Ao abrigo da Lei nº.2/99, de 13 de Janeiro, publicamos o direito de resposta enviado por Jorge de Sá Gouveia ao artigo publicado ao artigo do Observador “Jurado do Instituto do Cinema acusado de homofobia”:
“1 – O jornalista escreve a certa altura que “Em cartas enviadas ao ICA, a Rosa Filmes afirma que Jorge de Sá Gouveia, professor de argumento na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa entre 2004 e 2014, “humilhava os alunos em aula” e “fazia sistematicamente observações de intolerância e rebaixamento”. Três ex-alunos, que preferem manter o anonimato, disseram esta semana ao Observador terem ouvido Sá Gouveia proferir comentários depreciativos constantes dirigidos a alguns realizadores portugueses. Sobre a obra de João Pedro Rodrigues, confirmaram os alunos, Sá Gouveia afirmou na sala de aula: “Filmes de paneleiros, para paneleiros, financiados por paneleiros.”.
Este parágrafo é tendencioso e revela uma enorme falta de imparcialidade por parte do jornalista em questão, que mais parece estar a exercer propaganda do que jornalismo. A entrevista foi feita por e-mail pelo jornalista Bruno Horta que me enviou as sete perguntas no dia 17 de Dezembro.
A pergunta Nº3 que me foi enviada pelo jornalista reza: “A Rosa Filmes alegou junto do ICA que o senhor não tem condições de isenção e idoneidade para ser jurado do ICA porque enquanto professor de argumento na ESTC dirigiu a alunos comentários considerados homofóbicos e tinha um “difícil relacionamento com outros docentes”. Como comenta?”
O meu comentário foi: É absolutamente falso que tenha tido qualquer atitude homofóbica, racista ou xenófoba em toda a minha vida. Como pode a Rosa Filmes com algum resquício de seriedade afirmar tal enormidade? Qual a ligação entre a produtora Rosa Filmes e os alunos, que permite lançar falsas suspeitas sobre professores contratados pelo Instituto Politécnico de Lisboa? As acusações a serem verdade são gravíssimas e levariam no mínimo à instauração à época de um processo disciplinar. Nunca na minha vida fui alvo de um, mas gostaria de saber como sabe a Rosa Filmes o que se passou ou deixou de passar dentro das minhas aulas?
Sem direito a comentar a peça antes dela sair, o jornalista cita três alunos anónimos que põem na minha boca, num linguajar verdadeiramente abjecto que eu nunca usaria, a frase “Filmes de paneleiros, para paneleiros, financiados por paneleiros” citada por alguém que, segundo o jornalista “prefere ficar no anonimato”. Cobarde e convenientemente no anonimato, acrescento eu.
2 – Toda esta calúnia é desmentida por quase duas dezenas de ex-alunos meus que dão a cara (cópia dos e-mails em anexo). Os que não dão fazem-no por medo de retaliação por parte da Rosa Filmes. Indignados com o chorrilho de ofensas ao meu bom nome, alguns dos meus identificados ex-alunos chegam inclusive a pôr questões que o jornalista, curiosamente ou não, nunca põe e que seria: A quem interessa manchar a reputação deste professor?
3 – Citando as palavras da minha ex-aluna alemã da ESTC, a realizadora Astrid Menzel: “uma curta que escrevi num exercício seu também nunca mais me esqueci; a forma de inventar uma história a partir duma descrição de um lugar, escrito por um colega, mostrou-me a riqueza da minha imaginação e ajuda-me hoje em dia, não apenas a escrever uma historia a partir da própria experiência ou de muita pesquisa, mas de confiar no que vem enquanto escrevo. Sou grata pelo que aprendi consigo. Por essa mesma causa, não entendi na altura em que ouvi que o seu contrato não foi prolongado na ESTC, nem entendo essa agressão (especialmente de o fazer em público) que se passa neste momento. Não sei quem anda a jogar mal aqui, nem quem pode ter tanta frustração.
Lembro-me de ter ficado triste quando o seu contrato na escola não foi prolongado e nenhum de nós (alguns alunos com os quais mantive o contacto depois da escola) entendeu. Espero que esse assunto seja esclarecido em breve e de forma justa, para que não haja mais danos na sua reputação”.
Tivesse o jornalista a hombridade de me questionar sobre opiniões dos alunos, e ficaria a saber que a maioria desmentiria toda e qualquer acusação a propósito da minha conduta enquanto professor da ESTC.
4 – Mais à frente, o jornalista escreve: “Sá Gouveia nega tudo. “É absolutamente falso que tenha tido qualquer atitude homofóbica, racista ou xenófoba em toda a minha vida”, afirmou ao Observador. “Só alguém muito mal intencionado e que nunca tenha falado comigo é que pode afirmar que sou homofóbico”.
O que na verdade respondi foi esquartejado de forma a não incluir as minhas dúvidas sobre a sustentabilidade da acusação. Na resposta eis o que referi, para além do que foi citado: “Qual a ligação entre a produtora Rosa Filmes e os alunos, que permite lançar falsas suspeitas sobre professores contratados pelo Instituto Politécnico de Lisboa? As acusações a serem verdade são gravíssimas e levariam no mínimo à instauração à época de um processo disciplinar. Nunca na minha vida fui alvo de um.”
5- Continuando, o jornalista afirma que “A 2 de Outubro, o ICA recebeu uma primeira reclamação da Rosa Filmes, produtora dirigida pelo realizador Joaquim Sapinho, que é também professor na Escola Superior de Teatro e Cinema. A missiva dirigia-se a Alda Barroso e punha em causa a “isenção e a imparcialidade” de Sá Gouveia como membro do júri, apresentando o facto de o contrato deste com a Escola de Teatro e Cinema não ter sido renovado em 2014, por decisão do conselho científico da instituição (cinco votos favoráveis, três contra e dois em branco)”.
É Falso. Na referida carta, a Rosa Filmes afirma que eu fui despedido por votação unânime, o que é duplamente falso. Nem eu fui despedido nem foi por unanimidade.
6- A devassa em relação à minha pessoa continua quando o jornalista põe, mais uma vez na minha boca, declarações indignas de anónimos, segundo as quais eu teria dito “Não preciso desta escola de putas e paneleiros para nada”. E continuou na sua escrita: “O ambiente nas aulas deste professor era “tenso” e os alunos recebiam “ameaças gratuitas” de que seriam “chumbados” ou “agredidos fisicamente”. “Vou-te aos cornos” seria uma expressão comum proferida por Sá Gouveia, garantem os antigos estudantes, dois da mesma turma de 2013/2014 e um terceiro que terminou a licenciatura há mais de uma década. “Não eram aulas, eram insultos e provocações durante duas horas”, classifica um deles”. Resta dizer que nunca me foi pedido um comentário a estas calúnias por parte do jornalista, mas mais uma vez ficam os depoimentos de ex-alunos (provas em anexo), não só desse ano, mas de quase todos os dez anos em que dei aulas na ESTC e dos cerca de cinco em que leccionei na UAL.
Estes alunos declaram: “para mim bastou-me ler de onde vinham as acusações para perceber qual a índole do artigo. O que lhe posso dizer ? Sabe tão bem quanto eu que são acusações sem fundamento. Nunca me senti alvo de provocações ou de ameaças numa aula sua, como é óbvio. Desafiada a fazer mais e melhor, sim, claro, e ainda bem. E ao mesmo tempo, sem nunca ter sido aluna do Sapinho, nunca me senti tão rebaixada quanto quando tive que ir assistir a uma aula dele… e nem foi preciso insultar-me. É lamentável que tenha que lidar com uma situação destas” (Bárbara Janicas, ESTC que também cita o Professor Sapinho), ou “Eu, Ines Duarte, gostava logo a partida de dizer que, tanto quanto sei, as acusações feita naquele artigo são absolutamente falsas. Como sua ex-aluna nunca me aconteceu, nem presenciei ataques pessoais, descriminação fosse de que tipo fosse, ou ameaças físicas ou de chumbo. Ou ainda “Se bem me lembro, as aulas eram de três horas, talvez este aluno esteja um pouco baralhado. Nunca ouvi um insulto ou uma provocação por parte do professor dirigido a um colega meu. Aprendi imenso, As suas aulas inspiraram-me e colocaram-me no melhor lugar da sala de cinema para aprender a ver mais e melhores filmes. Será sempre para mim uma referência como professor e como pessoas” (Bernardo Candeias ESTC).
Isto é apenas uma pequena amostra de cerca de uma vintena de e-mails recebidos após a leitura do artigo por parte de alunos meus.
7 – Ainda sobre a acta, sobre a qual haveria muito a dizer, o jornalista escreve: “Na ata que regista a decisão, os membros do conselho científico criticaram o “comportamento ético” de Sá Gouveia “face a outros docentes e à escola” e deram nota do “difícil relacionamento com outros docentes”. O documento que forneço contradiz a acta no sentido em que, quando foi preciso redigir um novo regulamento para os exercícios da Escola (os filmes) o meu nome foi proposto por essa mesma Comissão para representar a área de Argumento. Duvido que isso fosse possível se a minha relação com os meus pares fosse difícil.
Mais, quando o jornalista escreve que: O presidente da ESTC, João Maria Mendes, recusou responder a um conjunto de perguntas enviadas esta semana pelo Observador. Comentou que “a presidência não valoriza o teor de conversas de corredor, nem pauta a sua ação e decisões por rumores ou relatos difíceis de comprovar.” O que sugere nunca ter havido investigação às queixas dos alunos. O mesmo responsável confirmou que o afastamento de Sá Gouveia da ESTC se deveu a uma avaliação negativa feita pelos pares quanto às competências pedagógicas e científicas” .
Mais uma vez, o jornalista deveria ter feito o trabalho de casa e verificar que foi o mesmo Professor Doutor João Maria Mendes que me contratou para ser seu assistente na UAL em 2001 e depois pela minha contratação em 2004 para a Escola Superior de Teatro e Cinema.
Duvido que um presidente de Conselho Científico de um estabelecimento do IPL contrate para o seu corpo docente alguém que terá dito que eu teria “falta de competências pedagógicas e científicas (foi meu orientador de tese quando concorri à bolsa de Investigadores da FCT) e reservas quanto à minha “ética e deontologia”, uma vez que me convidou para ser professor em dois estabelecimentos de ensino superior distintos.
8 – Quando o jornalista acrescenta (e atenção que nunca fui questionado pelo mesmo sobre isso) que: “Também no Facebook – já não em mensagens privadas, mas em comentários públicos, consultados pelo Observador – Sá Gouveia tem utilizado calão para se dirigir a vários realizadores, um dos quais Carlos Conceição, a quem acusou de plágio em 2010.” Convido-o a ver a cena final do primeiro episódio da 1ª temporada da série BIG LOVE da HBO (2006) e a cena dos sprinklers da curta “O Inferno” de Carlos Conceição, e tirar daí as suas conclusões. Também talvez não seja má ideia comparar o episódio-piloto da série CALIFORNICATION da Showtime (2007) com alguns excertos do filme Carne (2010) do mesmo autor.
9 – Noutra parte da notícia, o jornalista escreve: “Como Joaquim Sapinho, da Rosa Filmes, foi um dos professores que votaram pela não renovação do contrato de Sá Gouveia com a escola, a produtora entende que este não pode avaliar os seus projetos, além de que um dos projetos a concurso consistia numa história sobre homossexuais.” esquecendo-se de citar a minha resposta por escrito em que afirmo em duas ocasiões: “a votação do conselho científico é SECRETA. Não me teria sido possível saber quem votou contra, a favor ou se absteve nesse processo. Só soube que o Sr. Sapinho votou contra mim a 2 de Outubro de 2017, através da carta que a Rosa Filmes dirigiu ao ICA a pedir a minha destituição do júri, e que já teve resposta por parte dessa entidade. Por outro lado não existe qualquer tipo de amizade ou inimizade entre mim e o Sr. Sapinho. Em dez anos de ESTC devo ter falado com ele nem uma hora, dado que o Sr. Sapinho é professor de Realização e eu era professor de Argumento, e não tínhamos amigos em comum”. Será ainda de reforçar que o júri foi composto por três elementos idóneos, e uma presidente do júri que obviamente nunca participariam numa cruzada anti-homossexual.
10 – Finalmente ,o jornalista escreve que: “Um ex-aluno de Sá Gouveia na ESTC garante ao Observador que o docente manifestava com frequência “um discurso de ódio contra homossexuais, contra colegas e contra realizadores” e disso foi dado conhecimento ao diretor do departamento de cinema da escola, José Bogalheiro, atual vice-presidente da escola. Mas não houve consequências. Relata ainda que há três anos, frente a vários professores, incluindo Sá Gouveia, alunos de uma turma leram um manifesto contra a conduta deste e de outros docentes, mas sem referências a nomes” esquece-se de referir que essa petição foi desconsiderada porque não era de todo unânime, muitos alunos recusaram-se a assiná-la por causa das inverdades que continha, e que se bem me lembro era um documento generalista que não fazia sequer referência ao meu nome.
Em súmula todo o artigo não é mais que uma néscia tentativa de manchar a reputação de alguém que dedicou grande parte da sua vida ao Cinema. Como diz um ex-aluno da ESTC que não requer anonimato (Luís Marques da Cruz): “Parece-me que está a ser vítima de um ataque deliberado, por parte de pessoas que não lhe desejam bem, e que não olham a meios para atingir os seus fins. Pessoalmente, estou e estarei sempre pronto a desmentir, com base na minha experiência, relatos anónimos como aqueles que surgem no artigo do Observador.
Em face do exposto, e nos termos da Lei, fica o “Observador” obrigado a publicar a presente resposta com o mesmo destaque que foi dado à notícia em causa, bem como eliminar a notícia referida da plataforma electrónica “ Observador”.
Com os melhores cumprimentos,
Jorge de Sá Gouveia
Reservo-me ainda, o direito de recorrer às instâncias competentes para apuramento de responsabilidade civil e criminal por parte da vossa publicação.”