O presidente francês assegurou esta terça-feira que não permitirá a construção de uma nova “Selva” em Calais, o acampamento de imigrantes desmantelado em 2016, e defendeu uma maior participação de Londres na resolução dos problemas decorrentes da imigração.
Num discurso às forças policiais naquela cidade do norte de França, onde há décadas se juntam milhares de migrantes à espera de uma oportunidade de seguir para o Reino Unido, Emmanuel Macron destacou a “coragem” e a “generosidade” daquela cidade, segundo conta o Le Monde. E prometeu que não haverá um novo campo improvisado de refugiados e migrantes.
“Em nenhum caso vamos permitir que se reconstitua uma ‘Selva’ em Calais”, disse, utilizando o termo que durante anos designou o gigantesco bairro de lata onde viviam mais de 8.000 imigrantes e que foi desmantelado no final de 2016.
“Tudo foi feito para que a passagem ilegal não seja possível em Calais”, que “não é uma porta das traseiras de Inglaterra”, disse o presidente francês, repetindo que não será permitida a construção de uma nova “Selva” nem de “filiais”.
Macron aproveitou a ocasião para criticar algumas ONG presentes na zona, que acusou de utilizarem “mentiras e manipulações” ao “encorajarem homens e mulheres a ficar aqui e até a tentar atravessar o Canal [da Mancha]”. Por outro lado, o Presidente referiu-se também aos casos de alegados excessos policiais contra migrantes em Calais, para pedir à polícia uma “atitude exemplar” e assegurar que todos os abusos serão sancionados.
De acordo com o Libération, o chefe de Estado anunciou que o “acesso a alimentos e refeições, que são fornecidos hoje pelas associações” às centenas de pessoas que ainda se mantêm em Calais passará a ser assegurado pelo Estado francês. “Vamos encarregar-nos disso, de forma organizada, com pontos móveis. Sem tolerar qualquer instalação de acampamentos ilegais”, acrescentou Macron.
Críticas à política europeia
Emmanuel Macron considerou desejável “uma política europeia coerente”, que elimine “as insuficiências e incoerências” que permitiram que ocorressem “numerosos casos” em Calais.
Macron criticou especialmente o sistema de Dublin, segundo o qual os pedidos de asilo devem ser analisados no país pelo qual o refugiado entrou no espaço europeu. “O sistema de Dublin, tal como foi aplicado, é pleno de incoerências. De qualquer forma, ele não é nesta altura satisfatório”, disse. Frisou, no entanto, que o Protocolo de Dublin não deve ser substituído por um sistema simplesmente de sentido oposto, em que os imigrantes pudessem pedir asilo em qualquer país: “Não é uma solução viável, a curto prazo levaria à desresponsabilização dos países de entrada”.
“O que devemos fazer é organizar uma política europeia mais solidária, fora e dentro, e portanto aumentar os meios de controlo de fronteiras e ter mais coerência na política para lá das nossas fronteiras”, defendeu.
Reforma da lei de asilo e imigração em França
A dois dias de se reunir com a primeira-ministra britânica, Theresa May, numa cimeira franco-britânica em Sandhurst, no sul de Londres, Emmanuel Macron abordou alguns dos temas que quer trabalhar com os britânicos: “gerir melhor” a questão dos menores desacompanhados, “reforçar a cooperação policial” em Calais e “com os países de origem e de trânsito” e “constituir um fundo para apoiar os projetos importantes” para a região de Calais.
O Presidente abordou ainda linhas orientadoras da nova lei de asilo e imigração, que o seu Governo está a preparar, assegurando que quer “receber toda a gente”, reduzir os prazos de análise dos pedidos de asilo, proteger aqueles que são aceites, mas também expulsar os que forem recusados. “Há que garantir o retorno de quem não tem nenhuma possibilidade de se integrar na Europa”, disse.
Em 2017, França recebeu mais de 100 mil pedidos de asilo, o número mais alto no país dos últimos 40 anos. Contudo, o número continua abaixo dos 140 mil pedidos de asilo registados na Alemanha nos primeiros nove meses do mesmo ano.