Perto de 50 mil pessoas manifestaram-se este domingo em Salónica (norte da Grécia) para contestar o uso da palavra “Macedónia” para designar o país que alcançou a independência da ex-Jugoslávia em 1991, um diferendo antigo entre Atenas e Skopje.
O protesto em Salónica, capital da província grega Macedónia, foi apoiado por vários grupos nacionalistas gregos, incluindo da extrema-direita como foi o caso do partido Aurora Dourada, alguns sacerdotes e grupos da diáspora.
“Estão cerca de 50 mil pessoas” nas ruas, afirmou, em declarações à agência noticiosa francesa France Presse (AFP), um porta-voz da polícia local, indicando que este número é uma “primeira estimativa”.
Este número ultrapassa as estimativas lançadas pela comunicação social grega, que avançou que o protesto deste domingo iria contar com uma adesão de cerca de 30 mil pessoas, muito longe do milhão de pessoas que em 1992 saiu para a rua para contestar.
O protesto de 1992, um ano depois da independência da Macedónia da República Federal Socialista da Jugoslávia, marcou também o início da crise diplomática entre Atenas e o seu pequeno vizinho dos Balcãs, que atualmente se desdobram em esforços diplomáticos para resolver este diferendo que dura há 26 anos.
Este diferendo tem comprometido os desejos de Skopje em integrar a União Europeia (UE) e a NATO.
“A mobilização das pessoas excedeu todas as expectativas”, disse à AFP Irini Leonardou, membro da comissão organizadora da manifestação.
“Exigimos que o termo ‘Macedónia’ não figure no nome (…) e isto não é negociável”, disse o escritor, de 59 anos.
A Macedónia já é reconhecida sob este nome por vários países como os Estados Unidos, China, Rússia ou Reino Unido. Por outros é designada como Antiga República Jugoslava da Macedónia.
Na passada quarta-feira, a Grécia e a Macedónia encontraram-se sob a égide da ONU em Nova Iorque para tentar resolver este diferendo.
Na sequência de recentes declarações de Skopje e Atenas sobre a possibilidade de um entendimento, o enviado da ONU Matthew Nimetz decidiu reunir as duas partes.
No início de janeiro, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, admitiu que o contencioso poderia ser solucionado no primeiro semestre de 2018.
“Existe uma possibilidade de solução caso as intenções dos nossos vizinhos sejam sinceras. Os próximos dias vão esclarecer se podemos dar um passo decisivo”, disse Tsipras durante o primeiro conselho de ministros de 2018, numa alusão às reuniões bilaterais previstas para as próximas semanas.
O primeiro-ministro grego assinalou então que a eventual resolução do conflito significará “o início de uma nova era de cooperação e de paz nos Balcãs”.
Em paralelo, e numa entrevista concedida à televisão privada grega ALPHA, o primeiro-ministro macedónio, Zoran Zaev, frisou o seu desejo de pôr termo a esta prolongada disputa e reafirmou que não considera da herança de Alexandre o Grande (Alexandre Magno) exclusiva do seu país.
“Julgo que Alexandre o Grande deve ser o elemento que nos une e não um tema de divisão”, assinalou, numa referência a um dos principais contenciosos entre os dois países vizinhos e relacionada com a herança cultural do antigo reino macedónio (século IV a. C.).
Zaev reafirmou ainda que a prioridade de Skopje consiste na adesão à UE e NATO.
O social-democrata, que venceu as eleições de junho de 2017 face ao seu adversário conservador Nikola Gruevski, reafirmou em diversas ocasiões o desejo de relançar o diálogo entre os dois países.