mandato. Nesta legislatura e na próxima.”
Para Marcelo o mais importante não foi a boa relação entre Belém e S.Bento, mas foi a “sensatez do povo português”, que quis “estabilidade política”, mas também “estabilidade financeira”, tendo “interiorizado” aquilo que “não tinha interiorizado há 5, 10 ou 15 anos”: que o défice é uma “prioridade nacional”. Mas Marcelo avisa que o povo ainda quer mais: quer estabilidade social.
O chefe de Estado aproveitou para enviar um recado ao Governo sobre a Autoeuropa, que defende que necessita de “paz social”: “Os portugueses percebem que há empresas que pela sua importância, o emprego que envolvem até noutras empresas, pelo prestigio internacional, são empresas em que é importante que haja paz social. Que não se corra o risco de aventuras”.
O Presidente exige agora que o Governo não coloque os interesses pessoais ou partidários acima dos interesses do país: “Espero que no de 2018 que possa corresponder às legítimas preocupações dos portugueses. Que é por causa deles que aqui estamos. Não é para vanglorio pessoal, não é por uma questão de carreira , não é por questão de promoção económica, social ou pessoal. Tudo isso é secundário perante o serviço dos portugueses. Perante a mensagem muito clara que nos dão, compete-nos estar à altura dessa missão.” Ou seja: Marcelo avisa que o que importa são os portugueses, não a carreira política.